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Europa tem menos a perder com Brexit do que Londres

22/12/2020 12h51

Paris, 22 dez 2020 (AFP) - Com ou sem acordo pós-Brexit, economicamente a Europa tem muito menos a perder do que o Reino Unido, muito dependente do Velho Continente, apesar de Londres conservar sua supremacia financeira - avaliam economistas consultados pela AFP.

"Vou dizer de coração: este Brexit é uma tragédia", declarou na segunda-feira o comissário do Mercado Interno, Thierry Breton. Qualquer que seja o resultado das negociações, "o Reino Unido será o perdedor".

A poucos dias do prazo-limite, as estimativas falam por si: um não-acordo geraria para a UE uma perda no PIB de 0,75% no final de 2022. Do lado britânico, a perda seria quatro vezes maior, de 3%.

No entanto, o custo da pandemia relativiza o impacto do Brexit: em 2020, o PIB da zona do euro deve cair 7,8%, e o do Reino Unido, 11,3%.

"Essa pandemia faz com que o impacto do Brexit seja quase suportável, já que há alguns meses víamos um verdadeiro cataclismo", afirmou Jean-Luc Proutat, economista da BNP Paribas.

Apesar disso, o Reino Unido corre o risco de pagar um preço alto por causa de seu desejo de recuperar sua soberania, quase 50 anos depois de se integrar ao mercado comum.

Na realidade, o Reino Unido depende muito da Europa para suas exportações comerciais: 45% de seus produtos viajam para o continente. Caso não haja um acordo, seus produtos serão afetados por custos alfandegários adicionais (tarifas e logística) de aproximadamente 12%, contra 0% quando o país integrava a união, calcula Ana Boata, responsável de pesquisa macroeconômica na seguradora de créditos Euler Hermès.

Além disso, a desvalorização da libra esterlina, na ordem de 10% em sua opinião, aumenta o risco de encarecer as importações. A economia do Reino Unido se encontra, no entanto, fortemente vinculada às cadeias de valores globais.

"Cerca de 56% das importações britânicas procedentes da UE são bens intermediários", destacou recentemente Paul Dales, da Capital Economics, na nota "Brexit: um acordo, ou não, não é o essencial".

Já a Europa exporta somente 5,5% de seus produtos através do Canal. A situação não é, contudo, igual para todos.

A Irlanda está na linha de frente: exporta 15% de seus bens e serviços para o Reino Unido, mas inclui 40% de seus produtos agroalimentícios, de acordo com um relatório da Copenhagen Economics encomendado pelo governo irlandês. Além disso, dois terços de suas empresas exportadoras devem passar pelo Reino Unido para comercializar com o continente.

No restante do bloco, os países do norte, Benelux, Alemanha e França, com vínculos comerciais muito estreitos com o Reino Unido, também têm mais a perder do que os do Sul, com exceção de Malta, devido à sua relação histórica com Londres.

"Os países pequenos costumam estar mais expostos, já que o comércio representa uma parte maior de seu PIB", explica Vincent Vicard, economista do Centro de Estudos Prospectivos e Informação Internacional (Cepii).

Para ele, a indústria automotiva alemã será muito afetada.

O Reino Unido concluiu vários acordos de livre-comércio com Estados não europeus, como Japão, Coreia do Sul, Suíça e Israel, para substituir os que havia negociado através da UE. E sempre continua à espera do grande pacto sonhado por Londres com os Estados Unidos.

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