Coronavírus: paralisadas pela pandemia, companhias aéreas esperam apoio público
Bloqueadas pela crise do novo coronavírus, as companhias aéreas pedem ajuda pública para sobreviverem ao temporal de uma paralisia de uma magnitude e duração sem precedentes.
Atingidas em cheio pelo fechamento das fronteiras e pelas restrições de circulação, as companhias aéreas do mundo inteiro deixaram sua frota no solo e ativaram medidas de desemprego parcial para milhares de trabalhadores.
No início de abril, o colapso do tráfego mundial alcançou 80% em relação a 2019, embora o setor ainda navegasse em previsões confortáveis, com o dobro de passageiros em 20 anos, a um ritmo de crescimento de entre 3% e 4% ao ano.
No final de março, a Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata) estimava que metade das companhias aéreas poderia ficar sem liquidez em dois, ou três meses.
A organização, que reúne 290 companhias aéreas, reivindica em coro um compromisso financeiro dos Estados para salvá-las da quebra, por meio de nacionalizações, recapitalizações, cancelamentos, ou prorrogações de gastos e impostos, ou garantia de empréstimos.
Alguns países já deram uma resposta positiva, mas "se trata, agora, de agir rapidamente. Precisamos que o dinheiro chegue", alertou esta semana o diretor-geral da Iata, Alexandre de Juniac.
Segundo ele, há 25 milhões de empregos ameaçados no mundo.
A Qatar Airways é a única a voar na contracorrente. Embora esteja garantindo apenas 35% de suas conexões habituais, usou sua frota para repatriar milhares de pessoas bloqueadas em diferentes lugares do mundo.
Em plena pandemia, a companhia quis se mostrar como "salva-vidas" entre a Ásia e a Europa e entre a Ásia e a América, explicou seu diretor de Estratégia, Thierry Antinori.
Uma manobra que, em um contexto de tensão com seus vizinhos do Golfo, serve para "marcar pontos diplomáticos", avalia o pesquisador e especialista em Oriente Médio Andreas Krieg, da King's College, de Londres.
Ainda assim, a Qatar Airwaays tampouco está livre das dificuldades econômicas. A empresa já anunciou que precisará de ajuda do Estado em 2020, após vários anos de perdas ligadas ao boicote regional.
Ontem, os executivos da britânica EasyJet disseram que a companhia consegue resistir "a uma paralisação da atividade" de até nove meses, graças a ações tomadas no passado para fortalecer suas finanças. Entre elas, a redução de custos e uma importante injeção de financiamento público da ordem de 2 bilhões de libras (ou 2,29 bilhões de euros).
Nos Estados Unidos, após dias de duras negociações, o governo Trump e as companhias aéreas americanas chegaram a um acordo de princípio na terça-feira sobre um plano de resgate de um setor responsável por mais de 75.000 empregos diretos no país. Os termos do acordo não foram revelados.
Na quarta-feira, o ministro francês da Economia, Bruno Le Maire, prometeu que a decisão sobre o apoio à Air France é uma "questão de dias".
Na Alemanha, o CEO da Lufthansa, Carsten Spohr, pediu a ajuda do governo e alertou que o grupo perde, hoje, um milhão de euros "por hora".
Emirados Árabes Unidos, Colômbia, Singapura, Austrália, China, Nova Zelândia, Noruega, Suécia e Dinamarca responderam positivamente ao apelo de auxílio às companhias, segundo a Iata.
Em sua projeção mais otimista, a consultoria Archery estima que serão necessários de três a quatro anos para recuperar o volume de tráfego aéreo de antes da crise e pelo menos dez anos para ter o mesmo ritmo de crescimento. A expectativa negativa se deve, sobretudo, à anunciada recessão mundial.
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