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UE acorda plano de resgate contra recessão por coronavírus, que deixa 90 mil mortos

Bandeira da União Europeia (UE) - Pascal Rossignol/Reuters
Bandeira da União Europeia (UE) Imagem: Pascal Rossignol/Reuters

09/04/2020 18h13

Bruxelas, 9 Abr 2020 (AFP) - A União Europeia acordou nesta quinta-feira (9) um plano de resgate econômico para lidar com o impacto da pandemia de coronavírus, que deixa mais de 90 mil mortos em todo o mundo e ameaça mergulhar o planeta em uma crise econômica sem precedentes.

Em um dia intenso de várias reuniões de líderes mundiais sobre a pandemia, os ministros das finanças europeus concordaram em videoconferência em um plano de ajuda de 500 bilhões de euros (cerca de R$ 2,8 trilhões).

"A Europa tomou uma decisão e está pronta para enfrentar a gravidade da crise", tuitou o ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire, após a reunião, que terminou "com os aplausos dos ministros", segundo Mario Centeno, ministro das Finanças português, que presidente o Eurogrupo.

Essa ajuda estará disponível "imediatamente", sem condições, explicou Le Maire. No entanto, os 27 descartaram mais uma vez a ideia de uma emissão de dívida comum, conforme solicitado pela Espanha e Itália, e à qual os países do norte, especialmente a Holanda e a Alemanha, se opunham. Essa divergência havia levado a primeira reunião ai fracasso.

A pandemia causará "a pior queda econômica desde a Grande Depressão" em 1929, alertou anteriormente a diretora administrativa do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva.

Pela primeira vez desde o início da pandemia, o Conselho de Segurança da ONU também se reúne nesta quinta-feira tentando superar as divergências, especialmente entre os Estados Unidos e a China, em uma videoconferência a portas fechadas dedicada à covid-19.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, enfatizou que é "o momento da unidade", e não de crítica, depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, censurou a administração da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Da mesma forma, os principais países produtores de petróleo, liderados por membros da Opep, se reuniram por videoconferência para tentar chegar a acordo sobre um corte na produção para acabar com o colapso dos preços devido à pandemia e à redução brutal da demanda.

Segundo o ministro do Petróleo do Kuwait, Jaled al Fadhel, o objetivo é "restaurar o equilíbrio do mercado e evitar novas quedas de preços", e é por isso que eles planejam reduzir a produção entre 10 e 15 milhões de barris por dia.

Um pesadelo

A pandemia não dá trégua. De 1,5 milhão de pessoas infectadas no mundo, mais de 90 mil morreram, metade na Itália, na Espanha e nos Estados Unidos, de acordo com uma contagem da AFP feita nesta quinta-feira à tarde com base em fontes oficiais.

Os Estados Unidos (mais de 16 mil mortes e 430 mil casos) são o país com mais contágios e onde a doença avança mais rapidamente.

Em Nova York, epicentro do surto nos EUA, um novo recorde de 799 mortes foi registrado em 24 horas, mas havia apenas 200 novos pacientes internados em hospitais, "o menor número desde que esse pesadelo começou", disse o governador Andrew Cuomo.

O desemprego nos Estados Unidos, no entanto, não para de atingir níveis históricos: cerca de 6,6 milhões a mais de pessoas solicitaram seguro-desemprego, segundo dados publicados nesta quinta-feira.

Na Europa, a Itália, com mais de 140 mil casos e 18.279 mortes, lidera a lista trágica. Entre os mortos há uma centena de médicos. Há, contudo, notícias positivas entre tantos números terríveis: um bebê de dois meses, provavelmente o paciente mais jovem d a covid-19 na Itália, teve alta nesta quinta-feira de um hospital na cidade de Bari.

Na Espanha, o saldo diário diminuiu nesta quinta-feira, após dois dias consecutivos em alta, com 683 mortes em 24 horas. Entretanto, o número total de mortes excedeu o patamar simbólico de 15 mil.

"O incêndio que desatou a pandemia está começando a ficar sob controle", disse o chefe do governo socialista Pedro Sánchez, em uma sessão no Congresso para ratificar a extensão até 25 de abril do confinamento iniciado em meados de março.

No Reino Unido, foram registradas 881 novas mortes na quinta-feira, totalizando 7.978, enquanto o primeiro-ministro Boris Johnson, hospitalizado há quatro dias pelo covid-19, deixou a unidade de terapia intensiva.

O Reino Unido considera prolongar o confinamento, enquanto a chanceler Angela Merkel pede aos alemães "paciência".

A França, que agora ultrapassa as 12 mil mortes, também planeja estender o confinamento para além de 15 de abril, como já fizeram África do Sul, Hungria e outros países.

Semana Santa inédita

A partir desta quinta-feira, milhões de cristãos confinados nos cinco continentes celebrarão a Semana Santa em circunstâncias inéditas.

Sem os fiéis, o papa Francisco celebrará no Vaticano a missa da Quinta-feira Santa, na qual é lembrada a Última Ceia de Jesus, um dos momentos mais importantes do ano litúrgico.

Devido ao coronavírus, o pontífice argentino não poderá realizar o ritual do lava-pés.

As autoridades dos países mais fervorosos insistiram que durante os próximos dias, em que as famílias se reúnem tradicionalmente, as instruções de confinamento devem ser respeitadas mais do que nunca.

Na Espanha, os fiéis recorrem à tecnologia para essa Semana Santa. As procissões, uma tradição muito forte no país, passaram para as redes sociais para que os crentes possam reviver a Paixão de Cristo.

"O pobre não tem nada"

Na América Latina e no Caribe, 1.814 mortes e cerca de 45.000 casos foram registrados.

O Brasil, o país latino-americano mais atingido, com 800 mortes e 15.927 infecções, está preparando uma megaoperação de até 40 voos para transportar uma remessa de 240 milhões de máscaras da China.

No Equador, o segundo mais afetado na região, o governo ameaçou prender aqueles que violam a quarentena. Na cidade equatoriana de Guayaquil, a cidade latino-americana mais atingida pelo covid-19, um voo que repatriou 300 europeus para Paris ficou retido devido a um problema técnico.

A ONG Oxfam alertou que 500 milhões de pessoas em todo o mundo podem cair na pobreza devido à pandemia se os planos de ajuda não forem adotados.

Na Itália, a máfia está distribuindo alimentos e emprestando dinheiro sem juros para os mais necessitados, além de planejar assumir pequenas empresas em dificuldades, de acordo com o autor e especialista em assuntos Roberto Saviano.