Enel deve 60 bilhões de euros, tem cortes de luz na AL e cai na Bolsa
A Enel é a maior empresa da Bolsa da Itália, com um valor de mercado de 61 bilhões de euros (R$ 329 bilhões de reais). Porém, a companhia controlada pelo governo italiano tem uma dívida 60,2 bilhões de euros, conforme seu relatório de resultados divulgado em fevereiro. E também é o pivô da queda de energia em outras capitais da América Latina, como a que aconteceu em São Paulo na semana passada.
O que está acontecendo
A Enel, italiana que controla a Enel Brasil, tem uma dívida que corresponde a R$ 325 bilhões. O total supera seu valor na Bolsa italiana. Endividada, a empresa - da qual o governo italiano tem 23% das ações - vem assistindo a uma queda em seus papéis de mais de 50% desde 2021.
Com a venda de alguns ativos - como a Enel do Peru - a queda foi amenizada. Mas ainda é de 30% nos últimos três anos. Somente em 2024, a ação caiu 9,57%, para 6,07 euros.
Tanto que a empresa vem sendo rebaixada por empresas de classificação de risco. Em fevereiro de 2022, a Fitch Ratings cortou a classificação de A- para BBB+. Em dezembro de 2023, foi a vez da S&P Global Ratings, que diminuiu a nota da empresa de BBB+ para BBB.
Mesmo assim, os ganhos cresceram. O lucro principal da Enel aumentou 12% no ano passado. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização chegou a 22 bilhões de euros (R$ 118,8 bilhões) em 2023.
Onde a Enel atua?
A Enel distribui energia em cidades de 29 países do mundo. Estados Unidos, Europa, América Latina, África, Rússia, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia são alguns deles.
No Brasil, ela distribui energia em parte dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e no Ceará. A América Latina é o segundo maior mercado da empresa, com 25,5% dos clientes finais. O maior ainda é a Itália, com 31,8%.
O Brasil é e o Chile são os maiores mercados da empresa na América Latina. Dos 42,4 Terawatt-hora vendidos pela empresa na região em 2023, o Brasil ficou com 15,5 Terawatt-hora, mesma participação dos chilenos.
Em fevereiro, a Enel dos Estado Unidos foi condenada pela Justiça. Ela terá que desmontar uma estrutura de geração de energia eólica com 84 turbinas. A sentença veio no início do ano depois de um processo de 12 anos movido pelo povo indígena Osage. Os indígenas reclamavam que a Enel instalou as turbinas nas terras Osage sem nenhuma compensação financeira para a nação indígena.
Cortes de energia são comuns em outras cidades
No ano passado, a Argentina multou a Enel por cortes de eletricidade. Lá, atua por meio da Edesur, controlada pela espanhola Endesa, na qual a italiana Enel tem 92% do capital desde fevereiro de 2009. A multa foi de US$ 5,1 milhões por apagões, que são frequentes no país.
A Enel chegou a declarar que deixaria a Argentina. Mas a empresa decidiu ficar em dezembro, quando o governo de extrema-direita de Javier Milei assumiu o poder.
No Peru, onde a empresa atuava, os apagões eram tão frequentes que havia uma agenda de cortes.
Menos investimentos
Com a ascensão de Giorgia Meloni ao papel de primeira-ministra no final de 2022, houve uma troca de comando na Enel. Saiu Francesco Starace e entrou Cattaneo. Uma de suas primeiras atitudes foi cortar os investimentos em energias renováveis.
A Enel diminuiu seu plano de investimentos. A empresa projetava investimentos de 37 bilhões de euros no período de 2024 a 2026 em todos os países em que atua. Agora, serão 35,8 bilhões de euros. "A disciplina financeira será a pedra angular da nossa estratégia, impulsionando a geração de caixa", disse, em comunicado em 16 de novembro de 2023, o novo diretor geral da Enel, Flavio Cattaneo.
Os investimentos em energias renováveis caíram de 17 bilhões de euros para 12,1 bilhões de euros. O grupo prevê que os lucros aumentem para 23,6 bilhões de euros ou mais até ao final de 2026.
Adotaremos uma abordagem mais seletiva em relação aos investimentos, a fim de maximizar a lucratividade e, ao mesmo tempo, minimizar os riscos
Diretor geral da Enel, Flavio Cattaneo em comunicado ao mercado em 16 de novembro de 2023
A Enel planeja vender ativos no valor de 21 bilhões de euros para reduzir sua dívida. A companhia já vendeu ativos na Romênia e no Peru.
No final de 2022, a companhia italiana havia divulgado a intenção de venda da concessionária cearense. A empresa vale cerca de R$ 3,5 bilhões. Mas em novembro os controladores da Enel decidiram suspender temporariamente a venda.
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