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A difícil luta para deter a fabricação de armas nos EUA

17/06/2022 17h23

Newington, Estados Unidos, 17 Jun 2022 (AFP) - Clai Lasher-Sommers alterna entre choro e raiva ao falar da produção de armas em seu estado natal, New Hampshire, um dos principais vetores desta indústria bastante rentável nos Estados Unidos.

Falando a pouca distância da casa onde um padrasto abusivo atirou contra ela com um rifle de caça quando tinha 13 anos, a sobrevivente transformada em ativista disse que pensa em se mudar, apenas para se afastar dos fabricantes de armas.

"Não quero estar perto deles e do dano que perpetuam todos os dias. Quero que fechem, mas isso não vai acontecer", enfatizou.

New Hampshire, o pequeno estado do nordeste que produz a maior quantidade de armas de fogo no país desde 2015, colocou milhões de armas em um mercado interno já inundado, em uma nação devastada por uma epidemia de mortes por armas de fogo.

É pouco provável que as tragédias recentes interrompam esse fluxo em um estado no qual um legislador pode caminhar pelos corredores do Legislativo com suas pistolas, as armas não são necessariamente culpadas dos tiroteios mortais e as empresas do setor geram milhares de empregos.

"Definitivamente, é uma situação de Davi contra Golias", opinou Melissa Rigazio, outra ativista local contra a violência armada, sobre os esforços para confrontar a indústria. "Os fabricantes de armas são os grandes responsáveis do que está acontecendo", frisou.

Um dos maiores fabricantes de armas do estado é a Sig Sauer, uma empresa situada na cidade de Newington e cuja planta, na qual tremula a bandeira americana, está repleta de sinais de "entrada proibida".

Outro peso pesado local é a Ruger, a cerca de duas horas de carro em Newport.

Nenhuma das duas empresas atendeu aos pedidos da AFP para uma entrevista ou uma visita a suas respectivas fábricas.

Somadas, as duas empresas produziram mais de 1,7 milhão de rifles e pistolas em New Hampshire em 2020, um ano em que as compras de armas de fogo dispararam em razão da pandemia de covid-19, de protestos maciços e uma controvertida eleição presidencial.

- Ausência de restrições -Pouco mais de oito milhões de pistolas e rifles saíram das fábricas no estado entre 2015 e 2020, cerca de 17% do total nacional, segundo as cifras governamentais mais recentes.

Enquanto estados gigantes como o Texas (sul) têm mais negócios relacionados com as armas, New Hampshire é o estado com mais gente empregada nessa indústria em relação ao número de habitantes, assim como em produção e impostos vinculados à mesma, segundo o grupo industrial NSSF.

O estado, cujo lema diz "Viver livre ou morrer", é há bastante tempo sede de numerosos fabricantes de armas.

Um fator-chave que distingue New Hampshire de seus vizinhos Nova York (leste) e Massachusetts (nordeste) é a ausência de restrições ao porte de armas.

Metade dos 50 estados do país permitem aos cidadãos que possuem licenças para comprar armas portá-las em público sem necessidade de uma permissão especial.

Além disso, os fabricantes de armas instalados em estados que endureceram as normas de controle se transferiram para outros mais amigáveis com a indústria.

Mike Hammond, assessor legislativo do grupo de defesa Gun Owners of America, disse que isso foi o que aconteceu em Connecticut depois do massacre na escola de ensino fundamental Sandy Hook, na cidade de Newton, em 2012, no qual 20 crianças foram assassinadas.

"Depois de Newton, Connecticut proibiu certos tipos de armas de fogo que eram produzidas ali. Adivinha o que aconteceu? O fabricante de armas de fogo saiu de Connecticut."

Segundo Hammond, apesar de New Hampshire ter fabricado milhões de armas, a violência com armas de fogo ocorre principalmente em outras partes dos Estados Unidos.

- 'As armas não mataram meu filho' -Uma das trágicas vítimas das armas de fogo em New Hampshire foi o filho de 22 anos de Amy Innarelli, Chandler, que foi assassinado a tiros em 2020 enquanto esperava sua namorada e seu filho pequeno.

Vestida com uma camisa laranja com a foto de seu filho sorridente em uma vigília contra a violência armada em Manchester, a maior cidade do estado, Amy Innarelli considera que o problema é complexo e requer uma resposta complexa.

"As armas não assassinaram meu filho, mas sim uma pessoa", afirmou.

Por outro lado, para Lasher-Sommers, é inegável que o acesso às armas é o cerne do problema. "É a arma, é a arma", declarou com veemência à AFP esta mulher de 65 anos em sua casa de Westmoreland, um pequeno povoado próximo da divisa com Vermont.

Na outra ponta do espectro, John Burt, um deputado estadual de New Hampshire que se dedica a lutar contra as restrições às armas de fogo, usava um broche com formato de revólver na lapela de sua jaqueta e uma pistola embainhada em seu cinturão quando foi entrevistado pela AFP.

"Os fabricantes nos ajudam a continuar sendo um estado pró-armas", disse. E acrescentou: "Não queremos que eles vão embora" do estado.

O parlamento local não permite a entrada no plenário com água ou alimentos. "Mas posso levar minha arma", assinalou Burt entre risos.

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