Partido de Erdogan tenta evitar derrotas em difícil eleição na Turquia
Istambul, 31 Mar 2019 (AFP) - A oposição turca dispunha, neste domingo, de uma curta vantagem na capital, Ancara, contra o partido do presidente, Recep Tayyip Erdogan, em eleições municipais consideradas um teste para seu governo em plena tempestade econômica, com alta inflação e desemprego.
Segundo a agência pública de notícias Anadolu, o candidato comum dos partidos de oposição CHP (social-democrata) e Iyi (direita), Mansur Yavas, liderava a apuração em Ancara com 49,8% dos votos contra 47,8% para o candidato do governista AKP, após a apuração de 75% das urnas.
Uma derrota em Ancara, a capital política do país onde foi construído um gigantesco palácio presidencial, representaria um revés sem precedentes para Erdogan, que ganhou todas as eleições desde que seu partido, o AKP, chegou ao poder, em 2002.
Os olhares estão voltados, sobretudo, para Ancara e Istambul, coração econômico e demográfico do país, onde a hegemonia de 25 anos do AKP e de seus predecessores islamistas está ameaçada.
Em Istambul, o candidato de Erdogan, o ex-primeiro-ministro Binali Yildirim, se perfilava como vencedor. Segundo a Anadolu, Yildirim lidera a eleição local com 49,7% dos votos, contra 47,8% de seu principal oponente, após a apuração de 88% das urnas.
Mas seu adversário, Ekrem Imamoglu, desafiou as cifras da Anadolu durante a noite e disse que ele está ganhando com 53% dos votos, após apurar 26% das urnas.
Os turcos votaram para eleger seus prefeitos, vereadores e chefes de bairro ("muhtar").
- "Mito de invencibilidade" -Aos 65 anos, Erdogan não poupou esforços para tentar convencer os eleitores a votar em seu partido, realizando 102 reuniões em 50 dias.
Este empenho se deve a que uma derrota "derrubaria seu mito de invencibilidade", aponta Emre Erdogan, professor na universidade Bilgi de Istambul.
Erdogan afirmou que "a sobrevivência da nação" está em jogo e pediu que os eleitores "enterrem nas urnas" os inimigos do país. Mas a oposição pediu para a população aproveitar estas últimas eleições até 2023 para sancionar a política econômica do poder.
Os olhares também estão voltados para os resultados finais nos 30 municípios metropolitanos que constituem o pulmão econômico do país, com várias disputas acirradas, como em Bursa (noroeste) e Antalya (sul).
- Inflação -Para evitar uma derrota humilhante em Istambul, sua cidade natal e da qual foi prefeito entre 1994 e 1998, Erdogan enviou o ex-primeiro-ministro Binali Yildirim.
Em Ancara, aonde enviou um ex-ministro, a situação parece mais complicada visto que as pesquisas dão uma clara vantagem ao candidato da oposição, Mansur Yavas.
Consciente de que a inflação de cerca de 20% atingiu duramente os turcos, Erdogan pediu às prefeituras de Istambul e Ancara que abram seus próprios postos de frutas e verduras com grandes descontos.
Mas em vez de se concentrar nas dificuldades econômicas, que atribui a uma "operação do Ocidente", fez campanha sobretudo no terreno da segurança, com o olhar posto na ameaça terrorista e nas potências hostis.
Neste domingo duas coalizões se enfrentaram: de um lado o AKP de Erdogan e seus aliados ultranacionalistas do MHP; e do outro os social-democratas do CHP e o partido de direita Iyi.
Estes últimos contam com o apoio dos pró-curdos do HDP, que não apresentaram candidatos em Istambul nem Ancara para evitar uma dispersão dos votos contrários a Erdogan.
Foram registrados incidentes em vários centos de votação do país. Duas pessoas foram mortas a tiros em Malatya (leste), segundo as autoridades, que acrescentaram que quatro pessoas foram detidas.
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