Putin e Erdogan restabelecem uma aliança que incomoda o Ocidente
Istambul, 27 dez 2016 (AFP) - Há apenas alguns meses, Vladimir Putin e Recep Tayyip Erdogan só trocavam insultos. Mas os líderes de Rússia e Turquia tecem agora uma aliança encarada com preocupação pelo Ocidente.
Mas o assassinato recente do embaixador russo em Ancara, Andrei Karlov, criou questionamentos sobre como o crime influenciará essa aproximação diplomática.
No entanto, os dois dirigentes evitaram trocar acusações e afirmaram, inclusive, que o episódio não prejudicará suas relações.
Além disso, a Turquia até concordou, fato raro, em deixar especialistas russos participarem da investigação sobre o caso.
Nos momentos mais tensos entre Moscou e Ancara, no fim de 2015, Putin acusou seu colega turco de traficar petróleo com os extremistas do Estado Islâmico e de fazer o fundador do Estado turco moderno, Ataturk, "se revirar no túmulo".
Estas acusações foram feitas após a queda de um avião russo por parte de dois caças turcos na fronteira com a Síria, onde Moscou intervém em apoio ao regime de Bashar al-Assad.
Erdogan respondeu a Putin acusando-o de ser responsável por "crimes de guerra" na Síria.
Mas um ano depois - e embora Putin siga apoiando Assad e Erdogan a oposição síria -, ambos parecem ter virado a página, concretizando múltiplos projetos de cooperação energética.
Estes dois líderes pós-imperialistas, ambos com mais de 60 anos, têm em comum o fato de terem chegado ao poder em 2000 - quando seus países passavam por uma grave crise financeira -, além de uma atitude desafiadora em relação à Europa e aos Estados Unidos, enquanto em casa enfrentam problemas econômicos crescentes.
'Zona de perigo'Nos últimos anos, principalmente depois da anexação da Crimeia em 2014 por parte da Rússia, Putin se acostumou a ser recebido com frieza nos países ocidentais, que inclusive o excluíram do G8.
A intervenção na Síria e a crescente repressão sobre a sociedade civil em seu país só aumentaram as tensões.
Por sua vez, Erdogan era encarado em seus primeiros anos no poder como um reformador islâmico que não hesitava em impulsionar reformas audazes e que estava comprometido com os objetivos do Ocidente, no âmbito do pacto da Otan.
Mas 2016 marcou uma guinada na história moderna da Turquia, não apenas nas relações com o Ocidente, especialmente depois do golpe de Estado frustrado impulsionado por militares dissidentes no dia 15 de julho.
"Para o Ocidente, a Turquia entrou em uma zona de perigo com riscos múltiplos", explicou Marc Pierini, professor visitante no Carnegie Europe.
'Melhor do que nunca'A relação entre Bruxelas e Ancara foi minada pela percepção da Turquia de uma falta de solidariedade da UE em um ano no qual o país sofreu vários atentados, e pelas críticas dos europeus à repressão posterior ao golpe de Estado.
O pedido da Turquia para ser admitida na União Europeia, uma pedra angular de sua política externa desde a década de 1960, colidiu contra um muro e alguns especialistas sugerem que é mais realista abandonar totalmente este caminho e buscar outra forma de associação.
Já com a Rússia, Ancara vive uma lua de mel.
Enquanto a Rússia apoia Damasco na campanha para retomar Aleppo - a segunda cidade síria -, a Turquia mantém um silêncio notório.
"Agora nos entendemos melhor do que nunca (em relação à Síria)", disse neste mês o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, depois de viajar a Moscou.
"Não convêm à Europa que a Turquia se oriente ao eixo russo, que se torne instável ou que entre em uma crise econômica", advertiu Asli Aydintasbas, especialista do Conselho Europeu sobre as Relações Exteriores (ECFR).
'Prisioneiros em 780.000 km2'Os dois líderes chegaram ao poder no momento oportuno para assumir um lugar na história.
Putin chegou ao Kremlin quando o país digeria a traumática queda da extinta União Soviética, com o anseio de voltar a ver Moscou como uma grande potência.
Na Turquia, muitos ainda sonham com o tempo em que o sultão otomano era o califa de todo o mundo islâmico.
O homem forte da Rússia, que descreveu a queda da URSS como a pior tragédia geopolítica do século, não cedeu em sua vontade de restaurar a influência russa e lembrar ao mundo seu status de "grande potência" no conflito sírio.
Por sua vez, Erdogan deixou claro que pensa que a influência turca deve se estender para além dos limites impostos após o fim do Império Otomano, no tratado posterior à Primeira Guerra Mundial.
"Estivemos afastados deste território durante um século (...) Estamos prisioneiros em um território de 780.000 quilômetros quadrados", afirmou.
A popularidade dos dois líderes não foi construída apenas com um discurso que voltava a gerar confiança nos nostálgicos após a perda de seu império, mas também revitalizando a economia para que o dinheiro circulasse.
Mas atualmente o milagre econômico de Putin está em xeque e o forte crescimento que marcou a era de Erdogan perde força.
"Seguimos pensando que a Turquia vai enfrentar uma crise bancária ou de crescimento no médio prazo", estimou o analista Charles Robertson, economista-chefe do banco de investimentos Renaissance Capital.
Mas o assassinato recente do embaixador russo em Ancara, Andrei Karlov, criou questionamentos sobre como o crime influenciará essa aproximação diplomática.
No entanto, os dois dirigentes evitaram trocar acusações e afirmaram, inclusive, que o episódio não prejudicará suas relações.
Além disso, a Turquia até concordou, fato raro, em deixar especialistas russos participarem da investigação sobre o caso.
Nos momentos mais tensos entre Moscou e Ancara, no fim de 2015, Putin acusou seu colega turco de traficar petróleo com os extremistas do Estado Islâmico e de fazer o fundador do Estado turco moderno, Ataturk, "se revirar no túmulo".
Estas acusações foram feitas após a queda de um avião russo por parte de dois caças turcos na fronteira com a Síria, onde Moscou intervém em apoio ao regime de Bashar al-Assad.
Erdogan respondeu a Putin acusando-o de ser responsável por "crimes de guerra" na Síria.
Mas um ano depois - e embora Putin siga apoiando Assad e Erdogan a oposição síria -, ambos parecem ter virado a página, concretizando múltiplos projetos de cooperação energética.
Estes dois líderes pós-imperialistas, ambos com mais de 60 anos, têm em comum o fato de terem chegado ao poder em 2000 - quando seus países passavam por uma grave crise financeira -, além de uma atitude desafiadora em relação à Europa e aos Estados Unidos, enquanto em casa enfrentam problemas econômicos crescentes.
'Zona de perigo'Nos últimos anos, principalmente depois da anexação da Crimeia em 2014 por parte da Rússia, Putin se acostumou a ser recebido com frieza nos países ocidentais, que inclusive o excluíram do G8.
A intervenção na Síria e a crescente repressão sobre a sociedade civil em seu país só aumentaram as tensões.
Por sua vez, Erdogan era encarado em seus primeiros anos no poder como um reformador islâmico que não hesitava em impulsionar reformas audazes e que estava comprometido com os objetivos do Ocidente, no âmbito do pacto da Otan.
Mas 2016 marcou uma guinada na história moderna da Turquia, não apenas nas relações com o Ocidente, especialmente depois do golpe de Estado frustrado impulsionado por militares dissidentes no dia 15 de julho.
"Para o Ocidente, a Turquia entrou em uma zona de perigo com riscos múltiplos", explicou Marc Pierini, professor visitante no Carnegie Europe.
'Melhor do que nunca'A relação entre Bruxelas e Ancara foi minada pela percepção da Turquia de uma falta de solidariedade da UE em um ano no qual o país sofreu vários atentados, e pelas críticas dos europeus à repressão posterior ao golpe de Estado.
O pedido da Turquia para ser admitida na União Europeia, uma pedra angular de sua política externa desde a década de 1960, colidiu contra um muro e alguns especialistas sugerem que é mais realista abandonar totalmente este caminho e buscar outra forma de associação.
Já com a Rússia, Ancara vive uma lua de mel.
Enquanto a Rússia apoia Damasco na campanha para retomar Aleppo - a segunda cidade síria -, a Turquia mantém um silêncio notório.
"Agora nos entendemos melhor do que nunca (em relação à Síria)", disse neste mês o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, depois de viajar a Moscou.
"Não convêm à Europa que a Turquia se oriente ao eixo russo, que se torne instável ou que entre em uma crise econômica", advertiu Asli Aydintasbas, especialista do Conselho Europeu sobre as Relações Exteriores (ECFR).
'Prisioneiros em 780.000 km2'Os dois líderes chegaram ao poder no momento oportuno para assumir um lugar na história.
Putin chegou ao Kremlin quando o país digeria a traumática queda da extinta União Soviética, com o anseio de voltar a ver Moscou como uma grande potência.
Na Turquia, muitos ainda sonham com o tempo em que o sultão otomano era o califa de todo o mundo islâmico.
O homem forte da Rússia, que descreveu a queda da URSS como a pior tragédia geopolítica do século, não cedeu em sua vontade de restaurar a influência russa e lembrar ao mundo seu status de "grande potência" no conflito sírio.
Por sua vez, Erdogan deixou claro que pensa que a influência turca deve se estender para além dos limites impostos após o fim do Império Otomano, no tratado posterior à Primeira Guerra Mundial.
"Estivemos afastados deste território durante um século (...) Estamos prisioneiros em um território de 780.000 quilômetros quadrados", afirmou.
A popularidade dos dois líderes não foi construída apenas com um discurso que voltava a gerar confiança nos nostálgicos após a perda de seu império, mas também revitalizando a economia para que o dinheiro circulasse.
Mas atualmente o milagre econômico de Putin está em xeque e o forte crescimento que marcou a era de Erdogan perde força.
"Seguimos pensando que a Turquia vai enfrentar uma crise bancária ou de crescimento no médio prazo", estimou o analista Charles Robertson, economista-chefe do banco de investimentos Renaissance Capital.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.