Katherine Rivas

Katherine Rivas

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Taesa é 'vaca leiteira': corte em dividendos é fim do jogo ou caso pontual?

A festa da bonança chegou ao fim. Após seis anos gastando mais do que poderia para remunerar seus acionistas, a Taesa fez uma pausa na sua tradição de pagar proventos elevados. A medida foi feita em favor da redução do seu endividamento, que chegou a uma relação de 3,8 vezes entre a dívida líquida e o ebitda. A companhia também precisava de uma estrutura mais realista para remunerar os seus investidores.

É claro que a notícia desagradou muitos, acostumados a enxergar a transmissora como uma espécie de vaca leiteira da Bolsa brasileira. Mas tem horas que é preciso ajustar o cinto na busca de um futuro mais confortável.

O que mudou

A Taesa mudou sua política de dividendos. No passado, a obrigação era pagar no mínimo 50% do seu lucro líquido ajustado (também chamado de lucro IFRS), mas desde 2018 remunerou os investidores com 100% ou até 109,1% do seu lucro IFRS.

Desta vez, a proposta da empresa é passar a usar o lucro líquido regulatório. Em 2024, deve pagar no mínimo 75% desse resultado. Já a partir de 2025, a distribuição será de 90% a 100% do lucro líquido regulatório.

Qual é a diferença?

O analista Gabriel Duarte, da Ticker Research, explica a diferença entre ambos: imagine que uma transmissora recebeu uma indenização de R$ 7 bilhões, um valor que será pago ao longo de vários anos, recebendo em média R$ 20 milhões por ano. Pelo lucro líquido IFRS a companhia precisaria reconhecer o valor de R$ 7 bilhões de uma única vez no seu balanço, mesmo ainda não tendo entrado completamente no seu caixa. Já pelo lucro regulatório, a companhia reconhece apenas o que efetivamente recebeu, no caso os R$ 20 milhões.

É por este motivo que muitas vezes o lucro IFRS fica distante da realidade do lucro efetivo de uma empresa, enquanto o regulatório traz uma fotografia mais próxima do agora. O lucro IFRS também costuma ser mais alto.

Essa mudança na política desagradou algumas pessoas no mercado porque implicava inevitavelmente uma redução nos dividendos. "Infelizmente neste momento a Taesa não pode pagar, então eu julgo a medida como necessária", avalia Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

Por que a empresa precisou mudar sua política

Em entrevista à coluna, o CEO interino da Taesa, Rinaldo Pecchio Jr reconheceu que não queria correr o risco de o endividamento ficar tão elevado ao ponto de mudar a nota da empresa perante as agências de rating. Com a redução no rating, piora também a qualidade de crédito da transmissora e aumentam os custos dos empréstimos.

Continua após a publicidade

O objetivo também era dar maior previsibilidade ao acionista sobre a remuneração, coisa que o uso do lucro IFRS não permitia.

A reação do mercado

Muitos analistas pensam mais no curto prazo, interessados no dividendo que efetivamente pinga no bolso, e deram as costas para a empresa. Levantamento do TradeMap para a coluna mostra que, de nove bancos e corretoras que têm Taesa (TAEE11) nas suas carteiras, seis recomendam manter e três indicam a venda da ação. Nenhuma instituição recomenda a compra de TAEE11.

Bernardo Viero, analista da Suno Research, avaliou a mudança na prática de remuneração como positiva. Isso porque o modelo anterior poderia obrigar a empresa a distribuir valores incompatíveis com o dinheiro que de fato entrou no negócio.

Bruno Oliveira, analista da plataforma AGF, diz que a nova política de dividendos da transmissora se torna mais alinhada com o modelo de negócios, porque reflete como a Taesa ganha dinheiro efetivamente.

Os dividendos da Taesa vão cair em 2024?

É possível que exista sim uma redução pontual. "Isso pode ser parcialmente compensando com novos projetos que tendem a entrar em operação, mas não o suficiente para equilibrar a redução de payout", destaca Oliveira.

Continua após a publicidade

Mudança deve diminuir a dívida da empresa, o que é positivo no longo prazo. É o que diz Renato Reis, analista da Blue3 Research. Assim, no futuro, ela pode voltar com o pagamento de proventos elevados. Ele lembra casos como da Oi (OIBR3), que teve a estratégia de tomar dívida para continuar pagando dividendos - como forma de ocultar a situação financeira real da empresa - e quebrou. Para Duarte, da Ticker, a empresa deveria ter feito até um corte maior, na faixa dos 50% do lucro regulatório para reduzir a dívida.

Haverá mudanças na frequência dos pagamentos

A Taesa é conhecida por remunerar os seus investidores pelo menos quatro vezes ao ano, em maio, agosto, novembro e dezembro, mas isso pode mudar. Veja aqui outras empresas que remuneram seus acionistas com recorrência. A empresa deve apresentar uma nova proposta de pagamentos, diz Rinaldo Pecchio Jr, CEO da Taesa. Segundo Pecchio, no futuro essa prática pode ser reavaliada, até chegar a datas bem regulares de pagamento.

Os pagamentos vão voltar a subir no ano que vem?

Com a redução da dívida, o pagamento deve voltar. O CEO da Taesa disse que a partir de 2025 deve pagar de 90% a 100% do lucro. Isso mesmo que a empresa ganhe um leilão, já que a dívida teria diminuído e a transmissora teria uma receita adicional de R$ 430 milhões de novos empreendimentos. "Mesmo que eu ganhe leilão, os meus desembolsos vão ocorrer um pouco mais a frente", afirmou Pecchio.

Reis, da Blue3 Research, diz que os pagamentos vão depender de como a companhia vai reduzir seu endividamento. Arbetman, da Ativa, defende que a queda dos proventos deve acabar ajudando a companhia a ficar mais competitiva e se preparar para os leilões futuros, diminuindo assim o risco da queda de receita em 2030.

Continua após a publicidade

A Taesa ainda vale para dividendos?

Ainda é uma empresa que paga bem. Para Viero, analista da Suno Research, com um payout no patamar de 90% a 100%, a Taesa continuaria figurando entre as companhias que pagam dividendos acima da média do mercado.

Mas há desafios pela frente. Isso porque entre 2030 e 2034 uma série de concessões irão vencer, e que representam 50% da receita atual.

Essa perda da receita a partir de 2030 preocupa. Caso os contratos sejam renovados, eles também podem não ter termos tão bons. "Se ela perder uma parte da receita, como vai pagar as dívidas?", questiona Duarte.

Reis, da Blue3, espera um dividend yield de 9% para TAEE11 em 2024 e 10% em 2025, caso a empresa resolva seus problemas de endividamento. Mas prefere investir em outras empresas como Alupar, que deve ter retorno em DY de 5% em 2024 e de 6% em 2025.

Oliveira, do AGF, acredita que ainda vale a pena investir em Taesa para dividendos. É uma empresa perene e que vai entregar um retorno aos acionistas acima de 6%. Mas ele avalia que Isa Cteep (TRPL4) seria uma opção mais previsível no momento, principalmente para investidores iniciantes.

Continua após a publicidade

Marco Saravalle, analista CNPI-P e sócio-fundador da MSX Invest, acredita que os investidores prefiram outras empresas para dividendos no curto prazo, porque a companhia deve entregar um dividend yield baixo, de apenas 5% em 2024. Já em 2025, Saravalle enxerga recuperação, com o dividend yield saltando para entre 10% e 11%.

"Mas com certeza, continua sendo uma das melhores ações para dividendos no país para quem olha horizontes mais longos, de 2 a 3 anos para frente", destaca.

Veja abaixo outras projeções do mercado sobre a TAEE11 compiladas pelo Trade Map:

XP

  • Recomendação: manter
  • Dividend Yield 2024: --
  • Preço-Alvo: R$ 36

BTG

Continua após a publicidade
  • Recomendação: venda
  • Dividend Yield 2024: 8,80%
  • Preço-Alvo: R$ 35

Guide

  • Recomendação: manter
  • Dividend Yield 2024: ---
  • Preço-Alvo: R$ 36

BB Investimentos

  • Recomendação: manter
  • Dividend Yield 2024: 9,50%
  • Preço-Alvo: R$ 39

Santander

Continua após a publicidade
  • Recomendação: venda
  • Dividend Yield 2024: 9,80%
  • Preço-Alvo: R$ 35,02

Ágora Investimentos

  • Recomendação: venda
  • Dividend Yield 2024: 9,10%
  • Preço-Alvo: R$ 34

Ativa Investimentos

  • Recomendação: manter
  • Dividend Yield 2024: 6%
  • Preço-Alvo: R$ 34

Terra

Continua após a publicidade
  • Recomendação: manter
  • Dividend Yield 2024: 6,26%
  • Preço-Alvo: R$ 41

Genial

  • Recomendação: manter
  • Dividend Yield 2024: 8,30%
  • Preço-Alvo: R$ 36

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes