IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Negociações sobre acordo pós-Brexit se arrastam pelo fim de semana

18/12/2020 18h22

Bruxelas, 18 dez 2020 (AFP) - Os negociadores da UE e do Reino Unido estenderão para o sábado a busca interminável de um acordo sobre a relação pós-Brexit, depois de um dia em que todas as partes deixaram explícitas as dificuldades e também uma esperança cautelosa.

"Estamos na hora da verdade. Nos resta muito pouco tempo, apenas algumas horas úteis nesta negociação se quisermos que um acordo entre em vigor em 1º de janeiro", quando Londres deixará a união alfandegária, disse o negociador Michel Barnier nesta sexta-feira (8) perante o Parlamento Europeu.

Durante uma visita ao norte da Inglaterra, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse à imprensa que seu governo mantinha a porta aberta a um diálogo, mas acrescentou que "a situação parece difícil".

"Tenho que dizer que a situação parece difícil, há uma brecha que é preciso salvar. Temos feito muito e esperamos que nossos amigos da UE (...) venham à mesa com alguma coisa", disse o chefe do governo britânico.

Barnier e o principal negociador britânico, David Frost, passaram toda a tarde de sexta reunidos no edifício Barleymont, sede da Comissão Europeia, e ao final do dia fontes diplomáticas informaram que as conversas vão continuar no sábado.

Em seu discurso no Parlamento, em Bruxelas, Barnier destacou que "os pontos que estão em aberto nesta hora crucial são pontos fundamentais para a UE. Não pedimos nada mais que um equilíbrio entre os direitos e as obrigações, além da reciprocidade".

O negociador expressou também sua convicção de que a possibilidade de um acordo "existe, mas o caminho é muito estreito".

"Agora chegou o momento de tomar uma decisão e será também a hora de cada um assumir suas responsabilidades", acrescentou.

Na quinta-feira, os membros do Parlamento Europeu determinaram apenas que vão votar um eventual acordo antes de 31 de dezembro, se tiverem em mãos o texto do entendimento no mais tardar à meia-noite de domingo.

Formalmente, nem a Comissão Europeia, nem os Estados-membros da UE reagiram a este ultimato de fato disposto pelos legisladores, mas é generalizada a convicção de que as negociações igualmente não podem continuar se arrastando.

- Horas finais? -Este esforço negociador pode ser o último capítulo de uma saga que se arrasta desde 31 de janeiro e que pode definir se o Reino Unido deixará a UE com um acordo comercial, ou sem, em uma ruptura brutal com consequências econômicas imprevisíveis.

Ontem à noite, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, conversaram por telefone para tentar desbloquear as negociações, mas acabaram admitindo o momento difícil.

Em uma breve nota oficial divulgada após a conversa, Von der Leyen reconheceu que "superar as diferenças que persistem será muito difícil".

Em uma declaração, Boris Johnson observou que "o tempo disponível é muito curto e parece muito pouco provável que se chegue a um acordo a menos que a posição da UE mude substancialmente".

Em outra parte de seu discurso, Barnier responsabilizou a equipe britânica por deixar as negociações chegarem a esse ponto crítico.

"Os britânicos decidiram o prazo mínimo em que estamos presos agora. Em junho, rejeitaram qualquer forma de extensão da transição (...) e estabeleceram 31 de dezembro como a hora da verdade", apontou.

O negociador destacou que, desde o início das negociações, a equipe britânica apresentou uma "exigência fundamental, que é a razão do Brexit, que é recuperar a total soberania".

Entretanto, a UE também fez uma exigência fundamental: a de preservar os valores e os princípios do bloco, assim como seu mercado único.

Os legisladores aprovaram nesta sexta-feira, no entanto, as medidas de emergência anunciadas durante a semana pela Comissão Europeia para garantir as conexões aéreas e terrestres com o Reino Unido, assim como mecanismos de segurança aérea, para um cenário de ruptura das negociações.

No entanto, o eurodeputado e ex-primeiro-ministro belga Guy Verhofstadt, um veterano conhecedor da política europeia, disse à imprensa que um entendimento pode aparecer na última hora. "É sempre assim na política. Acontece o tempo todo", comentou.

ahg/jz/mvv