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Empresas do Ibovespa perderam R$ 660 bilhões em três anos, diz BoFA

As empresas do Ibovespa já perderam R$ 660 bilhões em capitalização de mercado desde que o índice atingiu seu segundo maior pico, registrado há três anos. O valor é maior que o preço de mercado da Petrobras (PETR3 e PETR4), avaliada em R$ 494,16 bilhões. O levantamento, feito pelo Bank of America (BofA), compara o nível atual do Ibovespa, a 121 mil pontos, com o seu segundo máximo histórico, alcançado em 7 de junho de 2021. Naquele dia, o Ibovespa chegou a 130.776 pontos.

No final do ano passado, o índice rompeu esse patamar. Chegou a 134.194 pontos, em 27 de dezembro. Mas desde que o ano começou, a Bolsa só vem perdendo.

O que está acontecendo?

Em 2024 as companhias do índice acumulam R$ 250 bilhões em perdas de capitalização de mercado. Nesse período, o Ibovespa acumula baixa de 10,23%, segundo a Elos Ayta.

A queda do Ibovespa coincide com a escalada dos juros. A Selic vinha em queda desde 2015, quando alcançou 14,25% em julho daquele ano. Mas, em outubro de 2016, o Banco Central iniciou um ciclo de cortes que foi até junho de 2020, quando a taxa estava em 2% ao ano.

Mas a partir de março de 2021, a Selic voltou a crescer. Em cinco meses, já tinha mais que dobrado e chegado a 5,25%. Atingiu a 13,75% em agosto de 2020.

As saídas de capital da Bolsa começaram em setembro de 2021, segundo o BofA. Desde então, "os fundos de ações locais no Brasil tiveram mais de R$ 150 bilhões de saídas e os fundos de hedge (multimercado) tiveram mais de R$ 300 bilhões de saídas (ou mais de R$ 450 bilhões de saídas combinadas)", publicou o banco.

Por que isso aconteceu?

Em junho de 2021, a inflação começou a aumentar em todo o mundo. A partir daí, os juros começaram a aumentar aqui e em outros países, numa tentativa de conter os preços. "Isso provocou aversão a risco no mundo todo e então o dinheiro começou a sair das bolsas", explica Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank. Os investidores passaram a preferir aplicações que pagavam essas altas taxas de juros.

A fuga não está diminuindo. Na semana de 10 a 14 de junho, os fundos de ações brasileiros tiveram saídas de R$ 1 bilhão e os multimercado registraram saques de R$ 3,6 bilhões, publicou o banco.

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Os fundos globais do Brasil fizeram resgates de US$ 2 bilhões no acumulado do ano. "Isso se traduz em nenhuma entrada estrangeira no câmbio local do Brasil. Entretanto, os mercados emergentes tiveram entradas de US$ 1,6 bilhão de dólares na semana e US$ 58 bilhões de dólares no acumulado do ano, mas todas direcionadas para a China", divulgou o BofA.

No Brasil, esse problema é pior porque aqui temos uma crise fiscal. "Estamos piores que outros emergentes porque as contas públicas não fecham. As despesas aumentam e as receitas não sobem na mesma proporção", diz Bresciani.

Isso vai mudar?

No curto prazo, ainda não, diz o BofA. "O tamanho dos resgates de fundos locais do Brasil não está diminuindo e o Brasil continua carente de fluxos estrangeiros", publicaram os especialistas do banco.

O economista do Andbank concorda. "As empresas estão entregando resultados melhores, porque elas têm feito o dever de casa, mas o cenário político e o macro não mudam", diz Bresciani.

As eleições podem piorar a situação. "As despesas orçamentárias com o ano eleitoral e as possíveis mudanças de gestão municipais adicionadas ao movimento de troca de comando do Banco Central, causam mais incertezas sobre o quadro econômico de 2025", publicaram em relatório José Thomaz e Luciano Simões, respectivamente diretor-executivo e economista chefe do banco DTW.

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O que pode ajudar é o corte de juros que o banco central americano prevê para antes do fim do ano. O Federal Reserve, no entanto, previa dois cortes em 2024. Mas mudou sua posição e agora fala em apenas um. "O movimento na Bolsa tem potencial para mudar, se a taxa de juros cair, somado ao controle fiscal do governo e redução da inflação", diz Vírgilio Lage, especialista da Valor Investimentos.

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