FMI diz que não renega o neoliberalismo e as políticas de austeridade
Washington, 2 Jun 2016 (AFP) - Um dos mais importantes economistas do Fundo Monetário Internacional disse nesta quinta-feira que a instituição internacional não está abandonando o neoliberalismo.
Para Maurice Obstfeld, o artigo escrito por três outros economistas do FMI criticando o Estado mínimo, as políticas de austeridade e a abertura de capitais foi "mal interpretado".
A publicação do artigo na semana passada pelo próprio FMI "não significa uma mudança na abordagem do Fundo", garantiu Obstfeld em uma entrevista divulgada no site da instituição.
Segundo ele, o FMI se engajou em uma reavaliação de sua abordagem de política econômica logo após a crise financeira.
Entretanto, ele disse, "esse processo não transformou fundamentalmente a base de nossa abordagem, que é baseada na abertura e na competitividade dos mercados, em robustas estruturas de políticas macroeconômicas, na estabilidade financeira e em instituições fortes".
O artigo ao qual Obstfeld se refere sugere que o receituário neoliberal prescrito para o crescimento econômico sustentável em países em desenvolvimento pode ter efeitos nocivos de longo prazo.
"Em vez de gerar crescimento, algumas políticas neoliberais aumentaram a desigualdade, colocando em risco uma expansão duradoura", argumentaram.
"O aumento da desigualdade prejudica o nível e a sustentabilidade do crescimento".
A nova consideração deu munição aos críticos ao FMI em países como Portugal e Grécia, que têm sofrido com as políticas de austeridade previstas pelo FMI.
Obstfeld ressalta que a austeridade é necessária em muitos casos.
"Ninguém quer austeridade desnecessária. Somos a favor de políticas fiscais que suportam o crescimento e equidade no longo prazo", disse ele.
"Os governos simplesmente tem que viver dentro de suas possibilidades no longo prazo, ou enfrentar de alguma forma a moratória da dívida, que normalmente sai muito cara para os cidadãos, especialmente os mais pobres. Isso é um fato, não é uma posição ideológica", acrescentou.
Obstfeld reconheceu que o FMI já havia aceito um outro ponto levantado no artigo: que a livre circulação de capitais propagada pelos neoliberais pode prejudicar as economias em desenvolvimento.
"Esse é um bom exemplo de nossa tentativa de aprender com as experiências", disse.
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