As 'atitudes hostis' do Brasil 'mataram' o debate no Mercosul, diz chanceler argentino
As "atitudes hostis" do Brasil "mataram o debate no Mercosul", em particular devido às posições negativas do ministro da Economia, o ultraliberal Paulo Guedes, avaliou o chanceler argentino, Felipe Solá, em entrevista publicada nesta segunda-feira (19) pelo jornal O Globo.
"Com o Brasil não há debate, conversas entre ministros, debates acadêmicos, entre empresários, sindicatos, debates francos, tudo isso é impensável", afirmou Solá durante visita ao Rio de Janeiro para comemorar os 30 anos de um acordo de uso pacífico da energia nuclear.
A disposição do Brasil e do Uruguai em negociar individualmente acordos comerciais com países ou blocos terceiros e suas pressões para reduzir a Taxa Externa Comum (TEC) cristalizam as discrepâncias.
"O Brasil tem uma posição personalizada num grupo de economistas que controla o Ministério da Economia. As atitudes hostis mataram o debate (...) O Mercosul está adormecido", destacou Solá.
O chanceler informou que o ministério de Guedes se negou a falar com os seus homólogos argentinos. "Uma atitude muito negativa", criticou ele.
Essa diretriz veio de Guedes "e finalmente houve uma confirmação sincera (por parte do Itamaraty) de que a posição do Brasil é a posição do ministro Guedes. Isso me foi dito de forma explícita. O ministro Guedes acha que vai conseguir baixar os preços no Brasil reduzindo 10% a TEC", afirmou Solá.
Guedes "acha que baixando o preço dos produtos importados os produtores brasileiros serão obrigados a baixar os preços também".
"Busca-se obrigá-los a uma eficiência maior, com o custo de ter mais desemprego, fechamento de empresas, etc... Já passamos por isso e não queremos mais seguir esse caminho", acrescentou, evocando políticas neoliberais aplicadas durante a ditadura militar argentina (1976-83) e nos anos 90.
Na cúpula do Mercosul em 8 de julho, o presidente Jair Bolsonaro criticou o "uso da regra do consenso como instrumento de veto" dentro do bloco.
Mas o presidente argentino, Alberto Fernández, defendeu o consenso "como a espinha dorsal constitutiva" do grupo.
"A Argentina está atuando como alguém que quer preservar um casamento, apesar do que os outros fazem (...) Não houve acordo na cúpula, mas a Argentina fez um esforço enorme durante um ano e meio e se aproximou da proposta brasileira de redução da Tarifa Externa Comum", acrescentou Solá.
As relações entre Brasil e Argentina se desgastaram desde que Bolsonaro criticou a eleição de Fernández como presidente, e os ânimos pioraram ainda mais devido às diferenças no Mercosul.
"Nos acostumamos a negociar apesar das circunstâncias, e continuaremos tentando negociar. Se o ministro Guedes quiser negociar conosco estamos abertos. Agora, se quer impor sem negociar, isso é outra coisa".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.