Pandemia de coronavírus acelera mudança digital na Grécia
Atenas, 23 Mai 2020 (AFP) - Na Grécia, a ovelha negra da digitalização na Europa, a administração pública acelerou sua transformação nesse setor em tempos de home office e distanciamento físico pela pandemia de coronavírus, segundo especialistas.
Com as medidas de confinamento, "os países atrasados em sua transformação digital enfrentaram um desafio maior", disse à AFP Kyriakos Pierrakakis, ministro grego de Governança Digital.
Na Grécia, "a presença física era um costume, as atividades remotas uma exceção" e o país precisava se atualizar. Era uma promessa de campanha do primeiro-ministro conservador Kyriakos Mitsotakis e a pandemia acelerou sua implementação.
Em 2019, a Grécia foi um dos últimos países europeus em "desempenho digital". No último DESI (Índice de Economia e Sociedade Digital), publicado pela Comissão Europeia, ocupou a 25ª posição entre os 27 países da UE.
As habilidades digitais estavam entre as mais baixas, pois cerca de 20% da população ativa não possuía habilidades ou acesso à Internet, quando a média da UE era de 10% em 2019, segundo dados do Eurostat.
Antes da pandemia, "o atraso digital na Grécia era uma constante, uma herança socioeconômica na União Europeia", comentou à AFP Nikos Smyrnaios, professor de Ciências da Informação e Comunicação da Universidade de Toulouse.
Se "a crise econômica e os memorandos impuseram à Grécia uma aceleração da digitalização do serviço público, até então em um estado arcaico, isso foi feito 'no estilo grego', sob pressão e de maneira desordenada", disse Smyrnaios à AFP.
O governo grego lutou para enfrentar o desafio em plena pandemia em um país pouco afetado pelo coronavírus, com apenas 166 mortes.
Em 21 de março, quando escolas e empresas fecharam, foi criada uma plataforma comum agrupando todos os serviços públicos, permitindo acesso simplificado aos cidadãos.
- Felicitações da OCDE -O governo "passou a permitir assinatura digital de documentos, eliminando a necessidade de ir pessoalmente às administrações", disse o ministro Pierrakakis.
Durante o período de confinamento estrito, entre 23 de março e 4 de maio, as autoridades desmaterializaram os certificados de saída.
Uma iniciativa acolhida com satisfação pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), pois permitiu que "cidadãos e empresas parassem de suportar encargos inúteis".
Para manter a atratividade da Grécia, apesar da incerteza da próxima temporada turística, o ministério do Turismo também investiu no setor digital, lançando a plataforma #Greecefromhome, para descobrir a história, a cultura e as paisagens do país.
O especialista Nikos Smyrnaios observou "um aumento global no tempo gasto na internet durante esse período".
No momento, o ministério da Governança Digital não apresentou dados. Mas muitos criticam uma rede ainda insuficiente, falta de equipamento ou treinamento.
Diamanto Zafiraki, funcionário do ministério da Economia, menciona "uma rede ruim, sistemas operacionais inadequados, programas de computador que não abrem. Tudo leva muito mais tempo e energia".
Para a Federação Grega da Educação (DOE), "a continuidade pedagógica só ocorreu por iniciativa dos professores, já que o ministério não forneceu instruções ou material durante esse período", disse à AFP Thanasis Goumas, secretário desta federação de sindicatos de professores.
É verdade que "existe um esforço do governo na digitalização, mas também não é suficiente considerá-lo uma revolução", estima Dimitris Tsingos, diretor da start-up Starttech Ventures. "Ainda há muito trabalho a fazer". str-chv/plh/mab/es/mr
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