Fazendeiros do Vietnã trocam o arroz pelo camarão
Sóc Trang, Vietnã, 18 Ago 2017 (AFP) - Com um relógio de ouro brilhante e um anel combinando, Tang Van Cuol tem uma aparência bem diferente do que se imagina de um agricultor vietnamita, enquanto toma um drinque de vinho de arroz e se gaba dos sucesso financeiro de seu negócio.
Após anos vivendo apenas com o mínimo, plantando arroz e cebolas e criando patos, o fazendeiro de 54 anos mudou completamente de vida em 2000, por causa do camarão.
O Delta Mekong, por muito tempo conhecido como "a tigela de arroz do Vietnã", agora também é a casa da bilionária indústria do camarão, e um número crescente de fazendeiros estão acumulando fortunas com os pequenos crustáceos.
"A criação de camarão pode ser muito lucrativa, nada se compara", opina Cuol num almoço com seus amigos, em que comiam arroz, salada, porco e, claro, camarão.
Neste ano, ele espera uma receita de 1 bilhão de dongs, cerca de 44 mil dólares, uma soma expressiva no delta, onde os fazendeiros faturam cerca de 100 dólares ao mês.
A prosperidade do camarão começou por volta de 1990, quando mudanças climáticas levaram águas salgadas para esse delta.
Essa onda apareceu ao mesmo tempo em que subiu a demanda dos Estados Unidos e da União Europeia.
Locais experientes notaram a oportunidade e migraram da plantão da arroz para a criação de camarão.
A riqueza transformou a província de Soc Trang: bicicletas foram substituídas por motos nas estradas recém-pavimentadas, salpicadas de casas de concreto com vários andares, algo inimaginável uma geração antes.
Cuol é o dono de várias motocicletas, pagou pelo casamento de sua filha e tem uma coleção de antiguidades "avaliadas em milhões de dongs".
- Crise iminente -Ambientalistas alertam, contudo, que a recompensa pela criação intensiva de camarões pode não durar muito.
A poluição e as doenças frequentemente assolam as colheitas de crustáceos.
Mas uma crise maior aparece no horizonte com a destruição de manguezais para dar espaço às fazendas, expondo a região a riscos que vão de tempestades ao aumento do nível do mar, relacionado ao aquecimento global.
"Isso não é sustentável", alertou Andrew Wyatt, gerente de projetos do Delta Mekong Delta no International Union for Conservation of Nature (IUCN).
O IUCN encoraja os criadores a preservar os mangues e parar de usar produtos químicos agressivos, para que o camarão possa ser certificado como orgânico, aumentando de 5% a 10% o valor.
Contudo, os produtores do crustáceo explicam que os lucros são tentadores demais para ignorar.
Como seu pai e seu avô, Tang Van Tuoi passou por tempos difíceis como agricultor de arroz.
Ele dormia numa casa cujo teto era feito de folhas de coqueiro e ganhava o bastante apenas para sustentar sua família.
Mas quando a água do mar começou a estragar os campos de arroz, ele viu nisso uma oportunidade e começou a criar camarões.
"Agora, tudo é desenvolvido, temos carros, estradas, as coisas mudaram muito", disse ele à AFP na sala de sua casa, com uma televisão de tela plana e móveis de madeira.
Mesmo num ano ruim, ele consegue faturar mais que nos tempos de plantações de arroz. Num ano bom, pode lucrar até 40 mil dólares.
Com o dinheiro, ele construiu três casas para sua família.
"Nós temos dinheiro, temos o bastante para qualquer coisa", disse o pai de seis filhos.
Ele admite, contudo, que esse negócio é uma aposta.
Seus reservatórios já foram afetados por doenças e poluição.
Atento aos riscos a longo prazo, o governo resiste a abrir toda a região para a indústria do camarão, apesar de a água do mar adentrar cada vez mais no país.
- Riscos alimentares - Em vez disso, as autoridades investiram milhões de dólares no isolamento das zonas de água doce, necessárias para o cultivo de arroz - alimento básico do Vietnã - em todo o Delta Mekong.
A estratégia quer garantir que a região produza arroz o bastante para o consumo interno, um pilar da economia planificada do governo comunista.
Contudo, conforme o país adotou reformas de mercado, a tentação de exportar o lucrativo camarão se tornou cada vez mais atraente.
Neste ano, o primeiro-ministro previu um aumento nas exportações a 10 bilhões de dólares em 2025, ante os 3 bilhões do ano passado.
Em paralelo, as receitas com exportação de arroz tem caído consistentemente desde 2011, alcançando 2,2 bilhões em 2016.
"Eles estão tentando equilibrar o faturamento com o desenvolvimento econômico e as exportações, mas sem sacrificar a segurança alimentar a longo prazo", explicou Tim Gorman, um pesquisador da Cornell University.
O resultado é que as políticas públicas estimulam, simultaneamente, o dinheiro rápido da criação de camarão e a proteção do futuro a longo prazo das plantações de arroz.
Isso parece uma contradição para os fazendeiros.
Em algumas áreas, o governo está estimulando agricultores a cultivar arroz durante metade do ano e criar os crustáceos na outra metade - uma proposta pouco atraente para fazendeiros como Thach Ngoc Cuong, ansiosos para abandonar o arroz.
Ele tem dois terrenos na província de Soc Trang, uma com água doce para o arroz e a outra salgada para os lucrativos camarões.
"Eu ficaria muito feliz se pudesse criar camarões e cultivar arroz lado a lado", disse.
bur-jv/apj/lt/ll
Após anos vivendo apenas com o mínimo, plantando arroz e cebolas e criando patos, o fazendeiro de 54 anos mudou completamente de vida em 2000, por causa do camarão.
O Delta Mekong, por muito tempo conhecido como "a tigela de arroz do Vietnã", agora também é a casa da bilionária indústria do camarão, e um número crescente de fazendeiros estão acumulando fortunas com os pequenos crustáceos.
"A criação de camarão pode ser muito lucrativa, nada se compara", opina Cuol num almoço com seus amigos, em que comiam arroz, salada, porco e, claro, camarão.
Neste ano, ele espera uma receita de 1 bilhão de dongs, cerca de 44 mil dólares, uma soma expressiva no delta, onde os fazendeiros faturam cerca de 100 dólares ao mês.
A prosperidade do camarão começou por volta de 1990, quando mudanças climáticas levaram águas salgadas para esse delta.
Essa onda apareceu ao mesmo tempo em que subiu a demanda dos Estados Unidos e da União Europeia.
Locais experientes notaram a oportunidade e migraram da plantão da arroz para a criação de camarão.
A riqueza transformou a província de Soc Trang: bicicletas foram substituídas por motos nas estradas recém-pavimentadas, salpicadas de casas de concreto com vários andares, algo inimaginável uma geração antes.
Cuol é o dono de várias motocicletas, pagou pelo casamento de sua filha e tem uma coleção de antiguidades "avaliadas em milhões de dongs".
- Crise iminente -Ambientalistas alertam, contudo, que a recompensa pela criação intensiva de camarões pode não durar muito.
A poluição e as doenças frequentemente assolam as colheitas de crustáceos.
Mas uma crise maior aparece no horizonte com a destruição de manguezais para dar espaço às fazendas, expondo a região a riscos que vão de tempestades ao aumento do nível do mar, relacionado ao aquecimento global.
"Isso não é sustentável", alertou Andrew Wyatt, gerente de projetos do Delta Mekong Delta no International Union for Conservation of Nature (IUCN).
O IUCN encoraja os criadores a preservar os mangues e parar de usar produtos químicos agressivos, para que o camarão possa ser certificado como orgânico, aumentando de 5% a 10% o valor.
Contudo, os produtores do crustáceo explicam que os lucros são tentadores demais para ignorar.
Como seu pai e seu avô, Tang Van Tuoi passou por tempos difíceis como agricultor de arroz.
Ele dormia numa casa cujo teto era feito de folhas de coqueiro e ganhava o bastante apenas para sustentar sua família.
Mas quando a água do mar começou a estragar os campos de arroz, ele viu nisso uma oportunidade e começou a criar camarões.
"Agora, tudo é desenvolvido, temos carros, estradas, as coisas mudaram muito", disse ele à AFP na sala de sua casa, com uma televisão de tela plana e móveis de madeira.
Mesmo num ano ruim, ele consegue faturar mais que nos tempos de plantações de arroz. Num ano bom, pode lucrar até 40 mil dólares.
Com o dinheiro, ele construiu três casas para sua família.
"Nós temos dinheiro, temos o bastante para qualquer coisa", disse o pai de seis filhos.
Ele admite, contudo, que esse negócio é uma aposta.
Seus reservatórios já foram afetados por doenças e poluição.
Atento aos riscos a longo prazo, o governo resiste a abrir toda a região para a indústria do camarão, apesar de a água do mar adentrar cada vez mais no país.
- Riscos alimentares - Em vez disso, as autoridades investiram milhões de dólares no isolamento das zonas de água doce, necessárias para o cultivo de arroz - alimento básico do Vietnã - em todo o Delta Mekong.
A estratégia quer garantir que a região produza arroz o bastante para o consumo interno, um pilar da economia planificada do governo comunista.
Contudo, conforme o país adotou reformas de mercado, a tentação de exportar o lucrativo camarão se tornou cada vez mais atraente.
Neste ano, o primeiro-ministro previu um aumento nas exportações a 10 bilhões de dólares em 2025, ante os 3 bilhões do ano passado.
Em paralelo, as receitas com exportação de arroz tem caído consistentemente desde 2011, alcançando 2,2 bilhões em 2016.
"Eles estão tentando equilibrar o faturamento com o desenvolvimento econômico e as exportações, mas sem sacrificar a segurança alimentar a longo prazo", explicou Tim Gorman, um pesquisador da Cornell University.
O resultado é que as políticas públicas estimulam, simultaneamente, o dinheiro rápido da criação de camarão e a proteção do futuro a longo prazo das plantações de arroz.
Isso parece uma contradição para os fazendeiros.
Em algumas áreas, o governo está estimulando agricultores a cultivar arroz durante metade do ano e criar os crustáceos na outra metade - uma proposta pouco atraente para fazendeiros como Thach Ngoc Cuong, ansiosos para abandonar o arroz.
Ele tem dois terrenos na província de Soc Trang, uma com água doce para o arroz e a outra salgada para os lucrativos camarões.
"Eu ficaria muito feliz se pudesse criar camarões e cultivar arroz lado a lado", disse.
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