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Por que a queda de um avião na Etiópia coloca a Boeing na berlinda

Imagem de arquivo de um avião Boeing 737 MAX 8 da companhia Ethiopian Airline - Divulgação/Boeing
Imagem de arquivo de um avião Boeing 737 MAX 8 da companhia Ethiopian Airline Imagem: Divulgação/Boeing

11/03/2019 13h06

A fabricante de aviões norte-americana Boeing está no centro dos questionamentos sobre a queda de uma aeronave do modelo 737 Max-8 na Etiópia no domingo (10), matando as 157 pessoas que estavam a bordo. O voo era operado pela Ethiopian Airlines.

Foi o segundo acidente em cinco meses envolvendo o mesmo modelo de avião. O primeiro, em outubro, era da Lion Air e caiu pouco tempo depois de decolar, em Jacarta, na Indonésia, com 189 pessoas a bordo. Também não houve sobreviventes.

As investigações sobre as causas do acidente de domingo estão em curso. Nesta segunda-feira (11), a caixa-preta do avião, contendo o gravador de voz da cabine e o gravador digital de dados de voo, foi recuperada no local.

Várias companhias aéreas anunciaram a suspensão de voos de suas aeronaves desse modelo para fazer "checagens". A Boeing disse que ficou "profundamente consternada" com o acidente e que está enviando uma equipe para fornecer assistência técnica.

Como o acidente de domingo aconteceu?

A Ethiopian Airlines diz que o avião que realizava o voo ET302 caiu às 08:44 no horário local (02:44 no horário de Brasília), apenas seis minutos após decolar em Adis Abeba, a capital da Etiópia, com destino a Nairóbi, no Quênia.

A queda ocorreu perto da cidade de Bishoftu, 60 km a sudeste da capital.

O piloto relatou dificuldades e pediu para retornar a Adis Abeba, segundo a companhia aérea.

Para especialistas, é cedo para dizer o que causou o desastre.

"Neste momento, não podemos descartar nada", disse Tewolde Gebremariam, presidente-executivo da Ethiopian Airlines, sobre as possíveis causas do acidente.

A visibilidade no momento da queda era considerada boa, mas o monitor de tráfego aéreo Flightradar24 relatou que a velocidade vertical do avião ficou instável após a decolagem.

O piloto era o capitão sênior Yared Getachew, que, segundo a companhia aérea, tinha um "desempenho louvável", com mais de 8.000 horas no ar.

A aeronave (registrada como ET-AVJ) voou pela primeira vez em outubro do ano passado, de acordo com sites de registros de voo.

Vítimas

Passageiros de mais de 30 países estavam a bordo do voo, incluindo 32 quenianos, 18 canadenses e sete britânicos.

Pelo menos 19 vítimas eram ligadas às Nações Unidas, segundo um funcionário da ONU. Algumas delas seguiam para uma sessão da Assembleia da ONU para o Meio Ambiente, em Nairobi, que começou com um minuto de silêncio nesta segunda-feira.

O deputado eslovaco Anton Hrnko confirmou em um post no Facebook que sua mulher e seus dois filhos estavam no avião.

Enquanto isso, o grego Antonis Mavropoulos disse ter escapado por pouco. O homem contou que deveria ter embarcado, mas que acabou chegando ao portão dois minutos atrasado. Em um post no Facebook, ele compartilhou uma foto da passagem dizendo que foi seu "dia de sorte".

"Eu estava irritado porque ninguém me ajudou a chegar ao portão a tempo", escreveu ele. "Sou grato por estar vivo."

Na Etiópia, foi decretado luto nacional nesta segunda-feira.

O que se sabe sobre o avião?

As aeronaves 737 Max-8 começaram a ser usadas comercialmente em 2017. O avião que caiu era um dos seis (de uma frota total de 30) que a Ethiopian Airlines havia encomendado como parte de sua expansão.

Ele teria passado por uma "rigorosa primeira inspeção de manutenção" em 4 de fevereiro, segundo a companhia aérea publicou no Twitter.

O analista de aviação Gerry Soejatman, baseado em Jacarta, disse à BBC que o motor do 737 Max "é um pouco mais para a frente e um pouco mais alto em relação à asa em comparação com modelos anteriores. Isso afeta o equilíbrio do avião".

Problemas

O comitê que investiga o acidente anterior, envolvendo o voo da Lion Air, ainda não chegou a uma conclusão final sobre a causa do desastre. Investigadores que atuam no caso, entretanto, disseram que os pilotos pareciam ter enfrentado dificuldades com um novo recurso automatizado da aeronave, projetado para impedir que o avião pare no ar.

Resultados preliminares da investigação sugerem que esse sistema antiparada repetidamente forçou o nariz da aeronave para baixo, apesar dos esforços dos pilotos para corrigi-lo.

O avião da Lion Air também era novo e a queda ocorreu logo após a decolagem.

"É altamente suspeito", disse Mary Schiavo, ex-inspetora-geral do Departamento de Transportes dos EUA, em entrevista à CNN.

"Nós temos um modelo de aeronave novinho em folha que caiu duas vezes em menos de um ano. Isso acende o alerta da indústria da aviação, porque não é algo que simplesmente acontece."

Após o acidente de outubro passado, a Boeing enviou um aviso de emergência às companhias aéreas alertando sobre um problema com o sistema antiparada.

A expectativa é que a fabricante lance uma atualização de software no sistema para resolver o problema, segundo a Reuters.

O que acontece agora?

Com a investigação da Ethiopian Airlines em estágio inicial, não está claro se o sistema antiparada foi a causa do acidente de domingo. Especialistas em aviação dizem que outras questões técnicas ou erros humanos não podem ser desconsiderados.

A investigação será conduzida por autoridades etíopes, coordenando equipes de especialistas da Boeing e da US National Transportation Safety Board, a agência federal americana responsável por investigar acidentes no setor de transportes.

A Ethiopian Airlines disse em um tuíte na manhã desta segunda-feira que havia aterrissado todos os seus 737 MAX 8s "até segunda ordem". "Embora não saibamos a causa do acidente, decidimos aterrissar essa frota em especial como medida extra de segurança."

A companhia aérea usou um modelo diferente de avião para realizar o seu primeiro voo para o Quênia desde que ocorreu o acidente. A aeronave pousou no destino às 10:25, hora local, nesta segunda-feira.

A agência reguladora de aviação na China também mandou as companhias aéreas locais suspenderem os voos do 737 Max 8s. Mais de 90 modelos do tipo estavam em uso por operadoras chinesas, incluindo Air China, China Eastern Airlines e China Southern Airlines.

A Cayman Airways, companhia aérea das Ilhas Caiman, também suspendeu a operação dessas aeronaves.

A FlyDubai, que opera vários 737 Max 8s, disse à Reuters, por sua vez, que continua confiando na aeronave.

Várias companhias aéreas norte-americanas operam o mesmo modelo e disseram estar acompanhando a investigação. A Southwest Airlines opera 31 aeronaves do tipo, enquanto a American Airlines e a Air Canada têm 24, cada uma, em suas frotas.

Este não foi o primeiro acidente aéreo envolvendo um voo da Ethiopian Airlines.

Em 2010, um dos aviões da empresa caiu no Mar Mediterrâneo pouco depois de partir de Beirute, no Líbano.

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