Com reestruturações e payout de 75%, BR Partners luta para brilhar em 2025
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Com os juros avançando para 15% ao ano em 2025, um pequeno banco de investimentos - com R$ 1,39 bilhão de valor de mercado e quase 220 funcionários - sentirá a desaceleração das receitas.
Mas não se engane. Apesar do porte, o BR Partners (BRBI11) já provou resiliência aos diversos ciclos econômicos brasileiros e espera repetir a façanha em 2025. Para analistas, a ação é promissora para dividendos e valorização no médio e longo prazo, graças ao modelo de partnership, em que parte da remuneração variável dos sócios ocorre via dividendos.
Em 2024, o banco lucrou R$ 193,7 milhões, alta de 24,9% ante 2023. Para 2025, o cenário macroeconômico traz incertezas, e o lucro pode crescer menos ou até desacelerar. "Será um ano mais difícil, mas não ruim. Comparado a 2024, tende a ser mais fraco", diz Vinicius Carmona, diretor de Relações com Investidores do BR Partners, ao UOL.
As receitas de algumas linhas de negócio vão cair com os juros altos, mas o impacto no lucro pode ser amenizado se o banco fechar um grande negócio no decorrer do ano. Já os dividendos serão menores que em 2024, mas ainda robustos.
Vale investir no BR Partners em 2025? Veja o que esperar:
Comportamento das linhas de negócio

Segundo Carmona, fusões e aquisições devem esfriar em 2025 devido aos juros altos. Apesar de ter vários projetos no radar (pipeline), muitos devem ser adiados para os próximos anos. Com a Selic elevada, empresas priorizam eficiência e corte de custos.
Nas emissões do mercado de capitais, que movimentaram R$ 10,5 bilhões em 2024, a expectativa do BR Partners é de queda para R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões. Emissões totais do mercado, que chegaram a R$ 700 bilhões, devem voltar ao padrão de R$ 400 bilhões. "Muita empresa captou recursos em 2024 para manter caixa confortável neste ano", justifica Carmona. Apesar da queda no volume de emissões, ele afirma que a receita pode se manter atrativa pela cobrança de taxas maiores nas operações.
A reestruturação de dívidas e recuperações judiciais serão o grande destaque nos negócios do BR Partners em 2025. "O perfil agora são empresas regionais e de capital fechado, de setores como agronegócio, varejo e energia. A rentabilidade, contudo, será menor do que com grandes companhias no passado", diz Carmona. Nos últimos anos, operações de reestruturação e recuperação judicial de companhias como Light (LIGT3) e Marisa (AMAR3) engordaram o caixa do BR Partners. A receita este ano deve ser um pouco menor.
Já na gestão de fortunas, há otimismo. O setor movimentou R$ 5,2 bilhões em 2024 e pode crescer até R$ 8 bilhões em 2025. "Nosso networking estratégico com executivos e sócios nos dá vantagem. Vamos crescer com força", conclui.
Incerteza com ROE
O BR Partners ainda não tem uma projeção clara para o ROE (Retorno sobre Patrimônio Líquido) em 2025. Em 2024, o indicador foi de 23,8%, muito robusto e superando o do Banco do Brasil (21,4%) e Itaú (22,1%).
Para este ano, Carmona diz que o ROE pode variar entre 15% e 25%, mas deve ficar acima do custo de capital, próximo de 15%. "Desde 2009, nosso objetivo é rentabilizar o negócio em diferentes ciclos econômicos", reforça.
O banco busca reduzir custos para manter o ROE acima de 15%, embora garanta que a rentabilidade será inferior à registrada em 2024. A recuperação do ROE deve vir em 2026. "Quem investe no BR Partners precisa pensar no longo prazo, porque se olhar apenas dois trimestres pode ficar descontente", alerta Carmona.
Dividendos e payout
Mesmo com a queda em algumas receitas e um ROE mais contido, os dividendos do BR Partners devem seguir atrativos em 2025, embora menores que em 2024, quando o banco distribuiu R$ 211 milhões, acima do lucro líquido de R$ 193,7 milhões, resultando em um payout (parcela do lucro destinada a proventos) de quase 110%.
Carmona explica que o banco pagou dividendos extraordinários em 2024, usando reservas de lucro, devido ao excesso de capital e diante do receio de tributação futura dos dividendos. Para 2025, Carmona afirma que o payout deve ficar entre 70% e 75% do lucro, mantendo-se elevado, desde que não haja necessidade de recapitalização da empresa.
Dividendos extraordinários não estão previstos, mas podem ocorrer no fim do ano, se o caixa permitir. O banco também não pretende antecipar proventos novamente, pois agora considera improvável uma tributação de dividendos no curto prazo, dada a baixa popularidade do governo.
O BR Partners paga apenas dividendos, sem uso de juros sobre capital próprio, e pretende manter essa política. Com baixa valorização das ações, Carmona espera um dividend yield (retorno em dividendos) elevado para BRBI11 em 2025, dada a relação com o preço dos papéis.
Custos e despesas
Como parte da remuneração de funcionários e sócios está atrelada ao desempenho do BR Partners, cortes de custos devem ocorrer em 2025.
Carmona destaca que os ajustes serão feitos principalmente nas remunerações variáveis, respeitando o limite de 30% da receita líquida para salários e bônus.
Porém, o banco ampliou a equipe de gestão de ativos no último ano, o que pode levar a um gasto absoluto levemente maior. "Não necessariamente a redução de despesas de pessoal vai ocorrer na mesma velocidade que a queda de receitas do banco", afirma.
Reserva de remuneração de capital
Assim como as seguradoras que mantêm recursos rendendo em uma reserva, geralmente com rentabilidade atrelada à taxa básica de juros, o BR Partners também possui uma reserva de remuneração de capital, que inclui patrimônio líquido e produtos de dívida, como debêntures e CRIs (Certificado de Recebíveis Imobiliários).
Em 2024, com um CDI (Certificado de Depósito Interbancário e principal indexador da renda fixa) médio de 10,5%, essa reserva representou 20% das receitas do BR Partners. Para 2025, Carmona espera que a reserva corresponda entre 25% e 30% das receitas do banco, considerando um CDI médio de 13,5% a 14%.
O que o mercado opina
Apesar de um ano desafiador, a maioria dos analistas permanece otimista com BR Partners (BRBI11) e recomenda compra. Os dividendos, embora modestos, devem superar o mínimo de 6% de dividend yield esperado para quem busca renda passiva no longo prazo.
Evandro Medeiros, analista da Suno Research, recomenda compra, projetando um dividend yield de 8% para este ano, com payout de 63% do lucro. Ele sugere segurar a ação por muitos anos para usufruir de valorização e dividendos. "O acionista não deve focar nos números de 2025 e sim nos resultados sustentáveis do banco ao longo dos anos", diz.
Milton Rabelo, analista da VG Research, prevê dividend yield de 10% e acredita que o BR Partners atravessa bem períodos de turbulências econômicas. Ele enxerga as ações baratas, com potencial de valorização caso os riscos macroeconômicos não se concretizem de forma negativa em 2025.
Marco Saravalle, analista e sócio-fundador da MSX Invest, espera um ROE acima de 20% em 2025 e dividend yield de 11%, acreditando que as ações ainda têm espaço para valorização. Ele trabalha com um payout de 75% do lucro para distribuições.
Sergio Biz, analista do GuiaInvest, vê o banco como boa opção para quem busca dividendos no médio e longo prazo, com expectativa de dividend yield de 7% a 8% em 2025, mas espaço limitado para valorização. "O lucro pode desacelerar em 2025, mas deve voltar com força em 2026", aponta.
Bruno Oliveira, analista do Vida de Acionista, é o mais cético e recomenda manutenção da ação, mas não ampliar investimentos. Ele espera payout de 70% a 75%, com dividend yield de 7,3%, equivalente a R$ 1,04 por papel, acreditando que BRBI11 tem pouco espaço para valorização em 2025. "Não recomendo para quem está começando, porque a ação é mais frágil e cíclica do que um papel de bancão, tipo Banco do Brasil e Itaú", observa.
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