Jornal pró-democracia de Hong Kong deixará de ser publicado na quinta-feira
Hong Kong, 23 Jun 2021 (AFP) - O jornal pró-democracia Apple Daily de Hong Kong anunciou que publicará na quinta-feira (24) sua última edição, depois que seus ativos foram congelados pelas autoridades, o que significará o fim do periódico mais crítico a respeito da China neste território.
Seu fechamento é o ataque mais recente contra as liberdades na ex-colônia britânica e a médio prazo pode levar os veículos da imprensa internacional presentes em Hong Kong a repensar a sua presença neste importante centro financeiro internacional.
"O Apple Daily decidiu que o jornal encerrará suas atividades a partir de meia-noite e que 24 de junho será o último dia de publicação", afirma o jornal no site oficial.
O site do jornal deixará de ser atualizado a partir de meia-noite.
A operação de busca e apreensão no jornal teve como base a controversa lei sobre a segurança nacional, aprovada há quase um ano, que está silenciando as vozes críticas da ex-colônia britânica.
Os jornalistas do Apple Daily disseram que planejam imprimir um milhão de exemplares durante a noite, uma quantidade espantosa já que Hong Kong possui 7,5 milhões de habitantes.
Os funcionários expressaram uma grande tristeza pelo fechamento do jornal e a perda de cerca de 1.000 empregos.
"Tenho dezenas de milhares de palavras no meu coração, mas estou sem palavras neste momento", disse à AFP Ip Yut-kin, presidente da empresa matriz do jornal, a Next Digital.
- "Arrepiante" -O Apple Daily expressou apoio durante anos ao movimento pró-democracia e nunca parou de criticar abertamente as autoridades chinesas. Pequim sempre tentou calar o jornal e utilizou a lei de segurança nacional para minar o trabalho do jornal.
O proprietário do Apple Daily, Jimmy Lai, atualmente detido e condenado a vários anos de prisão pela sua participação nos protestos pró-democracia de 2019, foi um dos primeiros a ser acusado sob esta nova lei.
O capítulo final do jornal, criado há 26 anos, ocorreu na última semana, quando as autoridades realizaram uma operação de busca e revista na redação do jornal, prenderam seis responsáveis e congelaram seus ativos.
Essa intervenção paralisou completamente a capacidade do jornal para continuar os negócios e pagar seus funcionários.
Nesta quarta-feira, o ministro britânico das Relações Exteriores, Dominic Raab, disse que o fim do jornal é "arrepiante".
"O fechamento forçado do @AppleDaily_HK por parte das autoridades de Hong Kong é uma demonstração arrepiante de sua campanha para silenciar todas as vozes da oposição", escreveu Raab no Twitter.
- "Não será o último" -Pequim alegou que as acusações contra o Apple Daily se devem a matérias e colunas que supostamente apoiavam as sanções internacionais contra a China, uma opinião que agora é considerada ilegal.
Essa foi a primeira vez que opiniões políticas publicadas por um veículo de comunicação de Hong Kong provocaram ações judiciais amparadas na lei de segurança nacional.
Cinco executivos, entre eles o editor-chefe Ryan Law e o diretor-executivo Cheung Kim-hung, foram detidos na semana passada, acusados de conivência com forças estrangeiras para fragilizar a segurança nacional chinesa.
Nesta quarta-feira, a polícia prendeu Yeung Ching-kee, que escreve sob o pseudônimo de Li Ping, e é um dos principais colunistas do jornal.
Vários veículos da mídia internacional têm sedes regionais em Hong Kong e alguns se questionam agora sobre seu futuro.
"Quando escrever pode te levar à prisão perpétua, você está sendo censurado. Apple não será o último", disse à AFP Sharron Fast, professor da Escola de Jornalismo da Universidade de Hong Kong.
Nesta quarta-feira, começou em Hong Kong o primeiro julgamento sem júri por infringir esta lei de segurança nacional. O réu, Tong Ying-kit, de 24 anos, é acusado de terrorismo, incitação à secessão e comportamento perigoso por ter atropelado com moto um grupo de policiais, três dos quais ficaram feridos, em 1º de julho de 2020, horas depois da entrada da lei em vigor.
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