O inventor suíço que criou um império bilionário a partir do caldo Maggi
No final do século 19, algumas práticas "místicas" estavam muito populares, como espiritualismo, telepatia e clarividência. O suíço Julius Maggi (1846-1912) não estava imune à tendência de tentar descobrir os mistérios do "além".
Numa época de grandes invenções, como o automóvel, o cinema, o telefone e o avião, o empreendedor suíço (descendente de italianos) instalou uma fábrica de farinha de trigo no povoado de Kemptthal, perto de Zurique.
Impulsionado pela ideia de criar produtos, Maggi começou a experimentar fórmulas alimentícias que ajudam a explicar as grandes mudanças sociais e econômicas geradas pela Segunda Revolução Industrial na Europa.
Como cada vez mais mulheres trabalhavam nas fábricas, o empresário se deu conta de que os hábitos de alimentação e consumo da classe trabalhadora também estavam mudando a passos largos.
Maggi então desenvolveu primeiro farinhas feitas de ervilhas e feijões. Mais tarde, em 1885, ele lançou sopas instantâneas e, um ano depois, lançou seu primeiro concentrado de condimentos em formato líquido - era usado como base para fazer sopas e molhos, segundo o acervo da Nestlé (empresa que comprou a Maggi em 1947).
Buscando novas fórmulas, o suíço elaborou sopas inusitadas para a época, como uma de curry e outra que seria batizada de "sopa de tartaruga", além de um tempero com sabor de trufa.
Até que, finalmente, no começo do século 20, Maggi comercializou o concentrado de caldos em formato de cubo - produto que se tornaria o mais famoso da empresa.
No entanto, como ocorre com diversas invenções famosas, a criação do caldo Maggi é tema de debate. Alguns historiadores atribuem a invenção ao francês Nicolás Appert, no século 18 - ele teria criado o alimento para os soldados de Napoleão. Outros pesquisadores afirmam que o autor da criação é o alemão Justus von Liebig.
De todo modo, os famosos caldos Maggi, com suas cores amarelo e vermelho, são vendidos nos supermercados até hoje.
Atualmente, o império Maggi é uma marca que conseguiu entrar na cozinha de casas de todo o mundo por meio de seus produtos: caldos concentrados, sopas, temperos, molhos ou macarrão instantâneo.
A empresa vende mais de 7.000 produtos (considerando todas as variedades e tamanhos) em 98 países. Para isso, continua usando uma estratégia de preços baixos para chegar a uma maior quantidade de consumidores possível.
Uma marca global
A marca se expandiu por todo o mundo desde seu início. Graças a fatores como a colonização europeia, os movimentos migratórios e os tratados de livre comércio entre os países, os produtos Maggi se tornaram populares de forma muito rápida, especialmente na África e na Ásia.
Na América Latina, eles são usados em receitas familiares do México ao Brasil - e em muitos lugares, os cubos, conhecidos como caldo Maggi, fazem parte de uma grande variedade de receitas.
"As pessoas colocam o caldo em quase tudo: ele serve para temperar carnes e arroz. Alguns acrescentam o caldo Maggi na cerveja michelada (um drink mexicano)", diz Alberto Nájar, correspondente da BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, no México.
Os consumidores acreditam que o produto é saboroso, rápido de usar e relativamente barato.
Na década de 1930, os alimentos da Maggi cruzaram a fronteira da China. Nos anos 1970, os primeiros pacotes de macarrão da empresa chegaram à Malásia e, logo depois, entraram na Índia - onde formaram um império.
Eles também chegaram aos mercados da África do Sul, Ucrânia e Nova Zelândia - e assim avançaram por quase todos os cantos do planeta.
Embora pertençam a uma única marca, os produtos são projetados para se adaptar aos gostos locais em diferentes mercados - talvez seja essa uma das chaves que ajudam a entender seu sucesso comercial.
"Criamos receitas que satisfazem os gostos locais", disse Nelson Pena, presidente da Baking Global Foods, da Nestlé nos Estados Unidos. "Sempre que possível, selecionamentos ingredientes locais que geram um sabor autêntico, como ervas e especiarias."
Protestos contra a Maggi
A expansão da companhia não ocorreu sem que problemas graves acontecessem.
Em 2015, depois que testes do governo mostraram altos níveis de chumbo no macarrão vendido pela empresa, os consumidores da Índia foram às ruas para protestar, queimando produtos da marca.
A crise se estendeu por vários meses, desembocando em uma proibição da venda de produtos Maggi em todo o país. A Nestlé retirou do mercado milhares de toneladas de alimentos, ainda que a empresa insistisse que as análises do governo estavam equivocadas.
No final daquele ano, o Supremo Tribunal da Índia pôs fim à proibição da venda dos produtos, depois de eles serem aprovados em novos testes de qualidade.
O incidente teve repercussão na África Oriental, onde uma cadeia de supermercados retirou temporariamente macarrão no Quênia, Uganda, Tanzânia, Ruanda e Sudão do Sul, em meio a preocupações com a segurança do produto.
Apesar dessa crise, a Maggi continua crescendo e tem entre seus principais mercados a própria Índia, Alemanha, África Ocidental, Oriente Médio e o Brasil, o maior consumidor dos produtos da empresa na América Latina.
Atualmente, a marca está empenhada em um plano de renovação de seu portfólio de produtos até 2020. Segundo a empresa, a ideia é "remover ingredientes que os consumidores não reconhecem facilmente e adicionar mais substâncias que as pessoas se identificam".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.