Os fatos que levaram a novas eleições na Bolívia
La Paz, 24 Nov 2019 (AFP) - Com o cancelamento das eleições de 20 de outubro - em que o então presidente da Bolívia, Evo Morales, conquistou um quarto mandato consecutivo em meio a denúncias de fraude -, foi promulgada neste domingo uma lei para convocar novas eleições no país.
Desta forma, e após um mês de violência, que deixou 32 mortos, o país iniciou o caminho rumo a eleições que, pela primeira vez em 18 anos, não terão como candidato o agora ex-presidente indígena, asilado no México.
Segue abaixo um resumo dos principais fatos da crise boliviana:
- Eleição presidencial -Em 20 de outubro foi celebrada na Bolívia a eleição presidencial. O esquerdista Evo Morales, primeiro chefe de Estado indígena no país e no poder há 13 anos, tenta o quarto mandato, apesar de a possibilidade ter sido rejeitada em um referendo em 2016 e posteriormente avalizada pela justiça.
De nove candidatos, só o centrista Carlos Mesa, que exerceu a Presidência entre 2003 e 2005, estava na corrida para enfrentá-lo em um eventual segundo turno.
- Rumo a um segundo turno -Na noite da votação, Morales liderava a apuração com 45,28% dos votos à frente de Mesa, que tinha 38,16%. Os dois candidatos se encaminhavam, assim, para um segundo turno sem precedentes na Bolívia, após a apuração de 84% dos votos.
Para evitar um segundo turno, o candidato principal deve obter a maioria absoluta ou pelo menos 40% dos votos com uma diferença de dez pontos percentuais sobre o segundo colocado.
A oposição e os observadores internacionais criticaram o ritmo lento das autoridades para divulgar o resultado final, temendo uma possível fraude.
Começam manifestações nas ruas.
Na segunda-feira, 21 de outubro, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) atribui 46,4% dos votos a Morales contra 37,07% para Mesa, com 95,63% das urnas apuradas. A brecha se aproxima dos dez pontos necessários para a vitória no primeiro turno. Mesa denuncia "fraude".
- As ruas ardem -Em várias regiões eclodiram incidentes violentos, que incluíram incêndios, confrontos com a Polícia e saques.
Manifestantes queimaram na segunda-feira três escritórios regionais do TSE em Potosí (sudoeste), Sucre (sudeste) e Cobija (norte).
Na terça, 22, organizações civis opositoras convocaram uma greve geral a partir da quarta-feira por tempo indeterminado.
Na quarta, 23, Morales denuncia que "está em andamento um golpe de Estado" por parte da direita boliviana, com apoio internacional.
A greve, replicada em todo o país, é salpicada de incidentes entre partidários dos dois lados.
- Vitória oficial -Na sexta, dia 25, após os resultados definitivos, Morales é declarado oficialmente vencedor com 47,08% dos votos contra 36,51% para Mesa.
A oposição, a União Europeia, os Estados Unidos, a Organização de Estados Americanos (OEA), a Colômbia e a Argentina exigem um segundo turno.
Os bloqueios nas ruas e os confrontos continuam.
No domingo, dia 27, Morales descarta qualquer "negociação política".
- Auditoria da OEA -Na segunda, 28, os protestos se intensificam com vários bloqueios e enfrentamentos com a polícia ou entre simpatizantes e opositores de Morales.
No dia 31, começa uma auditoria da OEA sobre a apuração, solicitada pelo governo, mas rejeitada pela oposição.
- Camacho lidera o desafio -Em 2 de novembro, Luis Fernando Camacho surge como a face mais visível e radical da oposição, ao chamar o Exército e a Polícia a "se colocar ao lado do povo" e exortar o presidente a renunciar.
Morales convoca as Forças Armadas a "servir ao povo boliviano", mantendo-se junto de seu governo.
No dia 4, Mesa exige que se realize uma nova votação.
No dia 6, ocorrem violentos confrontos em Cochabamba e bloqueios em outras partes do país.
Em Vinto (centro), manifestantes ateiam fogo à Prefeitura e obrigam a prefeita a caminhar descalça pela cidade, coberta de tinta vermelha, sob insultos e ameaças.
- Motins -Na sexta, 8 de novembro, três unidades da Polícia se amotinam em Cochabamba, Sucre e Santa Cruz. Veem-se cenas de comemoração entre policiais e manifestantes em La Paz e a rebelião se espalha para outras regiões do país.
Morales denuncia um golpe de Estado "em curso", mas o governo descarta uma operação militar contra os amotinados.
- Demissão -No domingo, 10, Morales anuncia que vai convocar "novas eleições nacionais que, mediante o voto, permitam ao povo boliviano eleger democraticamente novas autoridades".
Pouco antes, ao divulgar o informe preliminar de sua auditoria, a OEA havia exigido a anulação das eleições presidenciais de outubro e a realização de novas eleições. A organização assegurou ter encontrado várias "irregularidades" em sua análise das eleições.
Ministros e deputados governistas renunciam. As Forças Armadas e a Polícia exigem a renúncia de Morales.
De sua região natal, no centro da Bolívia, Morales renuncia, depois de quase 14 anos no poder.
- Asilo no México -
Em 11 de novembro, Moscou denuncia a violência orquestrada pela oposição e a saída forçada de Morales, enquanto Madri critica os papéis do Exército e da polícia.
Os Estados Unidos recebem com satisfação o sinal enviado aos "regimes ilegítimos".
Em 12 de novembro, Morales se asila no México. A senadora direitista Jeanine Áñez proclama-se presidente interina, em um Parlamento sem o quórum necessário.
- Novas eleições -
Em 22 de novembro, o Ministro do Interior apresenta uma denúncia contra Morales por "sedição e terrorismo".
Moradores de La Paz enfrentam uma grave escassez de alimentos.
Em 24 de novembro, Jeanine Áñez promulga uma lei aprovada pelo Parlamento convocando eleições presidenciais e legislativas sem a participação de Evo Morales.
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