O assalto a Kim Kardashian pode prejudicar o turismo na França?
A celebridade americana Kim Kardashian foi assaltada na madrugada desta segunda-feira em Paris. Mas a discussão sobre o caso foi bem além do valor das joias levadas ou detalhes da ação dos ladrões.
Algumas autoridades francesas estão afirmando que o assalto pode impactar o setor de turismo na capital, já prejudicado depois dos atentados terroristas do ano passado - enquanto outras minimizaram o caso.
"Podemos fazer todas as publicidades possíveis para atrair turistas a Paris, isso acaba de ser brutalmente anulado com o caso da Kardashian", afirmou a deputada Nathalie Kosciusko-Morizet, candidata às primárias do partido Les Républicains.
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Já a prefeita da capital francesa, Anne Hidalgo, rebateu as críticas em um comunicado. "Esse ato raríssimo, ocorrido em um local privado, não coloca em dúvida o trabalho dos policiais e a segurança no espaço público parisiense", disse.
"Utilizar o caso para polêmicas é prejudicar o setor do turismo e os 500 mil empregos que ele representa na região."
Joias milionárias
Cinco homens armados e disfarçados de policiais invadiram, por volta das 3h em Paris (22h em Brasília), o discreto hotel de luxo no bairro de Madeleine, onde a celebridade estava hospedada.
Os ladrões renderam o vigia do local, que não tem placa na porta, entraram no quarto de Kardashian e roubaram milhões de euros em joias.
Kardashian, que prestou depoimento à polícia, estava dormindo no momento do ataque e foi acordada com uma arma na cabeça. Depois, foi amarrada e trancada no banheiro da suíte.
Assessoras afirmaram que ela estava muito abalada, mas que não havia sido ferida.
De acordo com a imprensa francesa, as joias roubadas valeriam 9 milhões de euros (cerca de R$ 33 milhões). Uma das peças seria seu anel de casamento, no valor de € 4 milhões (R$ 14,6 milhões).
A Secretaria de Segurança Pública da capital francesa confirmou que o roubo foi estimado em "vários milhões de euros, referentes principalmente a joias, mas o valor total ainda está sendo avaliado". A polícia está investigando o caso.
Golpe duro
O roubo ocorre apenas uma semana após a prefeita ter lançado uma campanha publicitária para promover a capital francesa - com custo de 300 mil euros (mais de R$ 1 milhão), financiado em grande parte pela iniciativa privada.
Outras ações deste tipo já haviam sido realizadas nos últimos meses, numa tentativa de reverter a queda no número de turistas na cidade - os temores relacionados à segurança são apontados como os principais vilões desse cenário.
"Podemos fazer todas as publicidades possíveis para atrair turistas a Paris, isso acaba de ser brutalmente anulado com o caso da Kardashian", afirmou a deputada Nathalie.
O número de turistas americanos, a principal nacionalidade em relação ao total de visitantes neste ano, já havia caído quase 6% no primeiro semestre de 2016, segundo dados do Comitê Regional do Turismo (CRT) de Paris e da região Île-de-France, que inclui a cidade e seus arredores.
Nos primeiros seis meses deste ano, houve uma queda de 1 milhão no número de turistas em Paris (de todas as nacionalidades) na comparação com igual período de 2015, ainda segundo o CRT.
As principais quedas ocorreram em relação aos turistas alemães (-19%) e chineses, com redução de 11%. Os chineses são os turistas que mais gastam em Paris, principalmente nas lojas de grifes de luxo.
Até agosto, a queda no número de turistas implica na perda de € 1 bilhão (R$ 3,6 bilhões) nas receitas do turismo parisiense, ainda segundo o CRT.
A previsão, caso a tendência não se inverta, é a de que o setor do turismo sofrerá recuo de € 1,5 bilhão (R$ 5,5 bilhões) no faturamento em 2016.
Turistas asiáticos
"Observamos uma queda intensa no número de turistas asiáticos. Algo jamais visto", afirma Valérie Pécresse, presidente do conselho regional (equivalente no Brasil ao cargo de governador) da Île-de-France.
Turistas asiáticos são os que mais temem problemas de segurança. Inúmeros chineses, conhecidos por carregar grandes quantias de dinheiro vivo, já foram vítimas de assaltos na cidade.
Muitos hotéis em Paris registram neste ano queda na ocupação que ultrapassa 10 pontos percentuais. O luxuoso hotel Plaza Athénée teve de fechar dois andares no mês de agosto, tradicionalmente época de alta estação, por falta de clientes.
Guias de excursões, barcos de passeio pelo Sena, donos de restaurantes e lojistas têm se queixado da falta de turistas.
Além disso, roubos em joalherias de luxo ocorrem têm ocorrido com frequência na França nos últimos anos, cometidos por quadrilhas internacionais especializadas. Há suspeitas de que seria o mesmo tipo de grupo armado que teria roubado Kardashian.
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