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Onde a crise não tem (tanta) vez: os setores da economia que mais estão contratando

Fernanda Jacob trocou emprego na imprensa por cargo em firma de comércio eletrônico - Divulgação
Fernanda Jacob trocou emprego na imprensa por cargo em firma de comércio eletrônico Imagem: Divulgação

31/05/2017 08h05

Procurar boas notícias quando o assunto é emprego não é atualmente tarefa fácil no Brasil. A pior recessão em quase 70 anos continua gerando recordes no desemprego, que fechou o primeiro trimestre de 2017 em 13,7%, ou 14,2 milhões de pessoas, segundo dados oficiais.

Há, no entanto, setores da economia que parecem desafiar o pessimismo. Seja por terem sofrido um impacto menor da crise ou pela recuperação mais rápida, são áreas que estão contratando de maneira consistente.

Empresas de tecnologia ou prestação de serviços nessa área, por exemplo, aumentaram as contratações em 20% nos primeiros quatro meses de 2017 ante o mesmo período do ano anterior, nas contas da Page Personnel, multinacional de recrutamento e suporte à gestão.

O setor enfrenta até dificuldade para preencher vagas, segundo Ricardo Haag, diretor-executivo da Page Personnel no Brasil. "E essa diferença entre vagas e candidatos ainda é enorme."

No final de março deste ano, havia 817 vagas de emprego abertas em 233 start-ups (empresas focadas em inovação e em modelo de negócios para crescimento rápido) nas principais cidades do país, segundo levantamento da escola de tecnologia Gama Academy.

As empresas que concentram as vagas no levantamento da escola são marcas consolidadas no mundo online, como 99 Taxis, Uber, Netshoes e Facebook.

A varejista online de moda feminina Amaro, por exemplo, passou de 120 para 250 funcionários e tem cerca de 30 vagas abertas, para profissionais de perfis variados, como engenheiros de tecnologia, especialistas em marketing, recepcionistas e modelistas.

A jornalista Fernanda Jacob, de 27 anos, trabalhou por quatro anos como repórter de revista em São Paulo, e passou a integrar a equipe de conteúdo da Amaro em abril.

Ela diz que a má situação das empresas tradicionais de comunicação pesou em sua decisão pela mudança - o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, por exemplo, fez 2.844 homologações de demissões de 2014 a 2016. Os dados são de jornalistas que tinham no mínimo um ano de contrato - a homologação pelo sindicato não é obrigatória com menos de um ano.

"Aqui (no novo emprego) o cenário é totalmente diferente. O que mais queria era poder construir um caminho, ter uma perspectiva maior de crescimento profissional quanto salarial. Os planos e metas são muito concretos aqui, o que permite uma ascensão na empresa mais rápida e palpável", diz a jornalista.

Presidente da Amaro, o suíço Dominique Schweingruber diz que criatividade, persistência e disciplina estão entre as características buscadas pela empresa. "Os melhores profissionais que temos aqui possuem essa abordagem de não esperar ordens para agir, ter ideias, propor inovações", acrescenta.

Indústria farmacêutica

Outro ramo da economia que tem mantido o fôlego é a indústria farmacêutica, que se beneficia do fato de produzir bens de primeira necessidade e de difícil substituição.

O setor abriu 15% mais vagas e fez 13% mais contratações de janeiro a abril deste ano do que no mesmo período de 2016, segundo a Page Personnel.

"O setor, de fato, foi afetado mais lentamente pelos impactos no cenário econômico. Temos crescido na casa de dois dígitos (por ano) nos últimos anos, seguimos na liderança do mercado brasileiro e a nossa projeção é evoluir 20% em faturamento", afirmou João Dornellas, vice-presidente de pessoas e gestão da brasileira EMS.

A farmacêutica está contratando, em média, 80 novos funcionários por mês, com foco atual na área comercial - profissionais técnicos e de gestão também estão no alvo. O centro de pesquisa e desenvolvimento, por exemplo, teve 20% da sua força de trabalho de 400 pessoas contratada em 2016.

A EMS também abriu neste ano uma fábrica em Brasília e acabou de contratar 17 trainees. "Buscamos e valorizamos profissionais empreendedores que queiram crescer conosco", diz o vice-presidente Dornellas.

Outros setores

Números mais recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, reforçam a situação mais confortável da indústria química e farmacêutica dentro da crise.

O saldo de vagas criadas no setor entre janeiro e abril deste ano, já com ajuste sazonal, fechou positivo em 10.357 empregos.

Outros setores com resultados positivos significativos foram indústria calçadista (19.336 contratações líquidas), têxtil e vestuário (16.333) e serviços médicos e odontológicos (15.277).

O setor de serviços como um todo, maior empregador da economia brasileira, encerrou o primeiro quadrimestre com saldo positivo de 55.703 vagas, após registrar em 2016 o pior ano da história no mercado de trabalho formal, com eliminação de 390 mil postos de trabalho.

Sobre carreiras específicas, os destaques nesta fase de primeiros sinais de recuperação da economia são as área financeira (ramos como tesouraria, contabilidade e tributos) e comercial, afirma Ricardo Haag, da Page Personnel. A empresa de recrutamento identificou aumento de 18% nas vagas na área comercial no primeiro quadrimestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2016.

Em situação diferente dos ramos que demonstram certo fôlego na crise estão as indústrias pesada, de maquinário e automobilística, que demandam altos investimentos e possuem produtos de valor alto e venda mais lenta. As boas notícias nessas áreas ainda devem demorar, segundo profissionais consultados pela BBC Brasil.

Ponderações

Atuando há dez meses em uma start-up de serviços financeiros, o analista de sistemas Eduardo Shinkawa lembra que mesmo a área de tecnologia de informação, uma das mais citadas por novas oportunidades, guarda os seus perigos.

"A área de tecnologia de informação é um campo em transformação. A demanda hoje por softwares para web e e-commerce é muito alta mas, por outro lado, o profissional de infraestrutura em tecnologia, ou seja, de servidores, já não é mais tão demandado. Essa função tende a desaparecer", afirma.

Eduardo trabalha com desenvolvimento de interfaces para a web. Atuando com designers, ele traduz ideias para sites e aplicativos em códigos de programação. "Minha área está muito aquecida hoje, mas também não existirá para sempre. Coisas como a realidade virtual virão com tudo, e devem mudar bastante a forma como usamos s a internet. Eu já estou me preparando para esse cenário, estudando para isso", conta.

De acordo com aos analistas ouvidos pela reportagem, profissionais de hoje e de amanhã deverão, cada vez mais, se manter atentos a esses movimentos de mercado se quiserem navegar mais facilmente por qualquer crise - e também por tempos de bonança.