Katherine Rivas

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Reportagem

'Pagaremos mais dividendos, mesmo com leilões', diz CEO da Taesa

A Taesa sempre foi considerada uma vaca leiteira do setor elétrico e queridinha dos investidores de renda passiva. Contudo, a companhia precisou fazer uma mudança na sua prática de dividendos recentemente para controlar o seu endividamento e participar mais ativamente dos leilões. A notícia fortalece os fundamentos da empresa, mas não foi bem recebida por todos os investidores. Isso porque no curto prazo, principalmente em 2024, os proventos devem ficar magros.

Antes a proposta do estatuto era de pagar no mínimo 50% do seu lucro IFRS em proventos, mas o seu payout nos últimos cinco anos foi entre 100% e 109% em relação ao lucro líquido IFRS. Agora a companhia propõe pagar no mínimo 75% do lucro líquido regulatório em 2024, e de 90% a 100% a partir do ano que vem.

Rinaldo Pecchio Jr, diretor Financeiro e de Relações com Investidores e CEO interino da TAESA, garante que os proventos devem normalizar em 2025 permitindo que a companhia cresça e pague dividendos ao mesmo tempo. Em entrevista ao UOL Economia ele revela detalhes sobre esta mudança e o que esperar da remuneração aos acionistas. Confira abaixo:

De que forma trocar o lucro IFRS pelo lucro regulatório é positivo para a Taesa e para o acionista?

Bom, eu vou fazer só um parêntese para falar um pouquinho da diferença dos dois. As empresas de energia têm uma determinação para você fazer a contabilidade do lucro IFRS, que é o ajustado, e que reconhece os ativos em construção. Por que é importante? Porque os ativos em construção, eu vou corrigindo monetariamente e essa correção passa a fazer parte da receita. Mas não significa um real que a companhia tem de fato recebido porque é uma simples correção monetária. Eu só vou ter direito a receber, de fato, quando o ativo estiver terminado.

Então isso é a primeira distorção entre o lucro IFRS e o lucro regulatório. O lucro regulatório é muito mais direto e indica quanto que eu tenho de geração de caixa real. Antes, a Taesa usava o IFRS porque tinha um endividamento menor. Ela conseguiu fazer pagamentos de dividendos que refletiam o IFRS.

Mas chegou a um momento que a gente precisa prestar atenção. Porque a empresa está muito saudável financeiramente. Nós somos triplo A de rating. Mas, por outro lado, eu sei que se eu mantiver o nível de endividamento muito alto, as agências de rating podem piorar minha qualidade de crédito, e obviamente aí eu vou pagar mais pelos empréstimos, que eu não quero. Eu quero continuar sendo competitivo. Então essa é basicamente a principal diferença.

Vamos fazer algo que é mais previsível, inclusive, até para o acionista.

Com esta política, os proventos vão ser reduzidos em 2024?

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Estamos fazendo uma adequação no pagamento dos dividendos com a intenção de manter o custo saudável das dívidas. Estamos fazendo isso porque a gente pensa no futuro.

O acionista deve ver essa parada ou interrupção momentânea do nível máximo de pagamentos em função dos nossos planos de continuar crescendo. Eu preciso ter condição de manter o rating e ter custo competitivo para conseguir participar de outros leilões.

Muitos analistas falam que aumentar o payout em 2025 não é uma escolha tão acertada, já que a companhia deveria se concentrar em diminuir a dívida e investir. O que acha sobre isso?

Olha, eu acho que tem visões sobre o que a empresa é e deve fazer. Sentado na administração da companhia, a gente tenta conjugar vários fatores, como o pagamento de dividendo e o crescimento necessário para a companhia. A gente entende que manter os pagamentos entre 90% e 100% do lucro líquido regulatório é plenamente possível de ser feito.

Se eu ganho um leilão, jogo os investimentos um pouco mais pra frente. Com os R$ 3 bilhões de investimento que nós estamos fazendo agora, teremos quase R$ 430 milhões de receita adicional, que me ajuda a reduzir a dívida também.

A gente prevê que o nível máximo de alavancagem deve ser no ano de 2024, em 2025 ele já deve ser um pouco mais inferior e a partir de 2026 ele deve ter uma queda mais acentuada.

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Então, olhando tudo isso, a gente fala, "tenho sim condições de fazer pagamentos um pouco superiores porque, mesmo que eu ganhe leilão, os meus desembolsos vão ocorrer um pouco mais a frente".

A Taesa paga dividendos geralmente quatro vezes ao ano: em maio, agosto, novembro e dezembro. Com a nova prática de dividendos e o payout reduzido, essa frequência de proventos deve se manter em 2024 e nos próximos anos?

Primeiro, quero esclarecer que a Taesa continuará sendo uma boa pagadora de dividendos. Mas, a partir de agora, será apresentada trimestralmente uma proposta de pagamento de proventos ao Conselho de Administração. Não necessariamente serão seguidos os mesmos prazos ou intervalo entre elas, pois temos que fazer ajustes e adequar esses prazos, de acordo com o fluxo de caixa, captações, enfim, da gestão responsável do negócio.

Esse processo segue o nosso princípio de crescimento sustentável do negócio com disciplina financeira e geração de valor para todos os nossos públicos. Futuramente, essa prática deve ser reavaliada, até chegarmos a datas bem regulares sobre o pagamento de proventos.

Cerca de 50% das receitas contratuais têm vencimento marcado no ciclo 2030-2034. Como está o plano de investimentos da empresa em novas linhas de transmissão?

Na verdade, a companhia já vem trabalhando para isso. Se você for pegar o que foi investido nos últimos anos, acho que os últimos três anos foram os anos de maiores investimentos da Taesa. E a gente vai continuar investindo. O que a gente investiu já proporcionou um crescimento da receita e, como eu disse, os próximos R$ 3 bilhões que a gente está investindo vão proporcionar mais R$ 430 milhões.

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Por outro lado, a gente sabe que, com a queda dos contratos de concessão de 2030, vai ser necessário a gente manter crescimento. Por isso a gente foi muito previdente de falar o seguinte, vamos fazer um ajuste aqui no dividendo para não impactar o custo de capital, para que a gente continue fazendo investimento.

Lógico que eu não posso garantir que eu vou ganhar (o leilão), porque tem gente supercompetente em outras empresas também estudando leilões. Mas, assim como a gente teve sucesso histórico nos últimos tempos, a gente imagina que tem todas as condições. A gente consegue ver a sinergia dos ativos, tem fontes baratas de captação e faz uma boa utilização de incentivos fiscais. Então, a gente tem uma perspectiva de voltar a ter crescimento para compensar essa queda de RAP (Receita Anual Permitida).

Eu não consigo falar de antemão se a gente vai efetivamente participar dos leilões. O que eu consigo falar é que nós temos um time que é dedicado a olhar todos os empreendimentos que são colocados em leilão, e a gente vai olhar e vai chegar à conclusão. Seguindo nosso histórico, que é participar de leilão ganhando bons ativos, é o que nós pretendemos fazer. Não teremos crescimento a qualquer custo.

Pode falar um pouco do endividamento da empresa e quais estratégias para diminuir?

Fechamos o 1° trimestre com 3,8 vezes dívida líquida/ebitda. Entendemos que deve fechar 2024 um pouco acima disso, mas o nível máximo de alavancagem que a gente está prevendo é neste ano.

A partir de 2025 a gente vai começar a ver uma queda e para isso nós estamos fazendo não só essa questão do dividendo, nós estamos olhando internamente fazendo uma revisão de estrutura de custos para que ajude também a ter um aumento do ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) e obviamente com isso melhorar a possibilidade de crescimento da companhia

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Então, obviamente as condições de mercado, índices inflacionários, uma série de outras coisas podem mudar esses planos, mas esperamos voltar a um patamar mais normal de payout em 2025.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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