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Inseto resistente aos pesticidas ameaça cultivos nos EUA

18/08/2016 11h56

Homestead, Estados Unidos, 18 Ago 2016 (AFP) - Um inseto resistente aos pesticidas e portador de parasitas devastadores foi encontrado pela primeira vez na natureza nos Estados Unidos, acendendo alarmes pelos riscos para os cultivos de frutas e verduras.

A mosca branca (Bemisiatabaci) foi descoberta em abril nos jardins podados do rico condado de Palm Beach, na Flórida (sudeste), onde os jardineiros pulverizam periodicamente com inseticidas os canteiros de flores e os arbustos.

Este inseto, uma das espécies mais invasoras do mundo, já tinha sido encontrado em um viveiro privado no Arizona (sudoeste) há mais de dez anos, e desde então tinha sido registrado em 20 estados. Mas sempre foi visto em estufas ou em viveiros, não na natureza.

Esta é a primeira vez que a mosca branca é encontrada em um habitat selvagem no território americano, o que representa uma ameaça real para as plantações de tomate, feijão, algodão ou melão.

"O problema vai ser muito mais difícil de controlar" e pode ser impossível erradicar a espécie, afirma Lance Osborne, professor de entomologia da Universidade da Flórida.

"O que faz com que seja realmente diferente é essa resistência aos pesticidas", acrescenta durante uma reunião de dezenas de produtores que queriam aprender mais sobre este inseto em Homestead, uma zona agrícola perto de Miami.

"O melhor tratamento que temos disponível mata 90-91% delas", diz Osborne.

A mosca branca absorve a umidade das folhas, e em seus excrementos se reproduzem fungos. As folham se tornam marrons, o que complica a fotossíntese. Além disso, este inseto transporta mais de cem doenças virais que enfraquecem as plantas e podem tornar as frutas e vegetais não comestíveis.

"Uma calamidade maior"Há dezenas de tipos de moscas brancas em todo o mundo. Esta, de biótipo Q, teria sua origem em regiões mediterrâneas, provavelmente nos campos de tomates da Espanha e de Portugal, países onde se tornou resistente aos pesticidas.

O perigo foi levado a sério na Europa, cujas autoridades pedem aos agricultores que se mantenham vigilantes, e em Israel, onde o inseto também resiste ao tratamento.

Para o Ministério do Meio Ambiente do Reino Unido, este inseto "tem o potencial de se converter em uma calamidade maior".

Na Flórida, foi encontrado em abril em mais de 40 locais selvagens em todo o estado.

A mosca branca pode viver em 600 tipos de plantas diferentes, 300 das quais são cultivadas na Flórida, segundo o departamento de Agricultura.

"Além do fato de que é resistente aos pesticidas, também estamos preocupados pelo número de plantas onde pode se instalar", afirma Osborne. "Elas sempre encontrarão algo para atacar na terra".

O biótipo Q ainda não fez muitos estragos na Flórida, mas as autoridades estão reforçando os controles e inspeções, preparando os planos para controlar a proliferação deste inseto - impondo, por exemplo, quarentenas quando for necessário.

Dois milhões de empregos em risco"O afídio biótipo Q representa um sério risco para a indústria agrícola na Flórida, o que representa 120 bilhões de dólares, e os dois milhões de empregos que dependem dela", adverte Adam Putnam, comissário de Agricultura da Flórida.

A mosca branca é considerada responsável por parte da fome na África, e causou estragos na agricultura no sul dos Estados Unidos nas décadas de 1980 e 1990.

Os agricultores da região foram tomando consciência do perigo, e são incentivados a revisar regularmente suas plantas. Também podem enviar gratuitamente amostras ao laboratório do Ministério da Agricultura americano (USDA) para análise.

E as autoridades realizam vários controles sem aviso prévio, mesmo que isso não agrade todo mundo.

Osborne pediu aos agricultores que não entrem em pânico, visto que o arsenal de inseticidas existentes hoje é mais eficaz que há 30 anos.

"Podemos controlar melhor os jardins ou cultivos infestados se combinamos produtos e estabelecemos um programa" de combate, afirmou.

Não existe, porém, uma fórmula mágica. Embora estes inseticidas sejam mais poderosos do que antes, também são acusados de dizimar as populações de abelhas e outros insetos polinizadores necessários para as plantações.

E dada a natureza resistente do adversário, as soluções naturais ou orgânicas não funcionariam, lamenta Osborne.