IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Os países que têm mais moradores estrangeiros do que nativos

09/03/2017 15h19

Os Estados Unidos é, entre as grandes potências mundiais, o país com maior número absoluto de estrangeiros.

São cerca de 46,6 milhões de imigrantes vivendo em território norte-americano, o equivalente a 14,5% da população local. A Alemanha, por exemplo, tem 12 milhões de imigrantes (14,9% da população) e a Rússia contabiliza 11,6 milhões, que representam 8,1% do total de pessoas vivendo naquele país.

Mas, em termos proporcionais, nenhum dos três chega perto de algumas nações que chegam a ter mais moradores estrangeiros do que nascidos no próprio país.

Esse ranking é liderado pelos Emirados Árabes, onde 88,4% da população é composta por estrangeiros. Isso significa que, dos 9,1 milhões de pessoas que lá vivem, 8,09 milhões são imigrantes.

Catar e Kuwait respondem, respectivamente, pelo segundo e terceiro lugares do ranking compilado pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas.

Esses três países ricos em petróleo têm sido, nas últimas décadas, o principal destino de quem busca oportunidades temporárias de emprego e melhor padrão de vida.

Em busca de emprego

Mas quem são esses imigrantes? E como é viver num país onde a maioria da população é estrangeira?

"Em toda a região do Golfo Pérsico e, em particular nos Emirados Árabes, Catar e Kuwait, há bastante oportunidade de emprego em setores como construção, manufatura, indústria do petróleo e no setor doméstico", explica à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, Jeanne Batalova, analista do Instituto de Políticas de Migração (MPI, na sigla em inglês), centro de estudos baseado em Washington.

"Por isso, são destinos muito populares entre trabalhadores que não encontram emprego em seus próprios países", completa.

A maioria dos que vão para o Golfo Pérsico vem do Sudeste Asiático, explica a analista. Eles vêm principalmente da Índia, Paquistão e Bangladesh, mas também há imigrantes da Malásia, Indonésia e Filipinas.

Esses trabalhadores acabam ocupando empregos pouco qualificados.

Indianos e paquistaneses que vão para o Golfo Pérsico são, em maioria, homens contratados para trabalhar na construção civil e em fábricas.

Já as mulheres que se mudam para a região, especialmente de Bangladesh, Indonésia e Filipinas, normalmente se dedicam a empregos no setor doméstico e de vendas.

Programas de trabalho

Essa rica região petroleira também atrai trabalhadores de países ocidentais que atuam não apenas na indústria do petróleo e gás, como também em educação, finanças e investimentos.

"Nos últimos dez anos, Emirados Árabes, Catar e Arábia Saudita têm se esforçado em desenvolver suas indústrias de tecnologia e de educação universitária", explica Batalova.

Ela afirma que foram construídas universidades que oferecem pacotes muito atrativos para professores e estudantes de pós-graduação de todo o mundo, em especial da Austrália, Estados Unidos e Reino Unido.

São nações dependentes, no momento, da mão de obra estrangeira para conseguir sustentar não apenas o crescimento econômico como também um padrão de vida mais elevado.

Para isso, esses países criaram programas de trabalhos temporários que permitem às empresas contratarem tanto nacionais como estrangeiros.

"Com esses programas de contratação, esses países podem abrir ou fechar suas portas rapidamente dependendo da situação", explica a analista do MPI.

Quando o preço do barril de petróleo despencou, por exemplo, houve suspensão de projetos de construção e redução no número de turistas. Consequentemente, caiu a demanda por trabalhadores nesses setores.

Assim, os fluxos de migração na região do Golfo Pérsico registram altas e baixas a depender do desempenho econômico.

Violações de direitos humanos

Há, contudo, críticas de que esses programas de contratação temporária podem abrir brechas para abusos relacionados aos direitos humanos. Por isso, organismos internacionais têm pedido alterações no sistema de trabalho para imigrantes no Golfo Pérsico.

Casos de trabalhadoras domésticas submetidas a práticas abusivas e de funcionários com passaporte retidos pelos empregadores estão sendo combatidos. "Foram estabelecidas leis que proíbem essa prática e também estão sendo adotadas medidas para proteção dos salários", explica Joanna Batalova.

Segundo ela, estão sendo feitas mudanças para aprimorar os programas de contratação depois da pressão internacional por um tratamento mais justo, feita por organizações de defesa do trabalhador e dos direitos humanos e ainda pelos governos dos países de onde saíram os imigrantes.

"Mas o sistema não funciona de forma perfeita, e ainda há muito a ser feito", observa a analista, que salienta mudanças para absorver também a mão de obra nacional.

Inserção de nacionais

Para as próximas décadas, espera-se que os fluxos migratórios para países do Golfo Pérsico aumentem. E os governos da região estão fazendo esforços para equilibrar as necessidades de mão de obra do mercado com o emprego de trabalhadores nacionais.

"Estão tentando reduzir a dependência estrangeira e de aumentar ofertas de emprego para população local", diz Batalova.

Os Emirados Árabes, por exemplo, estabeleceram um pacote de incentivos para dar benefícios e contratos preferenciais às empresas que contratam nacionais - algumas companhias fixam, por exemplo, cotas de empregados nascidos no país em questão.

O que tem motivado essas políticas é a taxa crescente de desemprego entre os mais jovens, muitos deles altamente escolarizados.

"Mas o mercado de trabalho não está organizado para eles. Por isso, os governos estão agora pensando em como atrair essa mão de obra e diversificar a economia para criar oportunidades para um grupo altamente especializado", avalia Batalova.

Falta integração

No momento, a situação dos trabalhadores estrangeiros, sejam eles qualificados ou não, está desenhada para que exista uma separação entre eles e a população local.

"Isso significa que, em termos práticos, os trabalhadores estrangeiros muitas vezes vivem onde trabalham, fora do alcance dos locais", observa a analista do MPI.

"Eles não têm direito a se estabelecer de forma permanente, só podem ficar no país por no máximo três anos e, se o governo quiser, pode revogar o visto a qualquer momento", acrescenta a especialista.

As regras também incentivam a falta de integração - em muitos casos há leis que proíbem os trabalhadores estrangeiros de se casarem com nacionais.

"A ideia é de que eles são, de fato, temporários, e não se espera que se integrem nem façam parte da sociedade", completa Batalova.