Xô, bancão! Veja empresas e bancos menores com bons dividendos para 2025
O ano de 2025 será desafiador para os bancos brasileiros, que podem ser afetados pelo aumento da inadimplência e ver seus lucros e dividendos pressionados. Alguns, com carteiras de crédito robustas e que já trabalhavam com uma baixa inadimplência, podem vir a surfar com ganhos de spread (diferença entre o dinheiro captado e emprestado).
A recomendação de analistas diante deste cenário é tentar investir em instituições consolidadas e de grande porte. Afinal o ditado, "muito grande para falir", pode fazer sentido diante de um ciclo de juros elevados.
Apesar disso, ainda é possível encontrar boas oportunidades em bancos de pequeno porte ou regionais. A escolha, contudo, exige cautela.
Esta coluna consultou 8 casas de análise para identificar quais são as melhores oportunidades para garantir dividendos do setor bancário em 2025. Nesta outra reportagem, você pode conferir as recomendações entre os bancões.
Apresentamos a seguir, o que os analistas identificaram como boas alternativas para garantir dividendos nos bancos menores e em outras empresas do setor financeiro. Veja abaixo:
Juros e bancos, uma relação complexa
Quando os juros sobem, existe a crença de que os bancos podem rentabilizar mais, dado que vão cobrar taxas maiores para emprestar dinheiro aos clientes. Além disso, os investidores tendem a deixar o dinheiro parado em ativos mais conservadores como a renda fixa, entre estes os CDBs (Certificado de Depósito Interbancário), emitidos pelos bancos, proporcionando maior fluxo de recursos nas instituições financeiras.
Contudo, nem tudo são flores para os bancos. O custo para eles captarem dinheiro no mercado também aumenta, porque provavelmente terão que oferecer aos investidores taxas acima da Selic, em torno a 15% e 16%, reduzindo assim, em alguns casos, ganhos com spreads (diferença entre recurso captado e emprestado), explica Bruno Oliveira, analista CNPI do Projeto Vida de Acionista. Também há a possibilidade de ganhar com os spreads, mas não se aplica necessariamente a todas as instituições.
Outro vilão é o aumento da inadimplência. Com uma inflação ainda elevada e juros altos, os clientes dos bancos podem apresentar dificuldade de honrar com seus empréstimos e financiamentos. O risco é maior em segmentos mais vulneráveis como famílias e pequenas empresas.
Na inadimplência, inclusive, conta muito o histórico do banco em anos passados. Segundo Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, instituições que historicamente tem boas carteiras de crédito, com inadimplência baixa, devem ter um bom desempenho operacionalmente durante a alta dos juros em 2025. "Para os bancos que já carregam um problema de inadimplência alta, a alta dos juros pode piorar o problema", comenta.
Outro impacto perceptível da alta dos juros é a desaceleração do crescimento das carteiras de crédito que, segundo Quaresma, deve ser comum principalmente entre os bancões, por conta do custo de capital maior e piora da inadimplência.
Oliveira lembra que a redução das carteiras de crédito ocorre pelo desaquecimento da economia. Como os juros estão tão altos, a população opta por fazer menos empréstimos e financiamentos, reduzindo assim a procura por crédito.
Quaresma cita ainda os resultados da tesouraria dos bancos - área responsável pela entrada e saída de recursos e a organização dos gastos. Segundo a analista, diante da volatilidade do câmbio, bolsa de valores e curva de juros fica mais difícil gerir resultados de tesouraria.
Quais são as oportunidades em bancos menores?
Nem só de bancão vive o investidor, os analistas consultados por esta coluna também fizeram recomendação de alguns bancos médios e pequenos para quem busca dividendos em 2025. No entanto, fazem a ressalva, que são apenas indicados para aqueles investidores que já possuem uma certa experiência no setor. Se você é iniciante, talvez o melhor seja permanecer no "feijão com arroz" e investir em bancões.
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Quero receberA dica de Victor Bueno, analista da Nord Research, é pelo BR Partners (BRBI11), um banco com valor de mercado de apenas R$ 1,425 bilhão. Segundo o analista, o banco trabalha no mercado de investimentos, em áreas estratégicas como Wealth Management (gestão de patrimônio de famílias ou empresas), Special Situations, por exemplo com ativos em reestruturação. Além disso, o BR Partners atua no mercado de capitais, com emissões ou auxiliando em IPOs (abertura de capital), fusões e aquisições e até originação e distribuição de títulos de renda fixa.
Bueno destaca que se trata de uma small cap (ação com menor valor de mercado na bolsa) que deve continuar entregando bons dividendos em 2025, principalmente porque possui um modelo de partnership (parceria) na qual acionistas controladores exigem os dividendos, o que acaba beneficiando também os investidores minoritários.
Para 2025, a expectativa é que o dividend yield (retorno em dividendos) do BRBI11 seja entre 9% e 10%. O BR Partners manifestou recentemente ter receio pela tributação de dividendos, o que levaria a acelerar a suas distribuições de proventos em 2025, beneficiando ainda mais os investidores.
Outro banco citado pelos analistas é o Banco ABC (ABCB4) que atua concedendo crédito apenas para empresas, de grande porte e do segmento middle- com faturamento anual entre R$ 30 milhões e R$ 300 milhões.
Segundo Renato Reis, analista da Blue3 Research, leva mais tempo para a inadimplência chegar ao segmento de empresas, geralmente em períodos de juros elevados é esperado que os mais afetados sejam as pessoas físicas ou empresas de pequeno porte. "Apenas se tiver uma crise econômica muito forte no Brasil, com falência de empresas, o banco ABC seria afetado. Mas isso demoraria para ocorrer e seria em um cenário de muita dificuldade como o visto em 2021", comenta Reis.
É por conta dessa segurança que o Banco ABC possui uma rentabilidade menor do que bancões. Afinal, não tem como ganhar muito emprestando dinheiro para bons pagadores. Em contrapartida, há uma certa previsibilidade para os proventos. O banco costuma remunerar os investidores com juros sobre capital próprio e trabalha com um payout próximo a 40%. Para 2025, Reis espera um dividend yield de 8%.
Ainda neste grupo, Rafael Ratto, analista do AGF, cita o Banrisul (BRSR6), que estaria negociando com um desconto de 60% em relação ao seu valor patrimonial, o que o analista enxerga como exagero, mesmo com a baixa rentabilidade e eficiência da instituição. O banco passa por um processo de reformulação para recuperar fundamentos.
O analista do AGF destaca que o Banrisul conseguiu sobreviver em 2024, mesmo enfrentando momentos difíceis como as enchentes no Rio Grande do Sul que impactaram a instituição. Segundo Ratto, o Banrisul não entrega nem a metade da rentabilidade, medida pelo Retorno Sobre Patrimônio Líquido (ROE), de grandes bancos como Itaú e Banco do Brasil. O que significa que o Banrisul teria bastante espaço para evoluir e melhorar seu desempenho em 2025.
Ratto acredita que o Banrisul trabalhe com um payout entre 40% e 50% do lucro destinado a proventos em 2025. Com isso o dividend yield ficaria entre 7,5% e 9%.
Oportunidades no setor financeiro
Fora dos bancos, mas ainda no setor financeiro, duas empresas se destacam como oportunidade para garantir bons dividendos em 2025.
Uma delas é a holding Itaúsa (ITSA4), que investe no Itaú Unibanco (ITUB4), Alpargatas (ALPA4), Dexco (DXCO3), CCR (CCRO3), Aegea Saneamento, Copa Energia e Nova Transportadora do Sudeste (NTS).
Apesar de ter um portfólio diversificado, a Itaúsa ainda tem uma forte exposição ao Itaú, que representa praticamente 90% dos resultados da holding. A companhia também tem como prática repassar integralmente todos os dividendos recebidos do Itaú aos investidores, utilizando os dividendos das outras subsidiárias para bancar custos e investimentos.
Como é esperado uma distribuição extraordinária de dividendos do Itaú em 2025, os analistas enxergam que a Itaúsa também deve entregar dividendos elevados, entre 6,5% podendo chegar a 10,5%.
Ratto, do AGF, elogia como a Itaúsa conseguiu reduzir sua dívida nos últimos anos, alongando alguns valores a médio prazo e com amortizações que vão até 2028. Com dívida controlada, a Itaúsa fica mais confortável para encarar um cenário de juros elevados. "Isso evidencia a expertise dos seus executivos, se traduzindo em aumento de lucros e rentabilidade", comenta o analista.
A holding também está descontada e possui ineficiências fiscais que devem ser resolvidas até 2027, diante da reforma tributária, diz Ratto. O que vai impactar positivamente o resultado da companhia.
Entre os pontos de atenção, Oliveira aponta para o desempenho das outras empresas investidas pela holding diante de um cenário macroeconômico desafiador, o que poderia deixar o resultado da Itaúsa menos interessante. Vale lembrar que empresas como Alpargatas e Dexco não têm um bom desempenho com juros elevados. Embora, o cenário mais provável seja de bons resultados da Itaúsa em 2025.
Outra companhia apontada como oportunidade pelos analistas é a B3 (B3SA3), ação da bolsa brasileira, que pode entregar um dividend yield de 8,5% em 2025.
Apesar das pessoas investirem menos em renda variável durante períodos com juros elevados, o que diminui a receita da B3, a ação estaria muito barata e não dá para ignorar, avalia Reis, da Blue3 Research.
A B3 também consegue remunerar de forma indireta os seus acionistas, fazendo recompras de ações, o que acaba reduzindo o número de ações no mercado e aumentando o valor dos dividendos proporcionais para cada investidor.
Segundo Oliveira, a B3 é uma das empresas que mais recompra ações no mercado. A companhia também tem planos de diversificar sua receita, capitalizando em outras áreas como renda fixa e crédito, para depender menos da renda variável.
Para 2025, o payout apenas com dividendos ou juros sobre capital próprio deve ser em média de 100%, abaixo dos 105% estimados para 2024. Já a perspectiva de distribuição do lucro líquido da B3, que além dos proventos inclui recompras da ações, deve variar entre 90% e 110% em 2025, segundo informações da companhia.
O que diz o mercado?
A coluna chegou a consultar oito casas de análise para entender as preferências no setor bancário e financeiro para dividendos em 2025. Além destas, levantamento exclusivo do TradeMap para o UOL mostra o consenso do mercado para o dividend yield (retorno em dividendos) e preço-alvo (preço até o qual a ação pode se valorizar) em 2025 para empresas do setor. Foram consideradas projeções de 22 instituições como bancos, corretoras e casas de análise.
As instituições que lideram em maiores dividend yields para 2025 são Banco do Brasil (BBAS3), B3 (B3SA3), Banrisul (BRSR6) e Itaúsa (ITSA4), todos com potencial de entregar dividendos de dois dígitos. Veja abaixo:
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