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Economia da Turquia enfrenta sua maior crise desde 2001; entenda os motivos

13/08/2018 15h40Atualizada em 13/08/2018 18h08

Istambul, 13 Ago 2018 (AFP) - A queda vertiginosa da lira frente ao dólar representa o maior desafio econômico para a Turquia desde a crise financeira de 2001. As razões da queda são tanto conjunturais como estruturais.

Em 10 de agosto, dia que os economistas batizaram como "sexta-feira negra", a lira perdeu 16% de seu valor frente ao dólar, uma queda acelerada pelo tuíte de Donald Trump anunciando sua intenção de dobrar as tarifas sobre importação de aço e alumínio turcos.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, tentou tranquilizar os mercados nesta segunda-feira (13) e afirmou que os fundamentos da economia turca são "sólidos". Os economistas, entretanto, estimam que, além das políticas econômicas do governo, é preciso buscar outras explicações para as dificuldades da Turquia, 17ª economia mundial.

Veja abaixo alguns motivos para a instabilidade na Turquia:

- Crise com os Estados Unidos: No começo de agosto, os Estados Unidos impuseram sanções contra dois ministros de Erdogan em protesto pela prisão de um pastor americano. A Turquia, por sua vez, aplicou medidas similares. Esta crise entre dois membros importantes da Otan, a mais grave em 40 anos, desestabilizou os investidores e provocou uma espetacular queda da lira turca frente ao dólar na semana passada. As sanções dos Estados Unidos "secam os fluxos de capitais" em direção à Turquia, apontou a consultoria "Capital Economics".

- Problemas estruturais: Antes da crise com os Estados Unidos, os economistas anunciavam uma iminente tormenta financeira. Os especialistas consideram que Erdogan antecipou as eleições, previstas para 2019, para tentar esquivá-la. A tensão entre Turquia e EUA só fez "exacerbar" uma crise econômica emergente, afirma Paul T. Levin, diretor do Instituto de Estudos Turcos da Universidade de Estocolmo. Os problemas estruturais da Turquia se refletem em uma forte inflação, que, em julho, chegou a quase 16% na comparação com o ano passado, e um déficit das contas correntes que não para de aumentar.

- Política heterodoxa: Desde a sua chegada ao poder, em 2003, Erdogan construiu grande parte de sua popularidade a partir de um elevado crescimento e de colossais projetos de infraestrutura. Os economistas descrevem o presidente turco como um partidário do "crescimento a qualquer preço", começando com um forte endividamento.

Em muitas ocasiões, as teses defendidas por Erdogan provocam surpresas. Por exemplo, quando ele disse que baixar as taxas de juros reduz a inflação, enquanto a maioria dos economistas afirma o contrário. "Era evidente há muito tempo (...) que o mau governo econômico acabaria tendo consequências", diz Levin.

- Taxa de juros: O Banco Central da Turquia, em teoria, deve ser independente, mas muitos economistas acreditam que ele está cada vez mais sob pressão de Erdogan. Sua decisão de não aumentar as taxas de juros na semana passada alarmou os mercados.

Nesta segunda-feira, o Banco Central anunciou uma série de medidas para tentar tranquilizar os investidores --entre elas, uma que daria toda liquidez necessária às entidades bancárias. "As medidas em relação à liquidez não atacam o problema principal, que é a queda da lira", afirma Konstantinos Anthis, analista da ADS Securities.

- Equipe econômica: Após as eleições de junho, a Turquia passou a um sistema "hiperpresidencial", que concentra nas mãos do chefe de Estado todos os poderes executivos. Erdogan também nomeou como ministro do Tesouro e das Finanças seu genro, Berat Albayrak, que tem pouca experiência. "Sem dúvida, é a ausência de uma resposta rápida, firme e racional por parte das autoridades turcas o que enviou a lira ao abismo", diz Levin.