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Franceses sofrem com a falta de sua valiosa manteiga

14/11/2017 11h56

Paris, 14 Nov 2017 (AFP) - Uma escassez de manteiga disparou o alarme entre os franceses, que a compram onde quer que a encontrem e fazem buscas ansiosas no Google, revelando como estão ligados a esse produto, que agora também ganhou espaço em outras mesas do mundo.

As causas dessa escassez são várias, e muitos profissionais argumentam que ela é fictícia, resultado de uma falta de compreensão entre distribuidores e grandes redes varejistas.

Mas em um país cuja gastronomia é patrimônio imaterial da humanidade, a imagem das prateleiras vazias onde normalmente se viam ofertas de marcas de manteiga tornou-se um inédito costume desde setembro.

Entre 30 de outubro e 5 de novembro, as grandes redes não têm conseguido enfrentar mais de 47% da demanda, um aumento preocupante para cidadãos que consomem 8 quilos ao ano cada um, um recorde mundial.

- Manteiga caseira -Linda Benhassan, que trabalha em um supermercado no centro de Paris, explicou que alguns levam dezenas de pacotes. "As pessoas têm medo de ficar sem, especialmente agora, com a proximidade do Natal".

A busca sobre "como fazer manteiga" disparou 928% entre setembro e outubro de 2017 no Google e o canal culinário francês Hervé Cuisine postou um vídeo no Youtube sobre como fabricá-la que teve mais de 82.000 visualizações em uma semana.

"Eu havia publicado a receita de um pastel, mas algumas pessoas me disseram que não encontravam manteiga" para o preparo", contou à AFP o responsável pelo canal, Hervé Palmieri. Com seu tutorial teve um sucesso de visualizações que "há tempo não registrava".

- Uma volta à infância -"Os franceses mantêm uma relação muito afetuosa com a manteiga", explica Remy Lucas, sociólogo de alimentação.

"Por um lado é uma volta à infância, à doçura das comidas mais íntimas, isto é, ao café da manhã e ao lanche", em que a manteiga é passada no pão. "Por outro lado, ela está associada à cozinha tradicional", onde essa gordura animal é utilizada para fazer molhos e cozinhar os alimentos.

Com essa penúria, "notamos até que ponto a manteiga faz parte de nosso dia a dia. Embora possamos prescindir dela do ponto de vista nutricional e culinário (...) a ideia de que possa faltar é insuportável para nós", afirma.

Para alguns, a angústia é tanta que compram produtos profissionais.

No site Tompress, especialista em material culinário, a metade das vendas anuais de máquinas de fazer manteiga (50) e desnatadoras elétricas foram feitas em três semanas, disse à AFP o responsável de compras, Micaël Diancoff.

- Croissants na China -Um dos fatores-chave para a escassez do produto é o aumento da demanda em muitos países devido a uma "reabilitação" da manteiga - desaconselhada durante décadas pelos nutricionistas-, assim como o sucesso crescente da confeitaria francesa, especialmente na China. A isso se soma uma produção de leite em baixa no mundo.

Consequentemente, os preços dispararam, de 2.500 euros a tonelada em abril de 2016 para 7.000 euros em meados deste ano. Os agricultores acusam as grandes redes varejistas de se negarem a pagar o preço justo, provocando a escassez nas prateleiras, que se acentua com as compras em massa dos consumidores angustiados.

- Manteiga congelada -Um indício de que a penúria não seria real é que padarias e pastelarias continuam recebendo a manteiga que encomendam nos atacadistas, embora haja uma escalada dos preços.

A manteiga que há 15 meses custava 4,80 euros o quilo para Dominique Eury, proprietário de uma loja no oeste de Paris, agora sai por 8,50.

"Embora tenhamos subido um pouco os preços de nossos croissants, não podemos repassar totalmente (o aumento de custos para o consumudor)", diz o pandeiro.

Eury explica que com a proximidade do Natal, se armazenará um pouco mais que o habitual, como também faz seu colega Arnaud Delmontel, dono de quatro padarias em Paris.

Delmontel estima que "há quem esteja fazendo muito dinheiro" con essa situação e afirma que seu provedor recebe manteiga que perde água. "Isso quer dizer que ela foi congelada, que há gente que a retém para que os preços aumentem".

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