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Criar um filho custa mais de R$ 1 milhão; mães mostram como preparar bolso

Getty Images/Vetta
Imagem: Getty Images/Vetta

Sophia Camargo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/10/2017 04h00Atualizada em 11/10/2017 10h17

Ter filhos é o sonho de muitas pessoas, mas bem poucas se lembram de planejar as finanças da casa com antecedência para a chegada dos herdeiros.

Segundo o professor de Finanças do Insper, Ricardo Humberto Rocha, o gasto de uma família de classe média com uma criança pode ultrapassar R$ 1 milhão em 24 anos, que é o tempo que normalmente um filho leva para sair da faculdade.

"Considerando um gasto médio mensal de R$ 2.000 por mês dos 0 aos 24 anos, o resultado é um gasto de R$ 1.175.128 no período", diz.

O superintendente de Finanças do SPC Brasil, Flavio Borges, concorda. “Uma família de classe média não gasta menos de R$ 400 mil até o filho ficar adulto. Se for uma família de classe mais alta, os gastos podem facilmente ultrapassar os R$ 2 milhões”, diz.

“Bem poucas pessoas preparam o bolso para a chegada de um filho”, diz Rocha.

Em vez do intercâmbio, um filho

Giovanna Bizelli, 23 - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
A gravidez de Giovanna Bizelli chegou antes de ela ter se preparado financeiramente
Imagem: Reprodução/Facebook

Foi o caso da relações públicas Giovanna Bizelli, 23. Depois de cinco anos de namoro, estava se preparando para se casar com o namorado em abril de 2018.

Enquanto isso, usaria a poupança de R$ 4.000 para fazer um intercâmbio para Toronto, no Canadá, em fevereiro do ano que vem.

Mas tudo mudou quando, em junho, ela descobriu que aqueles dias sem tomar pílula resultaram em uma gravidez inesperada, que a obrigou a usar o dinheiro do intercâmbio para comprar fraldas e apressar o casamento, marcado para o próximo sábado (7).

Em vez de intercâmbio, será um bebezinho que a espera em março. “Sempre quis ter filhos, mas não era o momento. Eu não tinha nada guardado, é muito gasto”, diz. 

Gravidez na ponta do lápis

Natalia Montoia, grávida - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Natália Montoia faz planilhas para calcular os gastos com a chegada de Valentina
Imagem: Reprodução/Facebook

Diferentemente de Bizelli, Natália Montoia, 31, administradora, tem tudo planejado na ponta do lápis. Faz dois anos que saiu da casa dos pais para morar com o marido e desde então coloca todos os gastos mensais e anuais em planilhas.

“Atualizo diariamente. Se gastar R$ 15, anoto”, diz.  Grávida de seis meses, ela conta que faz orçamento para tudo.

“Para fazer o chá de bebê da Valentina, fiz mais de 150 cotações, para saber se valia a pena fazer em casa, em bufê ou pedir um bufê a domicílio. Faço isso para tudo: pesquiso muito antes de me decidir a comprar.”

Ela e o marido tentam poupar cerca de 30% do que ganham líquido (já tirando descontos, como impostos e encargos) para dar conta dos gastos com a filha que vai chegar.

Planilha até para gasto com macacão

A fotógrafa de grávidas e bebês Ariane B., 30, aproveitou a experiência de conviver com grávidas todos os dias para pegar as dicas e planejar item por item os preparativos para o nascimento de seu primeiro filho, Gustavo, que deve chegar em novembro.

Casada há cinco anos, planejaram a mudança do apartamento pequeno para outro maior, além da compra de cada item do enxoval. “Meu marido coloca tudo em planilhas, calcula cada gasto. Sabemos até o gasto médio por macacão – R$ 46”, diz.

A fotógrafa diz que pesquisar o que outras grávidas fizeram ajudou muito, pois dessa maneira conseguiu eliminar aquilo que era supérfluo para ficar com o necessário.

“As lojas aproveitam que você está muito feliz e querem empurrar tudo que é lindo, mas desnecessário, para a gente. Meu marido, que é mais pé no chão, me convence a esperar um mês antes de comprar. Se for realmente necessário, a gente compra. Mas na maioria das vezes não é.”

Economize tudo o que puder

As duas grávidas adeptas das planilhas estão corretas, segundo Flávio Borges, do SPC.  “Ter filhos implica muitas decisões: se vai ter plano de saúde, se vai estudar em escola pública ou privada. Vai depender do padrão de vida e da renda do casal”, diz o superintendente de Finanças do SPC Brasil, Flavio Borges. 

Segundo ele, o primeiro passo é avaliar as necessidades essenciais dos primeiros anos e colocar no papel tudo o que é necessário, como carrinho, roupas, fraldas. “Qualquer quantia que conseguir economizar pode fazer muita diferença no momento em que tiver de comprar o material escolar ou, no futuro, pagar um intercâmbio, uma educação de mais qualidade”, diz.

Veja as dicas dos economistas e das mamães para se organizar financeiramente para ter o primeiro filho:

1) Avalie a situação financeira

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Imagem: Getty Images/iStockphoto

Antes de começar a pensar em ter o bebê, é preciso avaliar as finanças da casa e fazer o orçamento doméstico, afirma Rocha. O primeiro passo é anotar todos os gastos da família durante um mês para saber o quanto entra de renda e para onde está indo o dinheiro. Esses gastos podem ser anotados em planilhas ou podem ser utilizados aplicativos para controle das contas.

2) Repense o estilo de vida

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Imagem: Getty Images

Os solteiros têm um padrão de gastos muito diferente de um casal com filhos, afirma Borges. “Solteiros costumam gastar mais em diversão, restaurantes, viagens. É preciso repensar esses gastos que vão fazer muita falta na criação de um filho”, diz. Isso não significa parar de se divertir, mas adaptar os gastos para que possa haver uma capacidade maior de poupança.

3) Comece uma poupança

Poupança - Thinkstock - Thinkstock
Imagem: Thinkstock

Se decidiram ter um filho, é preciso começar a juntar dinheiro para não passar por apertos como a relações públicas Giovanna Bizzeli. “Por sorte eu tinha os R$ 4.000 que iam ser utilizados no intercâmbio e com esse dinheiro deu para comprar algumas coisas. Um bebê traz muitos gastos, algo em torno R$ 6.000 brincando”, diz. “Só um carrinho de bebê custa R$ 1.200”.

Toda família deve ter uma reserva financeira, que idealmente deve ser um valor que cubra todas as despesas da família de seis meses a um ano. Esse dinheiro deve estar investido em uma aplicação de grande liquidez (facilidade de sacar em dinheiro vivo), como Tesouro Direto, poupança, fundos DI e CDBs de liquidez diária.

4) Faça um plano de saúde

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Se pretende usar o serviço público de saúde, pule essa etapa. Mas se deseja ter acesso ao serviço privado de saúde, então é bom pensar com antecedência no assunto. Segundo as normas da ANS (Associação Nacional de Saúde Suplementar), a carência para partos, excluídos os partos prematuros ou decorrentes de complicações no processo, é de 300 dias, ou dez meses. Assim, é preciso contratar um plano com antecedência caso deseje engravidar. E atenção: assim que a criança nasce ou é adotada, é preciso inscrevê-la no plano de saúde no prazo de 30 dias do parto ou da adoção para que ela não tenha de cumprir carências.

5) Compre peças de segunda mão

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Imagem: Getty Images/iStockphoto

Obter artigos de segunda mão dos filhos dos parentes, amigos e até mesmo de brechós ou de outras mães é uma boa maneira de economizar. Como os bebês crescem muito rapidamente, produtos como berços, carrinhos e até mesmo roupas perdem a utilidade. Como o bebê veio de forma inesperada, Giovanna Bizelli está aproveitando todas as oportunidades para montar o enxoval: “Já fui a brechós e também entrei em um grupo de mães pelo Whatsapp. Já consegui comprar uma poltrona de amamentação por um custo bem menor”, diz.

6) Procure descontos

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Imagem: Getty Images/iStockphoto

Uma outra forma de economizar é procurar grupos de descontos. Bizelli entrou em um pelo Facebook e está estocando fraldas compradas por esse meio. A fotógrafa Ariane diz que visitou uma feira de produtos de bebês e se encantou com os produtos, mas os preços estavam salgados. Foi até a rua 25 de março (região de artigos populares da capital paulista) e comprou os produtos pela metade do preço. “Outra dica foi esperar por ofertas. Comprei o berço que eu queria pela metade do preço por esperar duas semanas para a loja entrar em promoção.”

7) Ensine a criança

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Imagem: Getty Images

"Planejamento financeiro não é só pai e a mãe fazerem planilha o dia inteiro, mas educar a criança para que ela saiba o valor do dinheiro”, diz Borges. “A criança tem de aprender desde cedo que o pai e a mãe vão trabalhar, que precisam ganhar dinheiro, que ele custa muito para ser ganho. Quando o filho fizer 18 anos, é importante que ele comece a ganhar também o próprio dinheiro”, diz. A fotógrafa Ariane diz que é exatamente o que planeja fazer: não queremos dar para o meu filho uma vida de luxo, mas o essencial. Queremos que ele tenha uma boa educação, mas, se ele quiser luxo, terá de trabalhar para conseguir isso.”