O que os candidatos à presidência do Chile propõem para mudar três décadas de neoliberalismo?
Santiago, 17 Nov 2021 (AFP) - O Chile deve decidir qual caminho econômico seguir em sua recuperação pós-pandemia. A expectativa é de um crescimento de cerca de 11% em 2021, mas com uma inflação que dobra a projeção oficial do Banco Central (6%) e uma dívida pública de 33,1%, alimentada pela ajuda estatal para o enfrentamento da crise sanitária.
O cenário para quem conquistar a presidência não se projeta nada favorável. Depois da "festa do consumo" sustentada por saques emergenciais de fundos de pensão, estima-se que em 2022 o PIB chileno cresça apenas entre 1,5% e 2,5%.
Seguem algumas propostas econômicas dos principais candidatos que disputam neste domingo as eleições presidenciais do Chile.
- Estado de bem-estar -O jovem candidato de 35 anos Gabriel Boric, da aliança de esquerda Apruebo Dignidad (Frente Ampla e Partido Comunista), propõe uma mudança no modelo baseado no estado de bem-estar dos países europeus.
Em entrevista à AFP, Boric destacou que tem como objetivo "garantir os direitos sociais universais."
Entre eles, a criação de um modelo de seguridade social com uma aposentadoria mínima de 250.000 pesos, o equivalente a cerca de 1.698 reais.
O sistema aumenta também a contribuição mensal, dos atuais 10% do salário para 18%, "gradativamente" e com grande parte do encargo para o empregador.
- Liberalismo público-privado -O candidato do governo Sebastián Sichel, 44 anos, projeta um sistema de mercado livre com forte participação de pequenas e médias empresas, aliado a um Estado fortalecido, hoje bastante ausente no atual modelo ultraliberal que considera um Estado subsidiário que prioriza o setor privado em qualquer área de investimento.
"Como (o ex-chanceler alemão) Konrad Adenauer disse: 'Tanto mercado quanto possível, tanto Estado quanto necessário'", disse o candidato em entrevista à AFP.
Seu sistema previdenciário considera um modelo semelhante ao utilizado ( e criticado) hoje, mas que quebra o atual oligopólio dos Administradores de Fundos de Pensão.
No último debate presidencial, ele mencionou um sistema semelhante ao da Austrália, onde "os trabalhadores podem escolher se querem que seus fundos sejam administrados por uma instituição pública ou privada, com fins lucrativos ou não", explicou Sichel.
- Capitalismo de Estado -A candidata dos democratas-cristãos, a senadora Yasna Provoste, de 51 anos, propõe ao Chile um modelo de capitalismo que convive com a criação de mais empresas públicas.
Um plano "transitório" para enfrentar a situação econômica gerada pela pandemia e neutralizar parte do impacto causado na economia pelos protestos sociais que eclodiram no país desde outubro de 2019.
"Destinar até 6 bilhões de dólares anuais durante quatro anos, que devem ser financiados por meio da recuperação do crescimento econômico e da dívida fiscal", explica o programa de Provoste.
- Ultraliberalismo de Friedman -O candidato de extrema direita José Antonio Kast, 55 anos, do Partido Republicano, está empenhado em manter o modelo ultraliberal imposto durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) como laboratório dessa doutrina econômica que emana das ideias de Milton Friedman na American University of Chicago.
Seu programa visa dar ao mercado mais liberdade de ação e reduzir ao máximo a participação do Estado na economia. Reduz também o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) de 19% para 17%, aumenta a oferta de trabalho para maiores de 60 anos e "adia a aposentadoria".
"A melhor forma de melhorar as pensões é adiar a idade de aposentadoria", indica no ponto 206 do seu programa.
apg/pa/lda/jc
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