Como ficará a Saraiva após fechar suas últimas 5 lojas?
A Saraiva (SLED4), que já foi a maior cadeia de livrarias do país, vai operar apenas na internet. A família fundadora deve deixar o negócio, que está em recuperação judicial desde 2018.
Nesta quarta-feira (20), a companhia demitiu os últimos 180 funcionários da rede. "Não restou nenhum colaborador: nem pessoa jurídica, nem contratado com carteira assinada. Nenhum receberá as verbas rescisórias", afirmou ao UOL um ex-executivo da companhia, que também foi desligado esta semana.
Até esta semana, a Saraiva ainda tinha cinco lojas. Ontem, elas foram fechadas, diz o executivo. Eram quatro em São Paulo, incluindo a segunda livraria aberta pela empresa nos anos 1970, na Praça da Sé, e uma em Campo Grande (MS).
A ação da empresa está em queda de 8,38% hoje, para R$ 1,42 por volta das 14h40. Nos últimos 12 meses, já caiu 66% e, apenas em setembro, perdeu 26,8% do seu valor.
UOL tentou contato com a Saraiva. Os telefones da empresa não estão funcionando, os email não foram respondidos e o departamento de relações com investidores também não atendeu aos pedidos de posicionamento.
A empresa continua existindo, mas só online
Ela continua ativa até que o juiz da Recuperação Judicial decrete a falência. "Isso pode nem acontecer", diz o ex-executivo.
A loja online ainda permanece ativa. A vendas ficam fica agora restritas à internet, mas a operação será bem pequena. Uma empresa terceirizada deve continuar tocando a operação do que sobrou da companhia. Praticamente não há mais estoque, diz outro ex-funcionário.
Faturamento é bem reduzido. Segundo o ex-executivo, o site hoje fatura em média R$ 200 mil ao mês. Esse valor é aproximadamente 30 vezes menor que o lucro publicado referente ao segundo trimestre do ano, de R$ 20,15 milhões.
Briga entre sócios
Na sexta-feira (22), deve ser realizada uma assembleia de acionistas, e a família pode perder o controle. Na reunião, deverá ser votada a transformação das ações preferenciais em ações ordinárias, de acordo com comunicado enviado ao mercado. A família fundadora tem, hoje, o controle por meio das ações ordinárias. Se a mudança for aprovada, a família perderia o controle, pois passaria a ter uma porcentagem pequena de ações.
Há dois membros da família com participação na rede. Jorge Saraiva Neto, diretor-presidente e vice-presidente do Conselho de Administração, tem 41,6% das ações ordinárias e 1% das preferenciais. Olga Saraiva, sua mãe e filha do fundador, é atual presidente do Conselho de Administração, com 10,4% das ações ordinárias e menos de 1% das preferenciais.
A empresária gaúcha Alyssa Nunes Bruscato Costa, que era a segunda maior acionista, vendeu a maior parte de suas ações no dia 11 de agosto. A participação de Alyssa, que era de 10,1%, agora é de apenas 0,15%.
Ela, que investiu cerca de R$ 4 milhões na companhia, segundo fontes próximas, acusa a empresa de corrupção. "Minha saída da Saraiva se deve ao fato de ter investido meu dinheiro baseado em um plano de recuperação judicial que não foi cumprido em nada pela administração da Companhia", afirmou ao UOL.
Alyssa está processando a companhia. Ela ainda acusa a empresa de ter contratado a KR Capital de forma irregular. A empresa é, segundo ela, ligada ao antigo presidente da Saraiva (Jorge Saraiva Neto), e teria sido contratada "em condições mais vantajosas do que aquelas normalmente praticadas pelo mercado", resultando em uma dívida de R$ 30 milhões para a empresa.
Dois diretores deixaram a empresa. A mãe de Alyssa, Francine Nunes Bruscato, renunciou ao conselho fiscal, e Aaron Bruxel Rabeno, também indicado por ela, deixou o conselho de administração da livraria. Rabeno teria pedido auditoria do contrato com a KR Capital. Ele renunciou ao cargo no dia 19 "por discordância das decisões tomadas pelos acionistas da Saraiva durante a última assembleia realizada em 23 de agosto", disse ele em uma carta aos acionistas.
Como a empresa chegou a esse ponto?
A Saraiva tem uma dívida contabilizada de aproximadamente R$ 24 milhões. Esse, porém, não é o total que a companhia deve. Há ainda pelo menos R$ 8 milhões em dívidas trabalhistas (dentro da recuperação judicial) e mais aproximadamente R$ 299 milhões com editoras. Ou seja, R$ 310 milhões no total.
Quando pediu recuperação judicial, a empresa devia ao menos R$ 674 milhões. A companhia já vinha atrasando pagamentos antes da RJ a fornecedores. Também havia tentado um plano de negociação de dívidas ao Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), sem sucesso.
Em 2015, vendeu suas empresas editoriais e educacionais por R$ 725 milhões para a Somos Educação (SEDU3).
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