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Impacto ecológico do gás de xisto ofusca interesse econômico

25/09/2013 17h25

PARIS, 25 Set 2013 (AFP) - Os críticos da exploração de gás e petróleo de xisto denunciam o impacto ecológico de sua exploração e defendem sua proibição, mas seus defensores acreditam que com regras mais rígidas alguns riscos constatados nos Estados Unidos podem ser controlados.

O "fracking", ou fratura hidráulica, é um dos principais pontos de discórdia. Consiste em injetar, através de tubos de perfuração e sob forte pressão, uma mistura de água, areia e produtos químicos.

Essa mistura provoca uma fissura na camada de "rocha-mãe", onde estão presos o gás e o petróleo, entre 2.000 e 4.000 metros de profundidade. As fissuras liberam os combustíveis, que são bombeados para a superfície.

Geólogos entrevistados pela AFP acreditam que o risco de que essas substâncias emerjam diretamente das profundezas da Terra é muito pequeno.

As fissuras criadas com essa injeção artificial costumam ter várias dezenas de metros - podendo chegar a 200 ou 300 m em casos extremos -, o que exclui a possibilidade de que o gás vaze para os lençóis freáticos, mil metros acima. Só foi registrado um caso desse tipo em Pavillion, no Wyoming, Estados Unidos.

Fortes pressões

Na verdade, o risco principal é observado na parte superior dos poços, que atravessa os lençóis freáticos devido, principalmente, ao fato de a camada de cimento que cerca os tubos metálicos da perfuração não ser totalmente hermética.

"Isso pode se dever aos fluidos que são injetados no tubo, aos fluidos que saem do tubo ou a fluidos do aquífero (reservas de água) atravessados pela perfuração. Mas não pode proceder de algo que, por definição, é muito mais profundo, como a rocha-mãe", afirma Bruno Goffé, geólogo e conselheiro científico do Centro Nacional de Pesquisa Científica francês (CNRS).

Esse risco existe em qualquer perfuração, mas a fratura "representa um risco adicional porque há uma forte pressão nos tubos para chegar a fraturar a rocha em profundidade, razão pela qual a pressão é muito, muito forte perto da superfície, e assim pode haver, evidentemente, fissuras ou acidentes", destaca.

Segundo Susan Brantley, uma geóloga americana, entre 1% e 3% dos poços apresentaram esse tipo de falhas. Os estudos mais alarmistas falam de mais de 6%.

Outra particularidade importante dos gases e petróleo alternativos é o número de perfurações em uma área pequena.

O risco de vazamentos ou acidentes - embora baixo - se multiplica pelo número de instalações (nos Estados Unidos são perfurados mais de 10.000 poços de combustíveis de xisto por ano), sem falar nos danos para o meio ambiente com a construção de poços.

A água

Outro grande problema é a água. Cada poço de gás de xisto precisa "de 10 a 20.000 metros cúbicos", isto é, entre 10 e 20 milhões de litros d'água, mais de 500 toneladas de areia e 50 toneladas de produtos químicos, lembra Thierry Froment, diretor geral da divisão "Oil and Gas" da gigante francesa de água Veolia.

No total, "de 60% a 80%" da mistura volta a subir, segundo ele. O resto, com 0,5% de produtos químicos, permanece na camada fissurada.

Em todo caso, essa água é perdida, o que representa um problema nas regiões áridas. Nos Estados Unidos, a que fica contaminada costuma passar sem tratamento para os poços de "injeção" e, na melhor das hipóteses, é tratada ligeiramente antes de voltar a ser usada em outras fraturas.

Nada impede, tecnicamente, uma solução mais limpa, permitindo reutilizá-la, por exemplo, na agricultura, mas o custo será muito maior (pelo menos quatro vezes mais, segundo Veolia), embora essa situação deva terminar predominando.

Produtos químicos, terremotos e metano

Os críticos denunciam o uso de produtos químicos na fratura. Em um catálogo de mais de 500 produtos, a mistura que se usa costuma conter entre uma dezena e uns 30 produtos, segundo o setor. Alguns "ingredientes" - mas nem todos - podem ser substituídos por equivalentes biodegradáveis, como a goma de guar.

Outro possível efeito da fratura são os terremotos; tratam-se de movimentos telúricos mínimos, com magnitudes que só os aparelhos podem detectar, embora exista o risco de se fazer uma fratura perto de uma falha geológica ativa, como aconteceu na Grã-Bretanha em 2011. Mas, segundo os geólogos, estudos sísmicos básicos permitem evitar isso.

Ao contrário, os poços de injeção de águas usadas podem gerar uma atividade telúrica muito mais significativa.

Outra consequência da perfuração é o vazamento de metano. Este gás de efeito estufa é pelo menos 25 mais potente do que o CO2, o que significa que se apenas 3% ou 4% vazarem, o balanço de carbono de gás de existo equivaleria ao do carvão, a energia fóssil mais suja.

Mas um estudo recente da Universidade do Texas sugere que os novos poços americanos, submetidos a regras mais rígidas, reduzem consideravelmente este efeito.

"Sempre há um pouco, mas é como o encanamento: se você tem um bom encanador, tem menos vazamentos", resumiu Goffé.