Elétricas viraram patinhos feios dos dividendos? Veja as boas e baratas
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Veneradas pelos investidores que buscam dividendos, as empresas elétricas sempre foram uma escolha óbvia para uma carteira de renda passiva. Mas, nos últimos meses, algo mudou. Comprar ações de elétricas já não parecia uma decisão tão simples e muitos investidores foram bombardeados com uma série de "alertas" sobre a atratividade das companhias. Afinal, as elétricas se tornaram os novos patinhos feios dos dividendos?
Para Aurélio Sales, analista da VG Research, as elétricas não perderam protagonismo e nem fundamentos, mas os investidores começaram a girar carteiras na procura de setores com maior potencial de crescimento e dividendos para 2025. Assim, bancos e seguradoras, que vão potencializar seus lucros e dividendos com os juros altos, se tornaram os novos queridinhos da bolsa.
"Para investidores que priorizam segurança e estabilidade, o setor elétrico ainda é uma escolha relevante, mas é importante analisar empresa por empresa e fatores como regulação e eficiência operacional", destaca Sales.
Mas há outros desafios. Com os juros escalando até 15% ao ano, a dívida de muitas elétricas vai explodir e pressionar os dividendos. "O custo de capital mais caro também deixa as elétricas mais conservadoras nas distribuições", aponta Vitor Sousa, analista da Genial Investimentos.
Sousa exemplifica com a Auren (AURE3), que já foi boa pagadora de dividendos no passado, mas que por conta do seu endividamento deixou de ser uma alternativa para proventos no curto prazo. Outra companhia que sente na pele o custo da dívida é a Equatorial (EQTL3), embora Sousa não considere uma empresa para dividendos e sim para crescimento.
Enquanto juros elevados costumam ser nocivos para as elétricas, a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que pode fechar o ano em 5,51%, tem efeitos diversos.
Sales explica que elétricas reguladas - que têm receitas reajustadas por índices inflacionários seja IPCA ou Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) - podem se beneficiar da inflação elevada, garantindo um fluxo de caixa mais robusto e aumento dos dividendos. É o caso principalmente das transmissoras.
Por outro lado, a inflação alta também pode aumentar os custos operacionais, impactando negativamente na rentabilidade e nos proventos. Uma faca de dois gumes.
"Empresas bem-posicionadas em termos regulatórios e financeiros tendem a ser mais resilientes, conseguindo sustentar ou até aumentar seus dividendos, enquanto aquelas com maior endividamento e custos mais elevados podem ter dificuldades em manter as remunerações aos acionistas", afirma Sales.
Outros desafios
Além do macro, outros desafios setoriais podem pressionar os proventos das elétricas no médio prazo.
Bruno Oliveira, analista CNPI do Vida de Acionista, cita que no caso das transmissoras, só teremos um leilão de transmissão em 2025, o que vai representar uma oportunidade menor de crescimento para empresas do segmento, principalmente aquelas que precisam compensar a redução da Receita Anual Permitida (RAP) nos próximos anos.
"As transmissoras vão ter que se virar com o portfólio que possuem ou fazer investimentos fora do Brasil, na Colômbia, Perú ou Chile, como a Alupar fez", complementa Sousa.
No segmento de geração, Tiago Maciel e João Zanott, analistas da EQI Research, enumeram como desafio os baixos preços de energia descontratada. As geradoras podem acabar vendendo sua produção a valores pouco atrativos. "Questões regulatórias e setoriais como o curtailment (cortes de geração), podem afetar diretamente a receita de empresas de energia renovável, como eólica e solar", avaliam.
Na distribuição, o grande desafio será o vencimento de concessões de algumas empresas em 2026 e 2027, entre elas Energisa (ENGI11), Neoenergia (NEOE3) e CPFL (CPFE3), aponta Gabriel Duarte, analista da Ticker Research. A renovação dos contratos pode exigir investimentos e compromissos extras para manter a qualidade operacional e de serviço.
O patinho feio dos dividendos
O UOL conversou com 7 analistas para entender se alguma elétrica tinha virado o patinho feio dos dividendos. Cinco instituições citaram a Auren (AURE3).
Oliveira lembra que o principal problema da Auren é o altíssimo endividamento, em torno de 5 vezes o indicador dívida líquida sobre ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), fruto da fusão que a companhia fez em 2024 com a AES Brasil.
Para Oliveira, ainda que os ativos sejam interessantes, a Auren assumiu uma dívida enorme da AES, que acumulava 9 meses de prejuízo. Além disso, o momento da operação não foi o mais indicado, com um cenário macroeconômico desafiador e juros altos.
Agora, a Auren precisará focar em reduzir o seu endividamento, diminuindo assim os proventos nos próximos dois anos até melhorar a sua estrutura de capital. "O investidor precisará ser um pouco paciente porque os dividendos não devem ser generosos nos próximos anos", observa Oliveira. Há quem espere o mínimo e alguns analistas já preferem nem contar com os dividendos da Auren para 2025.
"A Auren era uma vaca leiteira, que poderia distribuir muito dividendo, mas atualmente deixou de ser uma ação de dividendos", acrescenta Sousa.
Por ser exposta a geração e comercialização de energia, Oliveira enxerga muita resiliência no negócio, especialmente a partir de 2027, quando teremos mais demanda por energia, com geradoras aumentando sua receita.
Boas oportunidades
Contudo, também é possível encontrar boas oportunidades e com descontos atrativos. Vide a CPFL Energia (CPFE3) e a Eletrobras (ELET6), ações que figuram entre as mais indicadas para dividendos em 2025 e que estariam baratas.
O levantamento é do Fábio Sobreira, sócio e analista da Rocha Opções de Investimentos. Foi utilizado o múltiplo Preço sobre Lucro (P/L), que indica quanto os investidores estão dispostos a pagar pelo lucro de uma empresa. Sobreira comparou o P/L médio das elétricas dos últimos cinco anos com o projetado para 2025. Se o P/L médio é maior do que o projetado, a companhia pode ser considerada barata.
Sobreira calculou também o preço máximo que um investidor deveria pagar pela ação para ter um retorno em dividendos de no mínimo 6%. Critério utilizado para identificar boas pagadoras.
Os cisnes
Entre as ações queridinhas para quem busca dividendos do setor elétrico se destacam Taesa (TAEE11), CPFL (CPFE3), Eletrobras (ELET6) e ISA Energia (ISAE4).
TAEE11
A Taesa atua apenas no setor de transmissão. Aproximadamente 55% da sua receita está indexada ao IGP-M e 45% segue o IPCA. Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, afirma que a companhia está com uma dívida alta, atualmente a alavancagem é de 3,27 vezes o ebitda.
Embora precise renovar urgentemente as concessões vinculadas ao IGP-M, que vencem até 2030, no momento não há muitas oportunidades de novos projetos e poucos leilões.
Para Sousa, a Taesa não está comprometida com novos projetos e deve entregar menos que Alupar e ISA Energia em 2025. Ele espera dividendos regulares robustos, mas descarta extraordinários.
Arbetman lembra que em 2024, a Taesa alterou a política de dividendos e passou a usar o lucro regulatório, que é mais realista. Para 2025, a expectativa da companhia é distribuir entre 90% e 100% desse lucro, mas muitos analistas ainda estão céticos sobre a possibilidade.
CPFE3
A CPFL é uma empresa integrada, mas muito forte na distribuição de energia. Segundo analistas da EQI Research, a companhia tem baixo endividamento e equilibra bem investimentos e dividendos, com crescimento sustentável do negócio.
"Consideramos a CPFL defensiva, por operar em estados com renda elevada, reduzindo o risco de inadimplência dos consumidores", afirmam Maciel e Zanott.
Um risco potencial para os dividendos, segundo os analistas, seriam novas aquisições. Mas é improvável no curto prazo.
Para Duarte, outro risco é o vencimento das concessões em 2027, mas que devem ser renovadas sem dificuldade, pela qualidade operacional da companhia.
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