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Vale e Petrobras despencaram: como fica a Bolsa agora?

Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3 e PETR4) são as maiores empresas da Bolsa de Valores de São Paulo e já chegaram a corresponder por mais de 30% do Ibovespa. Com as quedas que as duas companhias vêm acumulando no ano, como é que fica a Bolsa? "É como um avião com uma das turbinas falhando", diz Luis Moran, analista de investimentos e presidente da EQI/Research. Segundo ele, é difícil que ocorra uma recuperação muito rápida do índice sem uma contribuição positiva dessas duas empresas.

O que está acontecendo

Desde o começo do ano, o Ibovespa não para de oscilar. Começou 2024 a 132 mil pontos. No fim de janeiro e no meio de fevereiro, teve dois picos de baixa e foi a 126 mil pontos. Depois, voltou novamente a 131 mil no final do mês passado. Mas em março, vem caindo: no dia 11, por exemplo, voltou a 126 mil.

O que puxa o índice para baixo é o desempenho da Vale e da Petrobras. Com a perda de valor das duas, a participação dessas empresas no índice caiu para 23,77%, segundo a Elos Ayta.

A Vale vem sofrendo com o preço internacional do ferro. A queda é de quase 15% no preço do minério este ano. Com isso, VALE3 acumula baixa de 17,15% no ano (até 11 de março), cotada a R$ 61,56.

A Petrobras enfrenta a novela dos dividendos. PETR3 teve queda em 2024 de 6,95% e PETR4 de 4,27%, cotadas a R$ 36,82 e R$ 36,38, respectivamente. A direção da petroleira anunciou na semana passada que pretende reter os dividendos extraordinários, avaliados em R$ 43,9 bilhões, adiando o pagamento desses recursos para o futuro. Os dividendos são a parte do lucro que é repassada para os acionistas da empresa. Os dividendos extraordinários são um pagamento extra que as empresas fazem aos seus investidores. Nesse caso, são relativos ao lucro de 2023. A necessidade de recursos para cumprir a meta fiscal neste ano pode fazer o governo optar por um meio-termo.

A reação foi bastante negativa. Na sexta-feira, 8, a Petrobras perdeu R$ 55,3 bilhões em valor de mercado com a decisão do conselho da estatal, na véspera, de reter o pagamento de dividendos extraordinários aos acionistas.

Como fica esse imbróglio agora?

O mercado espera que a empresa volte atrás. "Esse dinheiro dos dividendos extraordinários não pode ser usado para qualquer fim. Ele só pode ser utilizado para pagamento de proventos, juros sobre capital próprio ou pagamento de algumas dividas", diz Rodrigo Moliterno, diretor de renda variável da Veedha Investimentos. Por isso, a empresa ainda vai decidir o que fazer nos próximos dias, acredita.

A Bolsa consegue se recuperar sem elas?

É mais difícil, mas é possível. Essa é a visão de Moliterno. Para ele, setores que começaram o ano "de lado" já estão andando bem, como o de bancos.

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E os juros?

Essa é outra variável que pode azedar os mercados. Nesta terça-feira, foi divulgado que o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos teve alta de 0,4% em fevereiro, após ter avançado 0,3% no mês anterior, mostrando novamente crescimento da inflação americana. Aqui, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,83% em fevereiro, após alta de 0,42% no mês anterior.

A inflação breca a queda dos juros. Nos Estados Unidos, isso pode atrasar o início do ciclo de cortes. Em vez de começar a acontecer em maio, como o mercado esperava, eles poderão vir somente em junho. Já no Brasil, o Banco Central pode fazer mais um corte de meio ponto percentual mas mudar isso nas próximas vezes e fazer descontos menores. É o que diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

Como isso afeta a Bolsa?

Quando os juros sobem, os investidores saem da Bolsa. Os grandes investidores procuram as aplicações que pagam essas taxas de juros altas em detrimento do mercado de renda variável.

Devo sair da Bolsa também?

Não necessariamente. Isso vai depender da capacidade do investidor de suportar as altas e baixas da Bolsa nas próximas semanas ou meses. "É muito difícil dizer se a Bolsa irá cair ou subir até o final da semana, mês e até ano. Isso porque no curto prazo a Bolsa se movimenta muito mais por ruídos do que por fatores fundamentalistas", diz João Daronco, analista da Suno Research.

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A Bolsa pode ficar algum tempo sem direção definida. É o que diz Dierson Richetti, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital. Ou seja, um dia sobe, no outro cai.

Mas isso pode ser uma boa oportunidade para o pequeno investidor. "Hoje, a Bolsa está bem atrativa: passamos por quatro anos de queda e depois com ela andando de lado. Com isso, muitas empresas que ficaram esquecidas estão agora voltando a dar resultado, voltando a entregar uma melhora", diz Breno Bonani, analista da Alphamar Invest, de Vitória.

Então pode ser uma oportunidade para comprar ações pagando pouco. "Ele pode comprar ativos gradativamente, sabendo que vai enfrentar um sobe e desce", diz Richetti.

O importante é focar no longo prazo. "Se o investidor pessoa física focar só nas baixas e tirar seu investimento, ele vai continuar sem acumular patrimônio. A gente pensa que apesar das quedas e do barulho, o foco do investidor tem que ser no longo prazo e procurar por companhias com bons negócios, em setores que estão crescendo", diz Bonani. Ações de banco e do setor de carnes podem ser uma boa.

E Vale e Petrobras, vão se recuperar?

Petrobras tende a ficar no foco. "Acredito que nesse momento, por conta de o mercado estar bastante desconfiado por conta das notícias recentes, o viés ainda é negativo, as notícias geraram bastante desconfiança com a empresa, mas se houver a confirmação de que Petrobras ainda pode pagar os dividendos extraordinários, o papel pode voltar a subir. De qualquer maneira, recomendo cautela", diz Bruna Sene, analista da Nova Futura.

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Com Vale, a situação é parecida. "Acredito que se a China voltar a anunciar estímulos ao mercado imobiliário, pode beneficiar o papel. Porém, no momento, o viés para Vale ainda é negativo, com a cotação do minério de ferro bastante pressionada", diz a especialista.

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.

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