Ele criou empresa que conecta varejistas a entregadores e fatura R$ 70 mi

Vinícius Pessin, 52, tem quase 30 anos de experiência em empresas de tecnologia. Em 2001, ele e mais dois sócios transformaram um provedor de internet em negócio para hospedar sites de empresas. Depois, criaram uma desenvolvedora de sites de e-commerce. Quando os marketplaces começaram no Brasil, Pessin teve a ideia de criar a Eu Entrego, vislumbrando uma oportunidade nos gargalos na logística em um país continental.

A Eu Entrego é uma logtech que conecta varejistas a uma rede de entregadores autônomos. Pessin e o sócio João Machado, 45, abriram a empresa em 2016, em São Paulo. No ano passado, o faturamento foi de R$ 70 milhões.

Tive o privilégio de testemunhar as ondas de tecnologia no país. Primeiro, a chegada da internet; depois a necessidade das empresas de hospedar sites em uma plataforma, e na sequência, a revolução dos e-commerces e dos marketplaces, com o desafio de desenvolver uma logística de entrega das compras ao consumidor. Eu e meus sócios pudemos desenvolver produtos e serviços para tudo isso.
Vinícius Pessin, CEO da Eu Entrego

Remodelagem da Plugin e criação da eSmart

Nascido em Porto Alegre (RS), Pessin é filho de professores da rede pública estadual do estado. Ele cresceu em Viamão (RS), mas tão logo terminou o ensino médio foi trabalhar na capital gaúcha no fundo de pensão de uma fundação estadual de energia elétrica, em 1990. "Isso foi a realização dos meus pais [Adyr e Mariléa], que achavam que nesta fundação eu teria uma carreira estável. Mas em 1997 eu conheci um fenômeno mundial: a internet", diz.

Em 1997, aos 26 anos, começou a trabalhar na NutecNet. Após ser vendida, virou Zaz e, depois, Terra. Seu cargo era de gerente de atendimento ao consumidor. Saiu da empresa em 2000 para empreender.

Ele e dois sócios compraram a Plugin, um dos primeiros provedores de internet do Brasil, em 2001. "Tão logo assumimos a Plugin, mudamos o modelo de negócios para hospedagem de sites. Ou seja, passamos a oferecer o serviço para empresas [B2B] e não mais para o consumidor final [B2C]", diz. Em 2007, a empresa foi comprada pelo UOL.

Com a venda, Pessin foi contratado pelo UOL para atuar na área de B2B. "Fui um dos responsáveis pela criação do UOL Host", diz. O UOL Host oferece plataforma de hospedagem, e-commerce, cloud computing e serviços voltados para negócios digitais. "A minha experiência de cinco anos no UOL foi uma espécie de pós-graduação na prática", declara. Saiu da empresa para novamente empreender na área.

Em 2012, Pessin foi cofundador da eSmart, uma desenvolvedora de plataformas de e-commerce. De 2012 a 2015, a eSmart desenvolveu sites de e-commerce para marcas como Livraria Saraiva, RaiaDrogasil, Hering e Porto Seguro, entre outras grandes marcas.

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A eSmart foi adquirida pela B2W Digital em 2015 por R$ 13 milhões. Pessin se tornou diretor na B2W Digital. "Era responsável pelo processo de marketplace, nova onda de internet que surgia", afirma. Na época, a B2W Digital era a plataforma online de gigantes do varejo como Americanas e Submarino.

Pessin ficou dois anos na B2W Digital e saiu da empresa para empreender de novo. "Vi surgir essa revolução dos marketplaces e logo percebi que, por conta da dimensão continental do Brasil, a logística seria uma dos principais gargalos", declara. A ideia da startup Eu Entrego surgiu ali.

O empreendedorismo é você enxergar uma dor e vê naquilo uma oportunidade de negócio.
Vinícius Pessin, CEO da Eu Entrego

Criação da startup Eu Entrego

A Eu Entrego foi criada em 2016, em São Paulo. É uma logtech (empresa de tecnologia aplicada à logística), que conecta varejistas a uma rede de entregadores autônomos que fazem as entregas no mesmo dia. O investimento inicial no negócio foi de R$ 1 milhão.

Na época, Pessin atuava ajudando na criação do C6 Bank. Somente em 2019, Pessin saiu do banco para se dedicar integralmente à sua empresa. Foi quando virou CEO da Eu Entrego.

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Ao longo do tempo, outros sócios entraram no negócio. A Eu Entrego tem hoje dez sócios: os cofundadores Pessin e João Machado, sete diretores da empresa e a HiPartners, um venture capital focado em startups que oferecem soluções para o varejo. O valor aportado no negócio não foi informado.

A minha motivação ao criar a Eu Entrego foi uma combinação de oportunidade de mercado, paixão pela inovação, identificação de problemas a serem resolvidos e a busca por eficiência e impacto positivo no setor de logística.
Vinícius Pessin, CEO da Eu Entrego

Como a empresa funciona

A Eu Entrego atua em cerca de 400 cidades, inclusive em todas as capitais. Atualmente, tem 160 varejistas cadastrados, entre eles Grupo Boticário, Cobasi, Petz, Vivo e Arezzo. São mais de um milhão de entregadores independentes cadastrados na plataforma, sendo 10% deles (cerca de 100 mil) ativos na plataforma.

As lojas são 'hubs logísticos'. Segundo Pessin, os varejistas usam o estoque de suas próprias lojas para atender a pedidos realizados online ou por telefone, por exemplo. Ou seja, as compras não saem de um centro de distribuição. É a loja física que separa e envia os produtos, e a entrega é feita em poucas horas após a compra.

Os entregadores usam os próprios meios de transporte (carro ou bicicleta) para fazer as entregas. Em média, um entregador faz 15 entregas por dia. Os valores pagos podem variar de acordo com a distância da rota, a quantidade de entregas, os valores dos produtos e os horários. Mas, em média, o entregador ganha R$ 200 por dia. Segundo Pessin, há entregadores que chegam a ganhar até R$ 7.000 por mês.

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O entregador recebe as demandas por um aplicativo próprio da empresa. Ao aceitar a demanda, ele já recebe a rota otimizada da Eu Entrego. Esta rota mostra exatamente em quais lojas ele deve pegar as encomendas e a ordem de entrega aos clientes. O objetivo é otimizar o seu tempo. Todo o seu percurso é monitorado, e os status da operação são reportados em tempo real à startup.

Isso faz com que muitos custos que estariam embutidos no processo sejam cortados, como o transporte por longas distâncias e o armazenamento. Há também a economia de tempo e a diminuição da emissão de poluentes. É um grande 'ganha-ganha' para todos os envolvidos neste ecossistema.
Vinícius Pessin, CEO da Eu Entrego

Em 2023, o faturamento foi de R$ 70 milhões. O lucro não foi divulgado. O valuation da empresa está estimado hoje entre três e quatro vezes o faturamento, segundo Pessin.

Seus principais concorrentes são Uello, Loggi, Shipfy e Liftit, além dos Correios.

Empresa cresceu na pandemia

Um dos pontos altos da empresa é ser uma plataforma 100% própria e nacional. "Todo o nosso ecossistema, softwares e tecnologia, foi desenvolvido por nós", afirma.

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Na pandemia, a empresa cresceu 500%. O faturamento passou de R$ 6 milhões em 2019 para R$ 36 milhões, em 2020. "A Eu Entrego assumiu uma posição estratégica e vital para aquele cenário de pandemia, e o papel dos entregadores foi fundamental para a sobrevivência de todos nós, em pleno lockdown", diz. Segundo ele, 60% das entregas feitas no período foram de supermercado.

Ali foi um ponto importante porque provou que nosso negócio era escalável. Houve esse salto gigantesco na companhia, mas nos anos seguintes o crescimento continuou consistente.
Vinícius Pessin, CEO da Eu Entrego

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