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Dúvidas sobre Deutsche Bank contagiam setor bancário europeu

30/09/2016 19h03

Frankfurt am Main, 30 Set 2016 (AFP) - As dúvidas sobre a solidez do Deutsche Bank fizeram ressurgir, nesta sexta-feira (30), o temor de uma crise do setor bancário europeu.

As ações do banco, o mais importante da Alemanha, fecharam em alta na Bolsa de Frankfurt (+6,39%, a 11,57 euros), depois que uma fonte disse à AFP que a multa imposta pelos Estados Unidos em um caso relacionado com a crise das "subprimes" seria finalmente de US$ 5,4 bilhões, menos da metade dos US$ 14 bilhões previstos inicialmente.

Durante o dia, o título chegou a cair cerca de 8%, caindo pela primeira vez abaixo dos dez euros, uma volatilidade estimulada pelas dúvidas sobre sua solidez.

"Deutsche Bank é o quarto banco mais sistêmico do mundo. Quando se começa a ter dúvida sobre uma entidade deste tamanho, é normal que afete todo mundo", disse à AFP o diretor de Pesquisa da Axiom AI, Jérôme Legras.

Os bancos sistêmicos são considerados chave no sistema financeiro mundial e, por isso, muito grandes para quebrar - as chamadas instituições "Too Big to Fail".

Há vários dias, as atenções estão voltadas para a multa de US$ 14 bilhões anunciada pela Justiça americana e que agora poderá ser reduzida.

Além dessa ameaça, muitos analistas estão preocupados com seus problemas de rentabilidade e comparam a situação com a do Lehman Brothers, o banco cuja quebra deflagrou, em 2008, a crise financeira mundial.

Na quarta-feira, o ministro alemão das Finanças teve de desmentir que o governo esteja preparando um plano de resgate. Nesta sexta-feira (30), porém, as ações voltaram a cair momentaneamente, já que vários fundos de investimento estão reduzindo sua participação na entidade.

Em uma carta a seus funcionários divulgada hoje, o presidente John Cryan criticou "algumas forças no mercado, que querem minar a confiança" na instituição.

Já o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, disse que "a companhia tem que resolver seus próprios problemas", sem a ajuda do Estado, embora tenha reconhecido que a multa é "muito elevada".

Taxa de juros baixasA crise nesta sexta-feira arrastou o resto do setor. Grandes bancos europeus fecharam com suas ações em baixa.

Foi o caso do Commerzbank, o segundo maior banco alemão, cujas ações despencaram quase 6%. Na quinta-feira (29), a instituição anunciou um amplo plano de reestruturação que inclui a supressão de 9.600 postos de trabalho (um em cada cinco) e a suspensão dos dividendos aos acionistas.

Seu presidente, Martin Zielke, reconheceu nesta sexta-feira que vai "viver com certa volatilidade".

Os investidores temem, sobretudo, o modo como os bancos europeus se movimentam, com taxa de juros historicamente baixas que cortam sua margem de lucro.

Além disso, para estimular os empréstimos a empresas e particulares, os bancos centrais cobram juros das entidades que depositam dinheiro em seus cofres.

Isso as obriga a mudar seu modelo de negócios, buscando novas fontes de receita, com novos serviços, e atuando em continentes que até agora não eram prioritários, como a Ásia.

Desde a crise de 2007-2008, os bancos precisam cumprir novas normas para prevenir a quebra, entre elas o aumento de suas reservas. No entanto, as medidas não são bem recebidas, já que os bancos temem perder rentabilidade.

"O caso do Deutsche Bank demonstra o contrário, porque temos todas essas exigências regulamentares, mas restritas, que permitem enfrentar esse tipo de situação", comenta o economista Nicolas Véron, do Peterson Institute, de Washington.

Joel Kruger, analista para a LMAX Exchange, é menos otimista e garante que, ainda que o "pânico" não seja o mesmo daquele com Lehman Brothers em 2008, "os governos e os bancos centrais não dispõem dos mesmos instrumentos".

"É um panorama aterrador que colocará à prova a determinação dos mercados nos próximos meses", advertiu.

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