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AES pode sair do Brasil? O que fazer com as ações?

A possível saída da AES (AESB3) do Brasil pode mexer com as ações do setor de energia na Bolsa. Circulam informações na imprensa e no mercado de que o grupo se prepara para deixar o Brasil. Nesta segunda-feira (5), a AES, em comunicado ao mercado, divulgou que "avalia alternativas para financiar o crescimento da AES no Brasil e reforçar sua estrutura de capital, não havendo qualquer conclusão a este respeito até este momento."

O que aconteceu

A AES gera energia hidrelétrica, solar e eólica. Tem atuação em sete estados brasileiros (Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte, Pernambuco, São Paulo, Rio Grande do Sul e Piauí), com usinas hidrelétricas nos rios Tietê, Grande, Pardo e Mogi Guaçu, todos no estado de São Paulo.

A companhia tem concessão de 30 anos (até 2029) para a fonte hidráulica. Até 2018, atuou na geração de energia para a cidade de São Paulo, por meio da AES Eletropaulo, que foi comprada naquele ano pela italiana Enel. A companhia é controlada pela AES Corporation, dos Estados Unidos, e tem atuação em 15 países, incluindo o Brasil.

Os boatos de que a empresa pode deixar o Brasil começaram com a venda da AES Eletropaulo, há quase seis anos. "Essa é uma possibilidade que já era esperada, não é uma surpresa. O foco da AES não é o Brasil ou a América Latina", diz Leonardo Piovesan, analista fundamentalista da Quantzed.

A AES chegou ao país em 1996, com a compra de uma participação na privatização da carioca Light (LGT3). Por muitos anos, comprou e vendeu ativos, se desfazendo de vários negócios recentemente. A própria participação na Light foi vendida.

Por que ela estaria indo embora?

A AES Brasil encerrou setembro do ano passado com dívida bruta de R$ 11,8 bilhões. O total ficou 49,4% acima do valor que acumulou até o mesmo mês de 2022. Sua dívida líquida cresceu 95,3%, para R$ 8,727 bilhões. O índice de alavancagem — que mostra o quanto a empresa deve em relação ao que ela lucra — atingiu 5,61 vezes. "É uma alavancagem bem alta", diz Piovesan.

O preço em queda da energia no Brasil também pode ter pesado. Os valores caíram devido aos altos níveis de chuva dos anos recentes. Com isso, a empresa teve menos lucro e precisou reduzir o pagamento de dividendos. "Isso é algo bastante procurado dentro das empresas do setor elétrico," diz o analista. Por isso, as ações perderam atratividade. No ano passado, enquanto o Ibovespa subiu 22%, as ações tiveram um desempenho melhor, com alta de 27%. Mas em 2024, o papel tem baixa acumulada de 13,88%, até 5 de fevereiro, conforme a Economatica. O papel vem sendo negociado a R$ 10,57.

Há também motivos que poderiam fazer a empresa continuar no país. É o que diz Victor Martins, analista sênior da Planner Investimentos. "Nos primeiros nove meses de 2023, a AES realizou investimentos de R$ 2,5 bilhões e aprovou investimentos em bens de capital (capex) de R$ 3,4 bilhões para os próximos cinco anos.

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Vale a pena comprar ações da empresa agora?

Podem acontecer bons ganhos, mas o risco é grande. "Se realmente houver uma oferta de ações para vender o controle da empresa para outra companhia, isso ensejaria num prêmio de controle que gira em torno de 30% a 40%. Então os acionistas capturariam esse prêmio", diz Piovesan.

Mas ele mesmo diz que esse tipo de oferta não é regra. A companhia também pode aceitar um preço baixo para vender o controle com mais pressa.

Nesse caso, o acionista pode ficar com um mico nas mãos. É o que diz Vírgilio Lage, especialista da Valor Investimentos. "Existe ainda a possibilidade de o capital ser fechado. Aí, o investidor pode ficar com essa ação sem ter comprador para vender depois. Então, não é o caso de fazer investimento agora", diz ele.

Lage acredita que há ações no setor mais atrativas, como Eletrobras (ELET3 e ELET6). Se a AES realmente sair do Brasil, diz ele, pode haver uma valorização dessas ações já que as outras empresas se beneficiam com uma concorrente a menos na área de energia dentro da Bolsa.

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