Katherine Rivas

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Reportagem

Ações baratas que pagam dividendos acima da Selic de 13,25%. É armadilha?

Com a Selic em 13,25% ao ano, poucas ações conseguem entregar um retorno com dividendos acima dos juros. Mas ainda é possível encontrar retornos extravagantes, como os da Syn (SYNE3), que nos últimos 12 meses apresentou um dividend yield (retorno em dividendos) de 154,15%. Em 2024, yield foi de 59,3%.

Mas cuidado investidores. Nem todo dividend yield elevado é sinônimo de bons fundamentos. Muitas das ações não conseguirão sustentar essas remunerações altas nos próximos anos.

Veja abaixo as ações que nos últimos 12 meses apresentaram um retorno em dividendos acima de 13,25% ao ano. O levantamento é da Elos Ayta Consultoria e considerou as ações dos índices Ibovespa, IBRX100, Índice de Dividendos (IDIV) e Small Caps. Os dados são até 24 de janeiro.

A Elos Ayta também projetou quantitativamente os dividendos que estas empresas podem entregar nos próximos 12 meses. Desde que as companhias mantenham a mesma política de distribuição de dividendos dos últimos 12 meses e tenham um lucro maior ou igual ao registrado no último ano. Mas, fica a ressalva, juros elevados podem atrapalhar esses lucros.

Também foi apresentada a mediana de dividend yield das ações nos últimos cinco anos ou desde o IPO (abertura de capital) para as mais novatas. O objetivo é mostrar qual é o verdadeiro padrão destas empresas ao remunerarem acionistas.

O que está barato?

Mesmo custando menos de R$ 10 uma ação pode ser considerada cara, porque estar barato não tem relação com o preço e sim com o valor que a companhia pode entregar ao investidor no futuro.

Fábio Sobreira, sócio e analista da Rocha Opções de Investimentos, fez uma simulação exclusiva para o UOL para identificar quais ações da lista estão baratas.

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Foi utilizado o múltiplo Preço sobre Lucro (P/L), que indica quanto os investidores estão dispostos a pagar pelo lucro de uma empresa. Sobreira comparou o P/L médio dos últimos cinco anos com o projetado para 2025. Se o P/L médio é maior do que o projetado, a companhia pode ser considerada barata, já que tem potencial de gerar valor.

Sobreira calculou também o preço máximo que um investidor deveria pagar pela ação para ter um retorno em dividendos de no mínimo 6% e de 13,25%.

Foge da armadilha!

Antes de citar as armadilhas, reforçamos que Petrobras (PETR4) e Cemig (CMIG4) foram escolhidas como opções para longo prazo.

Syn (SYNE3)

A Syn se destaca como armadilha de dividendos. A companhia não é ruim, mas o seu modelo de negócios não contribui com a recorrência dos proventos no longo prazo.

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A Syn atua com aquisição, locação, venda, desenvolvimento de imóveis comerciais no Brasil, principalmente shoppings e edifícios corporativos de alto padrão. Renato Reis, analista da Blue3 Research, explica que a Syn costuma vender os prédios por inteiro e não se limita apenas à venda de uma sala ou loja específica. Isso se traduz em lucros exorbitantes quando ocorrem vendas, no entanto também pode gerar prejuízos pelo alto custo de manutenção.

Rodrigo Medeiros, analista e fundador do Desmistificando Research, lembra que nos anos em que a Syn fez vendas de propriedades, os dividendos foram robustos. Em 2021, a empresa pagou mais de R$ 8 por ação. Em 2024, com a venda de participações em seis shoppings para o fundo imobiliário XP Malls, por R$ 1,85 bilhão, a Syn distribuiu proventos generosos, de R$ 2,88. Ainda há pagamentos pendentes, que podem vir a pingar na conta dos investidores no final de 2025.

Mas o problema é justamente essa falta de regularidade dos lucros, por depender da venda dos imóveis. Em anos como 2019 e 2023 a Syn não pagou dividendo nenhum. Em 2020 e 2022 os retornos foram pífios. "Não considero uma empresa para investir com foco em dividendos, porque precisaria de uma distribuição mais regular", avalia Medeiros.

Ele lembra que com juros elevados, a venda de imóveis pode se tornar mais difícil e não há previsibilidade de novas operações no curto prazo. Além disso, embora o preço justo da ação seja em torno de R$ 7, não há sinais de quando a ação pode destravar.

"Como a empresa ficou pequena, não tem lucratividade operacional. Possui despesas administrativas muito altas e fica difícil para os dividendos", reforça Medeiros. É quase uma jogatina, a Syn pode valorizar e pagar dividendos elevados amanhã ou em cinco anos. Medeiros espera um dividend yield da Syn de 25% a 30% em 2025.

Pague Menos (PGMN3)

A Pague Menos possui uma ampla rede de farmácias no Brasil, com destaque para Norte e Nordeste. A companhia teve um dividend yield de 15,68% nos últimos 12 meses, que pode recuar até 8% em 2025, segundo projeções.

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Guilherme La Vega, analista da Arkad Invest, cita que a Pague Menos tinha feito algumas aquisições no passado, entre elas a Extrafarma, que elevaram seu endividamento e só pagou bons dividendos no último ano porque a empresa adquirida deixou de consumir caixa.

Mas para 2025, a expectativa é que a Pague Menos volte a investir em 50 novas unidades, manutenção e mudança de bandeiras. Desta forma, mesmo com lucros, os recursos não serão suficientes para oferecer um dividend yield acima da média. "Apesar de existirem gatilhos para a valorização das ações PGMN3, não considero a empresa boa opção para dividendos no longo prazo", comenta La Vega.

Alocação pontual

Outra que divide opiniões é a Marfrig, que foi a maior pagadora de dividendos da bolsa em 2024. Os analistas acreditam que possa ser oportunidade para dividendos no médio prazo, mas com ressalvas.
Os dividendos da Marfrig em 2024 foram impulsionados pela recuperação da BRF (BRFS3), da qual detém 50,49% das ações ordinárias. "A BRF pagou dividendos e a Marfrig repassou esse proventos aos seus acionistas", explica Reis.

Para Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, a Marfrig já fez o ciclo de investimentos que precisava e está gerando caixa elevado e de forma mais previsível, o que contribui com os dividendos. "Ela se posicionou em alimentos mais 'premium', proteína bovina, carne in natura e processados como os oferecidos pela BRF. Isso traz robustez para a empresa no médio e longo prazo", avalia. Queiroz enxerga dividendos de 15% para 2025.

Para Marco Saravalle, analista CNPI-P e sócio-fundador da MSX Invest, 2025 será um ano de expansão de receita para Marfrig, favorecida pelo câmbio. Ele acredita que a boa rentabilidade e margens de lucro vão se manter, com dividend yield de 12%. "A redução consecutiva do endividamento ajuda", diz.

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Vale uma chance?

Outras duas companhias estão conquistando a confiança dos investidores. Uma delas é a varejista de calçados esportivos Vulcabras (VULC3), dona das marcas Olympikus, Mizuno e Under Armour.
Segundo Lucas Lima, analista-chefe da VG Research, a Vulcabras aprendeu com os erros do passado e se tornou uma empresa muito rentável, com crescimento anual do lucro líquido de 35%.

Em 2024, Vulcabras pagou 15,64% em dividendos, o que atraiu investidores. Além disso, a companhia adotou um mecanismo de pagamentos mensais para 2025. Lima destaca que a companhia não tem novas aquisições de marcas no radar, está gerando muito lucro e tudo isso vai virar dividendo.

Mas as distribuições devem ser menores, algo próximo a 8% de dividend yield e podem reduzir no futuro se surgirem oportunidades de investimento, diz Lima. Para ele, a Vulcabras cabe em uma carteira de renda de longo prazo.

Gabriel Lacombe, sócio e analista de varejo da Varos Research, espera dividendos de 9% em 2025. O risco seria a reforma tributária. Lacombe explica que a Vulcabras conta com incentivos fiscais de ICMS e IRPJ, que representaram 70% do lucro líquido em 2023. "Se esses incentivos são extintos, será difícil para Vulcabras sustentar um dividendo elevado", adverte. Ele não recomenda a ação.

Outra companhia que está ganhando holofotes é a Direcional (DIRR3), construtora de baixa renda que atua com o segmento do Minha Casa, Minha Vida. A empresa também tem participação na média e alta renda, por meio da Riva.

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Caio Nabuco, analista da Empiricus, destaca que o segmento teve forte expansão nos últimos três anos, o que fortaleceu o caixa da Direcional. A gestão optou então por devolver recursos aos acionistas com dividendos e recompras de ações.

Em dezembro, a Direcional vendeu uma fatia da Riva, por até R$ 397,5 milhões. Pagamento ocorre em duas parcelas, sendo uma de no mínimo R$ 100 milhões que vai pingar em abril e outubro. Com isso, Nabuco espera também dividendos extraordinários neste ano, com dividend yield entre 15,5% até 20%. O Itaú BBA já projeta dividendos de até 25%.

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