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Como vai funcionar a união entre Boeing e Embraer, a 3ª maior exportadora do Brasil

05/07/2018 11h22

A Embraer e a Boeing anunciaram nesta quinta-feira (5) um acordo preliminar para uma joint venture (sociedade comercial) entre as duas gigantes da aviação comercial, na qual a empresa americana se dispõe a pagar US$ 3,8 bilhões por 80% da associação com a empresa brasileira.

A Embraer, uma das maiores fabricantes globais de jatos de passageiros e a terceira maior exportadora do Brasil em 2017, vinha sendo cortejada havia tempos pela Boeing.

"Esse acordo com a Boeing criará a mais importante parceria estratégica da indústria aeroespacial, fortalecendo ambas as empresas e sua posição de liderança do mercado mundial", disse em comunicado o presidente e CEO da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva.

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"A combinação de negócios com a Boeing deverá gerar um novo ciclo virtuoso para a indústria aeroespacial brasileira, com maior potencial de vendas, aumento de produção, geração de emprego e renda, investimentos e exportações, agregando maior valor para clientes, acionistas e empregados", disse.

A Embraer, que teve suas operações de aviação comercial avaliadas em US$ 4,75 bilhões, ficará com o controle de 20% da joint venture.

Como vai funcionar essa sociedade? Veja o que se sabe até agora e o que ainda é incerto:

A joint venture

A sociedade entre Embraer e Boeing criará uma terceira empresa --uma sociedade dedicada à fabricação de jatos comerciais--, que, segundo o memorando de entendimento, será liderada por uma equipe de executivos sediada no Brasil uma vez que a transação seja consumada. Mas a Boeing terá o controle operacional e de gestão da nova empresa.

A negociação entre as duas empresas deve prosseguir pelos próximos meses e só deve ser concluída no final de 2019. "Uma vez executados esses acordos definitivos de transação, a parceria estará, então, sujeita a aprovações regulatórias e de acionistas, incluindo a aprovação do governo brasileiro, bem como outras condições habituais pertinentes à conclusão de uma transação deste tipo", diz o comunicado.

Apesar de a Embraer ser privatizada, o governo brasileiro tem uma "golden share" na empresa --ou ação de ouro, que lhe dá poder de veto, de tomar decisões estratégicas ou de impor precondições a acordos.

Consultada pela BBC News Brasil, a assessoria de imprensa da empresa afirmou que essa "golden share" continuará a existir na Embraer, mas não valerá para a joint venture.

A nova sociedade, porém, englobará a maior parte das atividades da empresa brasileira --a aviação comercial--, deixando de fora suas áreas de aviação executiva, de serviços e suporte e de aviação de defesa (esta última deverá ser alvo de uma joint venture futura).

No que diz respeito às operações, as empresas dizem que a joint venture "se tornará um dos centros de excelência da Boeing para o desenvolvimento de projetos, a fabricação e manutenção de aeronaves comerciais de passageiros e será totalmente integrada à cadeia geral de produção e fornecimento da Boeing".

"A Boeing e a joint venture estarão aptas a oferecer uma linha abrangente e complementar de aeronaves de passageiros de 70 a mais de 450 assentos, além de aviões de carga, oferecendo produtos e serviços do mais alto nível para melhor atender uma base global de clientes", diz o comunicado.

Com a união, elas esperam economizar (ou fazer "sinergia de custos", no jargão empresarial) cerca de US$ 150 milhões (antes de impostos) até o terceiro ano de operação.

As empresas planejam, ainda, a criação de uma segunda sociedade, voltada especificamente para o mercado de defesa.

A estratégia da Boeing

A união entre as empresas deve criar uma gigante da aviação mundial, com atuação tanto na aviação regional quanto no segmento de longa distância.

Tal "combinação" entre a brasileira e americana é vista como uma reação à união das respectivas concorrentes Bombardier e Airbus. Maior rival da empresa americana, a europeia Airbus passou a atuar no segmento de aeronaves de médio alcance recentemente, ao comprar o programa de jatos regionais da canadense Bombardier.

Ao se associar com a Embraer, a Boeing voltaria a ter paridade de forças perante a Airbus.

A Embraer

A Embraer é a terceira maior exportadora do Brasil, segundo balanço do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços que contabilizou valores exportados entre janeiro e novembro deste ano. Está atrás apenas da Vale e da Petrobras, nessa ordem. O mesmo aconteceu no ano passado.

Por questões de sigilo comercial, o ministério diz que não divulga o valor exato de exportação das empresas.

A fabricante sediada em São José dos Campos (SP) faturou R$ 21,4 bilhões em 2016. Em outubro, anunciou lucro líquido de R$ 351 milhões no primeiro trimestre, revertendo uma perda de R$ 111,4 milhões no mesmo período do ano passado.

No entanto, a própria empresa projetou um cenário pior para 2018.

"A Embraer espera que 2018 seja um ano de transição, uma vez que a empresa terá a entrada em produção seriada do primeiro modelo E2, o E190-E2, que está programado para ter sua primeira entrega em abril de 2018", disse a companhia em um comunicado sobre seus resultados divulgado em 27 de outubro.

A privatização da Embraer

A Embraer foi privatizada em 1994, no fim do governo Itamar Franco, por R$ 154,1 milhões à época.

Na ocasião, o acordo previa ao governo brasileiro a "golden share", ação que dá o direito a veto a diferentes decisões, entre elas a transferência de controle acionário da companhia.

O presidente Michel Temer foi informado em dezembro das conversas entre Embraer e Boeing. Segundo reportagem da época da "Folha", ele só não estaria disposto a autorizar um acordo que representasse a venda do controle da Embraer.

Além do aval do governo brasileiro, a negociação também precisaria ser aprovada pelos conselhos das duas empresas e pelos órgãos reguladores de Brasil e Estados Unidos.

Quem são os atuais acionistas

A Embraer tem acionistas estrangeiros e nacionais, divididos entre pessoas físicas, jurídicas e institucionais.

Entre os nacionais, estão, por exemplo, o BNDES Participações e a Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil, com 5,4% e 4,8% das ações, respectivamente.

Segundo a empresa, além do BNDESpar, são considerados como acionistas relevantes os estrangeiros Brandes Investments Partners (15%), Mondrian Investments Partners (10%) e Blackrock (5%).

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