União Europeia realiza cúpula sobre a recessão devido ao coronavírus
A crise do coronavírus será longa, disse a OMS (Organização Mundial da Saúde), alertando sobre os riscos de uma suspensão prematura do confinamento para relançar as economias em crise, que serão objeto de uma cúpula europeia nesta quinta-feira (23).
"Não se enganem: temos um longo caminho a percorrer. Este vírus estará conosco por muito tempo", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, na quarta-feira (22), alertando sobre o "perigo" de ser imprudente diante da pandemia, que deixou mais de 180 mil mortos e 2,6 milhões de casos de contágio em todo o mundo desde seu surgimento na China, em dezembro.
Apesar dos avisos, o estado da Geórgia, nos Estados Unidos, decidiu reabrir a partir de sexta-feira (24) seus estúdios de tatuagem e academias de ginástica. Cinemas e restaurantes também farão isso na segunda-feira (27), com medidas sanitárias rigorosas.
A medida levantou dúvidas, até mesmo do presidente Donald Trump, ansioso para reiniciar a economia, mas que expressou seu "profundo desacordo" com o governador deste estado do sul.
"É muito cedo, podem esperar um pouco", disse Trump.
Os Estados Unidos têm 46.583 mortes por coronavírus, o número mais alto do mundo.
Reunião da UE
Na Europa, os líderes se reúnem nesta quinta-feira para uma cúpula por videoconferência, na qual tentarão encontrar soluções para tirar a União Europeia da recessão.
A chanceler alemã, Angela Merkel, disse que seu país está disposto, "em espírito de solidariedade", a fazer "contribuições muito mais importantes" ao orçamento da UE.
"Um plano de estímulo econômico europeu pode apoiar a recuperação nos próximos dois anos e estamos trabalhando nisso", declarou Merkel aos deputados alemães.
Vários países europeus tentam relançar a atividade econômica diante da queda do Produto Interno Bruto (PIB) e do aumento do desemprego, e por isso estão levantando parte das restrições de confinamento.
Na Alemanha, a maioria dos estabelecimentos comerciais com menos de 800 metros (incluindo supermercados, livrarias e concessionárias de automóveis) abriram na segunda-feira (20), apesar de Merkel dizer que "ir muito rápido seria um erro".
Bares, restaurantes, centros culturais e esportivos ainda estão fechados e os estabelecimentos educacionais serão abertos gradualmente.
Em Berlim e em outros dez dos 16 estados federais alemães, as pessoas serão obrigadas a usar máscara no transporte público.
Áustria, Noruega e Dinamarca se comprometeram a suspender parte do confinamento, mas mantendo as medidas de distanciamento social.
Itália, França, Suíça, Finlândia e Romênia também estão preparando um desconfinamento cauteloso. Na Europa, apesar da desaceleração da epidemia, já contabiliza mais de 112 mil mortes por coronavírus.
Itália (25.085 mortos) e Espanha (22.157) são os países mais afetados na Europa, seguidos pela França (21.340) e Reino Unido (18.100).
No Reino Unido, o chefe do serviço de saúde britânico, Chris Whitty, disse que, por enquanto, as medidas de contenção serão mantidas.
"A longo prazo, conseguiremos (...) na melhor das hipóteses, com uma vacina muito eficaz (...) ou medicamentos muito eficazes que permitirão que as pessoas não morram da doença", disse ele.
Saques na Venezuela
América Latina e Caribe já contabilizam cerca de 6 mil mortos e mais de 120 mil infecções.
No Equador, a cidade de Guayaquil continua concentrando a maioria das infecções registradas no país, onde mais de 500 pessoas morreram.
No Brasil, há mais de 45 mil casos, com mais de 2.900 mortes confirmadas.
A OMS alertou que a América Latina ainda não passou pelo pior momento da pandemia e instou os países a aumentar suas medidas de prevenção e detecção.
"O epicentro da epidemia está se movendo da Europa para as Américas, o que nos dá tempo para nos preparar para o que está por vir", disse Cristian Morales, representante no México da OMS (Organização Mundial da Saúde) e da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde).
"Estamos prestes a experimentar o pior momento da epidemia na região e no México", acrescentou.
Na Venezuela, a crise do coronavírus encarece ainda mais os bens essenciais e está deixando grande parte do país sem gasolina. Muitos venezuelanos estão enfrentando sérias dificuldades e protestos estão ocorrendo, como na quarta-feira na pequena cidade de Cumanacoa, no leste do país, onde sete pessoas ficaram feridas.
"As pessoas saíram às ruas para saquear (...). Você não pode ficar em quarentena passando necessidade", comentou à AFP Domingo Sánchez, técnico em telefonia celular.
A Venezuela, que registra oficialmente 250 casos de coronavírus, aplica desde março uma quarentena supervisionada pelas forças de segurança.
Corrida mundial para encontrar vacina
A corrida global para encontrar uma vacina, na qual participam vários países e grandes empresas farmacêuticas, deu um passo adiante com a autorização na Alemanha de um ensaio clínico em humanos pelo laboratório BioNTech em colaboração com a gigante americana Pfizer.
Atualmente, cinco projetos em todo o mundo estão na fase de ensaios clínicos em humanos, mas não haverá vacina antes de 12 ou 18 meses, segundo especialistas.
Enquanto isso, a pandemia continua a provocar uma crise econômica global que, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), será a pior desde 1945.
Nos arredores de Madri, no bairro de Puente de Vallecas, zona modesta e da classe trabalhadora, onde muitos migrantes que perderam o emprego devido à pandemia vivem, o empobrecimento já é uma realidade.
"Eu cuidava de uma senhora de 92 anos", explica Gloria Corrales, uma empregada doméstica colombiana de 50 anos. "Fiquei gripada, era uma gripe normal, mas eles me disseram para não voltar, temiam que eu a contaminasse", lembra.
Além disso, o bairro é um dos mais afetados pelo coronavírus na região de Madri, uma vez que o confinamento em vigor é difícil de ser aplicado em pequenos apartamentos onde muitas pessoas vivem e muitas continuam trabalhando em tarefas consideradas "essenciais".
O coronavírus também afetará o mês de jejum e oração muçulmana do Ramadã, que em alguns países começa nesta quinta-feira e em outros na sexta-feira.
Será um "Ramadã privado, longe um do outro e longe das mesquitas", disse Taulant Bica, um dos líderes da comunidade muçulmana na Albânia.
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