Revelações 'Suisse Secrets' retomam debate sobre transparência financeira na Suíça
Zurique, Suíça, 21 Fev 2022 (AFP) - As revelações da imprensa sobre as contas do banco Credit Suisse, conhecidas como "Suisse Secrets", relançaram o debate sobre a transparência financeira do país alpino, que passou anos tentando limpar sua imagem.
O Credit Suisse foi abalado no domingo por revelações do Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP) - um consórcio de 47 meios de comunicação, incluindo Le Monde, The Guardian e La Nación de Buenos Aires - de que o banco manteve fundos de crimes ilícitos e origem criminosa por várias décadas.
A segunda entidade bancária suíça, no entanto, rejeitou essas acusações, afirmando que se baseiam em dados "parciais", "imprecisos" e "fora de contexto" e destacou que alguns casos remontam à década de 1940 e que 90% das contas envolvidas já estão fechadas.
Segundo o banco, as acusações são "um esforço conjunto para desacreditar não apenas o banco, mas o sistema financeiro suíço como um todo"
- Transparência -A organização de acionistas Actares, que já havia exigido explicações do banco após os escândalos que o afetaram no ano passado, disse à AFP que esperava mais dessas revelações.
"O Credit Suisse deve de uma vez por todas apresentar transparência em um número aparentemente incontrolável de discrepâncias, que afetam não apenas os investidores, mas também a reputação dos bancos suíços", disse a organização.
O jornal de Zurique NZZ afirmou que "alguns dos casos revelados pelo Secret Suisse 'não seriam mais possíveis' sob a legislação atual".
Os dados analisados nesta investigação referem-se a 18.000 contas bancárias mantidas pelo banco desde o início da década de 1940 até o final da década de 2010.
Desde então, a Suíça, sob forte pressão, em particular dos Estados Unidos que querem combater a evasão fiscal, revisou significativamente sua legislação.
Em 2014, o país assinou um acordo de cooperação com os Estados Unidos que obriga as instituições financeiras a transmitir determinados dados às autoridades fiscais americanas e, em 2015, outro acordo com a União Europeia sobre troca automática de informações.
"O sistema de combate à lavagem de dinheiro foi continuamente desenvolvido e fortalecido nos últimos anos", disse a Associação Suíça de Banqueiros à AFP.
"Dinheiro duvidoso não interessa ao centro financeiro suíço, para o qual reputação e integridade são fatores-chave", acrescentou.
- Efeito 'Panamá Papers' -De acordo com um relatório publicado em outubro pelo Ministério das Finanças da Suíça, entre 2015 e 2019, as denúncias ao Escritório de Informações sobre Lavagem de Dinheiro (MROS) foram quatro vezes maiores em média por ano do que nos dez anos anteriores.
Os autores do relatório explicam essa "avalanche de denúncias" pelo fato de os bancos serem mais sensíveis aos riscos à sua reputação, em especial de grandes casos de corrupção como a operação "Lava Jato" no Brasil ou revelações da imprensa como o "Panamá Papers" ou os "Paradise Papers".
Ao mesmo tempo, as disposições legislativas relativas à imprensa também foram reforçadas e os grandes jornais suíços lamentam não poder participar das revelações dos "Suisse Secrets".
Apesar disso, analistas do RBC Capital Markets alertam que as revelações representam mais um "incêndio" que a administração do Credit Suisse terá que apagar.
Desde março de 2021, o banco é abalado pela falência da financeira Greensill, pelos problemas do fundo americano Archegos, pelas multas por empréstimos a Moçambique e pela demissão abrupta do seu presidente por descumprir as regras de quarentena, apenas oito meses e meio após tomar posse.
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