Reforma da Previdência deixa Bolsa instável; é hora de ficar ou sair?
Resumo da notícia
- Negociações para aprovação da reforma da Previdência no Congresso têm provocado intensa volatilidade na Bolsa e no dólar
- Especialistas mantêm indicação de compra de ações para quem está disposto a ganhar mais e suporta fortes oscilações
- Investidor deve acompanhar de perto o noticiário político e estar preparado para alterar suas aplicações
- Aprovação da reforma dependerá basicamente da capacidade de articulação política do governo
- Tamanho da redução dos gastos nas contas públicas precisa superar R$ 500 bilhões em 10 anos
- Dólar e derivativos são instrumentos de proteção do patrimônio do investidor agressivo caso reforma seja rejeitada
As fortes oscilações da Bolsa de Valores e do dólar ao longo do mês de março foram apenas uma amostra do que o investidor que possui apetite por aplicações de risco, como ações, terá que lidar nos próximos meses por causa das negociações para aprovação da reforma da Previdência no Congresso. Apesar da intensa volatilidade, especialistas mantêm a indicação de investimento em renda variável para quem está disposto a ganhar mais e consegue suportar as emoções do sobe-e-desce.
Porém, eles não descartam uma piora do mercado se a reforma não for aprovada ou se ficar muito aquém do esperado. Por isso, o investidor deve acompanhar de perto o noticiário político e estar preparado para alterar suas aplicações, buscando proteger o patrimônio com investimentos atrelados ao dólar ou usando derivativos, que são ferramentas que permitem minimizar eventuais perdas na Bolsa.
Como investir em meio à incerteza?
O investidor deve buscar aplicações que estejam adequadas ao seu perfil de risco. Quem possui perfil moderado ou arrojado pode manter as aplicações na Bolsa, por enquanto. Mas é importante acompanhar de perto as notícias sobre a evolução das negociações políticas da proposta e estar preparado para mudar rapidamente de estratégia, caso um possível cenário de rejeição da reforma da Previdência ganhe força.
"A Bolsa permanece como grande aposta para o investidor com apetite por risco e que tenha horizonte de médio ou longo prazos. Nossa projeção para o Ibovespa no fim do ano é de 125 mil pontos. Ou seja, há espaço para uma alta de quase 30%. Mas a valorização depende da reforma, e não será um processo linear. Se o cenário ficar pessimista, a orientação é reduzir a exposição em renda variável e aplicar em renda fixa pós-fixada", afirmou Daniel Cunha, estrategista-chefe da XP Investimentos.
Opções atreladas ao dólar
Os especialistas também recomendam para o investidor mais arrojado que mantenha uma pequena parte do seu patrimônio em produtos atrelados ao dólar, como contratos futuros, fundos cambiais ou COEs (Certificados de Operações Estruturadas) ou em derivativos de ações, como opções de venda.
"Dólar e Bolsa possuem uma relação inversa na maior parte do tempo. Quando a Bolsa cai, o dólar sobe. É uma forma de minimizar eventuais perdas, caso o mercado vire. Os derivativos também exercem esse papel de amortecedor de prejuízos", declarou Ricardo Peretti, estrategista de investimentos para pessoa física da Santander Corretora. Ele afirma que tais estratégias somente devem ser adotadas por investidores experientes ou que tenham orientação de especialistas.
Conservadores devem se proteger da inflação
Para o investidor mais conservador, avesso ao risco, a orientação dos especialistas é buscar títulos indexados à inflação, como títulos públicos do tipo Tesouro IPCA, ou papéis prefixados, como o Tesouro Prefixado, ou CDBs emitidos por bancos menores, respeitando o limite de R$ 250 mil por instituição para ter a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Créditos).
"Se a reforma da Previdência passar, a tendência é que os juros caiam mais. Portanto, quem comprar títulos agora conseguirá taxas mais altas. Se não passar, não há risco de perda para o investidor, desde que ele carregue o título até o vencimento para receber a taxa contratada na hora da compra do papel", afirmou Fabio Macedo, diretor comercial da Easynvest.
Previdência é único assunto que vai interessar
"Não tem jeito. A reforma da Previdência será o principal assunto do mercado até julho, quando o Congresso entra em recesso. Será um samba de uma nota só", disse Cunha.
"Uma reforma da Previdência é uma tarefa política difícil em qualquer lugar do mundo. No Brasil, você tem alguns ingredientes a mais. Você tem um governo recém-eleito e sem experiência administrativa. Vamos ver como será a habilidade política desse novo governo", afirmou.
Governo vai se entender com deputados?
Uma das principais preocupações dos investidores é justamente em relação à capacidade do governo de Jair Bolsonaro em se articular politicamente e conseguir os 308 votos necessários para aprovar a reforma na Câmara em duas votações e depois passar pelo Senado.
Os atritos entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia levaram à piora do mercado no fim de março. Maia é visto pelo mercado como peça-chave na estratégia do governo para conquistar os votos necessários para aprovação da reforma na Câmara.
"Grande parte da queda do mercado em março foi provocada por questões políticas. O mercado passou a embutir no preço dos ativos o risco de a reforma não ser aprovada por falta de habilidade política do governo", disse Peretti.
Riscos, como Tigrão e Tchuthuca, são imprevisíveis
Após uma trajetória de valorização que levou o Ibovespa a testar a marca histórica dos 100 mil pontos e acumular ganho de quase 14% neste ano, a Bolsa mergulhou quase 9% nas duas últimas semanas de março e encerrou o mês praticamente no mesmo nível em que começou, com recuo de apenas 0,18%. O dólar, por sua vez, avançou 4,32% em março, para R$ 3,915, depois de registrar picos na casa dos R$ 3,96.
Nos primeiros dias de abril, a Bolsa voltou a se recuperar, enquanto o dólar recuou, reagindo à aparente conciliação entre Bolsonaro e Maia. Mas, um novo mal-estar político, desta vez envolvendo o ministro da Economia, Paulo Guedes, mostra que os próximos meses estão longe de serem tranquilos para o investidor.
Guedes foi chamado de "Tchutchuca" da "turma mais privilegiada do país" pelo deputado da oposição Zeca Dirceu (PT-PR), durante sessão da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara para discutir a reforma.
"Não descartamos mais volatilidade nos próximos meses, como vimos em março. O caminho para a aprovação da reforma será tortuoso", disse Peretti.
Reforma ideal ou possível?
Outro foco de atenção do mercado está nas prováveis alterações que serão feitas pelo Congresso em cima da proposta apresentada pelo governo. A expectativa do ministro Paulo Guedes é gerar uma redução de gastos nas contas públicas da ordem de R$ 1 trilhão nos próximos dez anos se a reforma for aprovada na íntegra.
No entanto, para os especialistas do mercado financeiro, a proposta certamente sofrerá emendas e será "desidratada", ou seja, a economia gerada pela reforma será bem menor do que a prevista pelo governo.
Mercado já prevê menos economia com reforma
"Na média, o mercado espera algo entre R$ 700 bilhões e R$ 800 bilhões de corte de gastos em dez anos. Nós trabalhamos com um número um pouco menor, em torno de R$ 615 bilhões", disse Peretti, do Santander.
"As duas perguntas são: Quando a reforma vai passar e quanto será a redução de gastos nas contas públicas. Não há dúvida de que vai ter desidratação da proposta. É normal", declarou Cunha, da XP.
"Nós acreditamos que as duas votações na Câmara devem acontecer até meados de junho. As chances de aprovação tendem a diminuir no fim desse mês por causa das festas juninas, quando muitos deputados do Nordeste deixam Brasília e retornam para suas bases eleitorais", disse Cunha.
O que pode dar errado?
A demora na aprovação e o enxugamento excessivo da proposta são os dois fatores que mais preocupam o mercado. No cenário mais pessimista, uma eventual rejeição da proposta colocaria um alto grau de incerteza sobre a sustentabilidade das contas públicas a longo prazo.
"Enquanto a reforma não for aprovada e não ficar claro qual será o tamanho do facão que vai passar, o mercado ficará muito agitado. Um corte de gastos inferior a R$ 500 bilhões em dez anos certamente vai causar ruído", afirmou Macedo, da Easynvest.
"O governo está certo em dar celeridade à reforma. Se ela demorar para sair, você pode ter um ciclo vicioso que vai prejudicar ainda mais a recuperação da atividade econômica, que já está lenta. Uma economia fraca pode minar a popularidade do presidente e reduzir as chances de aprovação da reforma", declarou Cunha.
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