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Como a Groenlândia pode se tornar uma base da China no Ártico

John Simpson - Editor de Internacional da BBC News

21/12/2018 08h05

Não é novidade que a China vem aumentando sua presença ao redor do mundo.

Mas, agora, demonstra cada vez mais interesse numa região que até então estava fora de seu radar: o Ártico.

O país comprou ou encomendou diversos navios quebra-gelo - incluindo alguns movidos a energia nuclear - para criar novas rotas comerciais através do mar congelado.

Esse contexto explica por que o gigante asiático está de olho na Groenlândia.

Ainda que parte do Reino da Dinamarca, a Groenlândia é uma região autônoma, ou seja, tem governo próprio.

Trata-se de uma região estrategicamente importante para os Estados Unidos, que mantêm uma vasta base militar em Thule, no norte da ilha. Tanto os dinamarqueses quanto os americanos estão muito preocupados com o interesse da China na região.

Lugar menos povoado da Terra

A Groenlândia é um imenso território, o 12º maior do mundo, com 2 milhões de km² de rocha e gelo.

Sua área equivale ao tamanho do Nordeste brasileiro.

No entanto, sua população é de 56 mil pessoas - equivalente à cidade de Jaguaquara, no interior da Bahia.

O resultado é que a Groenlândia é o local com menor densidade populacional do planeta. Cerca de 88% é inuit, o restante é, na maioria, da mesma etnia dos dinamarqueses.

No tocante aos investimentos, nem os americanos nem os dinamarqueses investiram muito dinheiro na Groenlândia ao longo dos anos. A capital, Nuuk (ou Nuque), é bastante pobre. A Dinamarca dá um subsídio anual para a região conseguir se manter.

Todos os dias, um pequeno número de pessoas se reúne no centro da capital para vender itens que geram um pouco de dinheiro: roupas usadas, livros infantis, bolos feitos em casa, peixe seco, esculturas de chifre de rena. Algumas pessoas vendem também as carcaças dos grandes patos King Eider, que os inuit têm autorização para caçar, mas não podem vender.

Poder aéreo chinês

No momento, o único jeito de chegar à Nuuk de avião é através de pequenos aviões de hélice. Em quatro anos, no entanto, isso vai mudar drasticamente.

O governo groenlandês decidiu construir três grandes aeroportos internacionais capazes de receber grandes aviões de passageiro, a jato.

A China está concorrendo para conseguir os contratos.

Deve haver pressão dos dinamarqueses e dos americanos para que os chineses não consigam vencer a licitação, mas isso não vai parar o envolvimento do gigante asiático com a Groenlândia.

Na região, a opinião sobre a influência chinesa tende a se dividir dependendo da etnia.

Os dinamarqueses têm grande preocupação em relação ao assunto, enquanto os inuit acham que é uma boa ideia.

Contatados pela BBC, o primeiro-ministro groenlandês e o ministro de Relações Exteriores não quiseram se pronunciar sobre a relação de seu governo com a China.

Mas um ex-primeiro-ministro, Kuupik Kleist, diz achar que a presença chinesa na região é positiva para o país.

Já Michael Aastrup Jensen, porta-voz do partido dinamarquês Venstre, que faz parte do governo de coalizão, foi bem direto quanto ao envolvimento dos chineses na Groenlândia.

"Não queremos uma ditadura comunista no nosso quintal", diz.

Riqueza necessária

A estratégia da China para conquistar novos mercados é oferecer a infraestrutura de que eles precisam: aeroportos, estradas, tratamento de água.

As potências ocidentais que colonizaram muitos desses países no passado não costumam oferecer ajuda.

Assim, a maioria dos governos aceita de bom grado os investimentos chineses.

É o que acontece com o Brasil, por exemplo, e outros países latino-americanos e africanos.

Mas o preço é alto. A China consegue acesso às matérias-primas do país - minerais, metais, madeira, combustível, alimentos.

No entanto, isso não significa necessariamente mais empregos para a população local.

Isso porque esses grandes conglomerados costumam trazer chineses para fazer o trabalho.

Foi o que aconteceu no Porto de Açu, por exemplo, no Rio de Janeiro.

Diversos países descobriram que o investimento chinês ajuda mais a economia do país asiático do que a que está recebendo o dinheiro. E em alguns lugares - na África do Sul, por exemplo - há queixas de que esse envolvimento chinês tende a trazer mais corrupção.

Mas em Nuuk, as pessoas não dão muita atenção a argumentos como esse. Nesse território vasto, vazio e empobrecido, o que conta é a grande quantidade de dinheiro que pode estar a caminho.

"Precisamos dele", diz Kuupik Kleist.

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