O 'momento delicado' da economia global, na visão do FMI
A economia global está no que a economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) chama de "momento delicado". Gita Gopinath diz que, embora não anteveja uma recessão global, "há muitos riscos" no horizonte.
O FMI acaba de lançar a mais recente edição do relatório World Economic Outlook, que estima que a economia mundial vai crescer 3,3% neste ano e 3,6% em 2020.
Trata-se de um crescimento mais lento do que o do ano passado --e, no que diz respeito a 2019, uma redução de 0,2 pontos percentuais em relação à previsão inicial do próprio FMI.
O organismo reviu para baixo sua previsão de crescimento em 2019 para todas as economias desenvolvidas do mundo --particularmente EUA, zona do euro, Japão, Reino Unido e Canadá.
Os motivos, diz o relatório, são "uma confluência de fatores afetando as principais economias", entre eles a desaceleração da China (que, ao reduzir suas importações, freia o crescimento do resto do mundo), o aumento das tensões comerciais com os EUA e desastres naturais que afetaram o desempenho do Japão.
Também puxam as expectativas para baixo as perspectivas de crescimento menor na América Latina, no Oriente Médio e no norte da África.
Para o Brasil, a previsão do FMI é de crescimento de 2,1% neste ano (uma redução de 0,4 pontos percentuais em relação à estimativa feita em janeiro) e de 2,5% no ano que vem (aumento de 0,3 pontos percentuais).
Recuperação 'precária'
As previsões globais refletem uma desaceleração que vem desde o final de 2018, estimulada por fatores como a disputa comercial entre Washington e Pequim, algo que o FMI prevê durar até o final deste semestre. Depois disso, o crescimento global deve ganhar mais força, prosseguindo até o ano que vem.
Mas Gopinath descreve essa retomada como "precária". A economista afirma que muito dependerá do desempenho de economias em desenvolvimento sob estresse, como a Turquia e a Argentina --esta última enfrenta uma combinação de inflação, alta do dólar e recessão econômica, e recorreu a um empréstimo bilionário do próprio FMI.
Gopinath também prevê uma recuperação parcial da zona do euro. Já a economia dos EUA deve continuar a perder força, crescendo menos de 2% no ano que vem, à medida que diminuir o impacto dos cortes de impostos promovidos pelo presidente Donald Trump.
Não há nenhum sinal de simpatia, por parte do relatório do FMI, com a visão de Trump de que o principal fator impedindo o crescimento dos EUA é o aumento das taxas de juros por parte do Fed (o banco central americano) nos últimos dois anos.
Sinais de problemas?
Para a economista-chefe do FMI, os riscos globais atuais incluem a possibilidade de mais tensões no comércio internacional. Gopinath cita como exemplo o setor automotivo, área na qual Trump avalia impor novas tarifas sobre produtos importados.
Outro sinal de alerta vem do Brexit, o processo de saída do Reino Unido da União Europeia. O FMI reduziu para baixo as expectativas de crescimento da economia britânica sob a perspectiva de que o Parlamento britânico consiga chegar a um acordo para uma saída ordenada da UE, o que ainda está longe de ser garantido.
Um Brexit abrupto e sem acordo poderá ter um impacto ainda mais duro no crescimento da economia do Reino Unido.
Além disso, o relatório do FMI vê riscos possíveis de deterioração nos mercados financeiros globais, que aumentem os custos para empréstimos globais, inclusive para governos que precisem financiar suas obras.
(Com reportagem de Andrew Walker, do Serviço Mundial da BBC)
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