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Brexit: impasse se confirma e o tom aumenta

15/05/2020 10h12

Bruxelas, 15 Mai 2020 (AFP) - Britânicos e europeus voltaram a expressar, nesta sexta-feira (15), sua "decepção", após uma terceira rodada de discussões sobre o relacionamento pós-Brexit, com negociações cada vez mais tensas e um resultado muito incerto.

Além de "algumas propostas modestas, nenhum progresso foi possível nos outros assuntos mais difíceis", declarou o negociador-chefe da UE, Michel Barnier, em entrevista coletiva em Bruxelas. Ele julgou esta rodada "decepcionante".

Seu colega britânico, David Frost, criticou-o pelos "pequenos progressos" feitos e pediu "uma mudança na abordagem da UE" antes da próxima rodada de negociações em 1º de junho.

"Nada de muito novo sob o sol", resumiu uma fonte próxima às discussões. Com exceção, talvez, do tom das trocas, desta vez mais "firmes, às vezes um pouco viris".

"O tom aumentou um pouco mais nesta sessão", segundo uma fonte europeia, que evocou uma semana "frustrante".

Falta uma "visão comum sobre o que estamos tentando fazer", explicou.

As discussões anteriores, no final de abril, já haviam terminado com o reconhecimento do fracasso, deixando uma forte incerteza sobre a capacidade de Londres e Bruxelas de se entender, como esperado, até o final do ano.

Os britânicos, que deixaram formalmente a UE em 31 de janeiro, entraram em um período de transição até o final do ano, durante o qual continuam a aplicar as normas do bloco.

Os negociadores devem, teoricamente, decidir em junho se prorrogam ou não esse período, a fim de permitir mais tempo para negociar.

Mas Londres rejeita categoricamente essa ideia, mesmo que a epidemia de coronavírus tenha alterado o calendário das discussões, bem como sua forma: exclusivamente por videoconferência.

"Eles parecem convencidos de que podem ficar sem (extensão). Mas é um pouco absurdo", comentou a fonte europeia, para quem os britânicos estão mostrando "má fé".

Uma extensão "apenas prolongaria (...) a incerteza das empresas" e implicaria "novos pagamentos ao orçamento da UE", disse um porta-voz britânico no início desta semana.

Outro ponto de discórdia: a forma do acordo. Os europeus pedem um relacionamento amplo e ambicioso, quando o Reino Unido exige nada mais do que um clássico acordo de livre comércio - o mesmo tipo que o celebrado pela UE com o Canadá -, em torno do qual vários pequenos textos setoriais poderiam ser negociados.

Para David Frost, esses acordos poderiam "ser concluídos sem grandes dificuldades no tempo disponível".

Mas a UE só está disposta a aceitar um acordo comercial com o Reino Unido se for acompanhado de garantias em termos de concorrência social, ambiental ou fiscal. O que os britânicos não querem ouvir.

Esse pedido europeu, segundo David Frost, é "o principal obstáculo" a um acordo, porque Londres não pretende estar ligada no futuro "às leis ou normas da UE".

"A UE exige muito mais do Reino Unido do que de outros países soberanos com os quais concluiu acordos", disse um porta-voz do governo britânico na quinta-feira.

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