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As 'atitudes hostis' do Brasil 'mataram' o debate no Mercosul, diz chanceler argentino

O chanceler argentino Felipe Solá, informou que o ministério de Paulo Guedes se negou a falar com os seus homólogos argentinos - Divulgação
O chanceler argentino Felipe Solá, informou que o ministério de Paulo Guedes se negou a falar com os seus homólogos argentinos Imagem: Divulgação

19/07/2021 18h33

As "atitudes hostis" do Brasil "mataram o debate no Mercosul", em particular devido às posições negativas do ministro da Economia, o ultraliberal Paulo Guedes, avaliou o chanceler argentino, Felipe Solá, em entrevista publicada nesta segunda-feira (19) pelo jornal O Globo.

"Com o Brasil não há debate, conversas entre ministros, debates acadêmicos, entre empresários, sindicatos, debates francos, tudo isso é impensável", afirmou Solá durante visita ao Rio de Janeiro para comemorar os 30 anos de um acordo de uso pacífico da energia nuclear.

A disposição do Brasil e do Uruguai em negociar individualmente acordos comerciais com países ou blocos terceiros e suas pressões para reduzir a Taxa Externa Comum (TEC) cristalizam as discrepâncias.

"O Brasil tem uma posição personalizada num grupo de economistas que controla o Ministério da Economia. As atitudes hostis mataram o debate (...) O Mercosul está adormecido", destacou Solá.

O chanceler informou que o ministério de Guedes se negou a falar com os seus homólogos argentinos. "Uma atitude muito negativa", criticou ele.

Essa diretriz veio de Guedes "e finalmente houve uma confirmação sincera (por parte do Itamaraty) de que a posição do Brasil é a posição do ministro Guedes. Isso me foi dito de forma explícita. O ministro Guedes acha que vai conseguir baixar os preços no Brasil reduzindo 10% a TEC", afirmou Solá.

Guedes "acha que baixando o preço dos produtos importados os produtores brasileiros serão obrigados a baixar os preços também".

"Busca-se obrigá-los a uma eficiência maior, com o custo de ter mais desemprego, fechamento de empresas, etc... Já passamos por isso e não queremos mais seguir esse caminho", acrescentou, evocando políticas neoliberais aplicadas durante a ditadura militar argentina (1976-83) e nos anos 90.

Na cúpula do Mercosul em 8 de julho, o presidente Jair Bolsonaro criticou o "uso da regra do consenso como instrumento de veto" dentro do bloco.

Mas o presidente argentino, Alberto Fernández, defendeu o consenso "como a espinha dorsal constitutiva" do grupo.

"A Argentina está atuando como alguém que quer preservar um casamento, apesar do que os outros fazem (...) Não houve acordo na cúpula, mas a Argentina fez um esforço enorme durante um ano e meio e se aproximou da proposta brasileira de redução da Tarifa Externa Comum", acrescentou Solá.

As relações entre Brasil e Argentina se desgastaram desde que Bolsonaro criticou a eleição de Fernández como presidente, e os ânimos pioraram ainda mais devido às diferenças no Mercosul.

"Nos acostumamos a negociar apesar das circunstâncias, e continuaremos tentando negociar. Se o ministro Guedes quiser negociar conosco estamos abertos. Agora, se quer impor sem negociar, isso é outra coisa".