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Teste PCR: confusão de normas, guerra de preços e mercado clandestino

27/12/2020 09h53

Paris, 27 dez 2020 (AFP) - O número de testes de diagnóstico PCR multiplicou recentemente, seja porque cada vez mais países exigem o exame a viajantes ou porque as pessoas preferem fazer um antes de visitar parentes.

Paralelamente ao aumento dos testes, especialistas consultados pela AFP lamentam a guerra de preços, que penaliza os mais pobres e também a luta contra a pandemia.

Quando Fithrah Auliya Ansar, que viajou com a filha e o marido para um casamento na ilha de Sulawesi, Indonésia, tentou retornar para casa em Sumatra, as regras haviam sido alteradas e era necessário um teste PCR. A família precisava pagar o equivalente a 170 dólares e ela decidiu adiar o retorno até que "o governo mude as normas", explicou à AFP.

A situação é parecida em vários continentes. Em Rosebank, um bairro nobre da região de Johannesburgo, África do Sul, o teste PCR, que acontece no estacionamento de um laboratório, custa 850 rands, mais de 50 dólares.

"Quem pode pagar um valor assim neste país?", questiona a canadense Lauren Gelfand, que precisa fazer o teste para retornar para sua casa, em Nairóbi.

Mas este não é, nem de longe, o valor mais caro do mundo pelo teste. Um estudo da seguradora April mostra que um exame PCR pode custar 153 euros (188 dólares) nos Estados Unidos, 250 euros (307 dólares) no Reino Unido e até EUR 347 (426 dólares) no Japão.

"As diferenças se devem às circunstâncias médicas do país. Em alguns, procurar um médico significa comparecer ao setor privado, onde o atendimento é extremamente caro", afirma Isabelle Moins, diretora geral da April International.

E, no entanto, os testes continuam sendo praticamente imprescindíveis para viajar. Em novembro, a Organização Mundial de Turismo (OMT) contabilizou 126 países que exigiam exames PCR aos turistas internacionais.

Em países como a França, por exemplo, o teste é gratuito, independente das circunstâncias que motivaram o mesmo. Mas em outros locais, apenas os pacientes com sintomas são reembolsados, ou na melhor das hipóteses aqueles que tiveram contato com uma pessoa que testou positivo para covid-19. Isto significa que muitos viajantes precisam pagar pelo exame.

Isto é o que acontece no Reino Unido, onde os testes PCR são gratuitos para as pessoas que têm sintomas ou vivem nas áreas com restrições mais elevadas. As demais precisam procurar laboratórios privados. Boots, uma das principais redes de farmácias do país, oferece um teste a 120 libras (160 dólares). Na clínica particular Harley Street Clinic de Londres custa mais que o dobro.

Na Coreia do Sul, com exceção da região de Seul, o exame para uma pessoa sem sintomas custa 108 dólares.

Na Espanha, o exame é gratuito quando prescrito por um médico. Sem o pedido, a pessoa deve comparecer a um centro particular e pagar entre 115 e 180 euros, segundo uma organização de defesa dos consumidores. Uma jornalista da AFP encontrou um teste por 250 euros na Andaluzia (sul).

Em outros países, como Alemanha ou Itália, os preços podem variar de 59 a 190 euros.

- Quanto custa realmente? - Entender como se estabelece o preço de um teste PCR é um verdadeiro quebra-cabeça. Com pedido médico ou sem, em um laboratório particular ou em um hospital público... é difícil encontrar a explicação no emaranhado de normas e valores.

Os laboratórios e os fabricantes são discretos sobre as tarifas e o custo real dos exames.

Um estudo de julho da organização Epicentre, que apoia as missões epidemiológicas da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), afirma que "o custo de um exame PCR fica entre 15 e 25 euros dependendo dos métodos", sem considerar o material de extração como o cotonete, os salários dos profissionais que realizam o teste e os equipamentos de proteção que devem usar para praticar a tarefa, assim como o custo do local do exame.

A Previdência Social francesa estipulou que o Estado deve pagar 43,20 euros (53 dólares) aos laboratórios por cada teste.

"O preço é estabelecido pelos serviços de saúde de cada país", afirmou o grupo francês Eurofins, responsável por quase dois milhões de testes PCR por mês.

Neste contexto, algumas pessoas podem desistir de fazer o teste ou procurar o mercado clandestino, onde podem receber um falso resultado negativo.

Muitas pessoas preferem "não fazer um teste devido à falta de recursos econômicos", explica Ayman Sabae, diretora para questões de saúde na ONG Iniciativa Egípcia para os Direitos Pessoais. Neste país, o exame custa 2.000 libras, 127 dólares, o salário mensal de um trabalhador.

- Testes falsos - Em Moçambique as autoridades descobriram em outubro uma rede de falsos testes negativos em uma área próxima da fronteira com a África do Sul. A maioria dos exames no país acontece em clínicas particulares e o custo é igual ao de um salário mínimo.

No Gabão, onde um teste com resultado negativo é exigido para passar de uma província a outra no transporte público, uma jovem estudante de Libreville que precisa viajar de ônibus para encontrar a família afirma, sem revelar a identidade, que paga o equivalente a 18 dólares para obter um certificado falso.

"É rápido, escaneiam a marca de um laboratório e entregam um resultado falso que realmente parece um documento verdadeiro. A pessoa que revisa os certificados não tem tempo nem recursos materiais para verificar", explica.

Por este motivo, em muitos lugares os números oficiais de contágios não refletem em absoluto a realidade.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que os testes PCR exigem recursos e infraestrutura consideráveis, condições que não existem em muitos países. A instituição criou um mecanismo chamado ACT-Accelerator para disponibilizar às nações em desenvolvimento 500 milhões de testes em 2021.

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