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Por que a Venezuela está lançando novas cédulas de sua combalida moeda

Novas notas de bolívares emitidas na Venezuela - Banco Central da Venezuela/Divulgação
Novas notas de bolívares emitidas na Venezuela Imagem: Banco Central da Venezuela/Divulgação

Guillermo D. Olmo

BBC News Mundo em Caracas

13/06/2019 18h21

A combalida moeda da Venezuela tem, desde esta quinta-feira, 13, novas cédulas.

O Banco Central da Venezuela anunciou que as novas cédulas - de 10 mil, 20 mil e 50 mil bolívares - entrarão em circulação para "complementar e otimizar o atual plano monetário" e "suprir as demandas da economia nacional".

Até agora, a nota mais alta era de 500, muito longe das altas denominações que serão impressas nas novas cédulas, e cujo valor caiu por causa da agressiva subida dos preços. É inferior a 8 centavos de dólar.

A nova cédula de 10 mil bolívares corresponde a US$ 1,6; a de 20 mil, a US$ 3,2; e a de 50 mil, a US$ 7,9.

São valores baixos que, segundo a maioria dos especialistas, refletem a grande fraqueza da moeda venezuelana, constantemente depreciada pela hiperinflação, superior a 130.000% em 2018, de acordo com dados do próprio Banco Central da Venezuela.

Por que agora?

Não se passou nem um ano desde que, em agosto de 2018, as autoridades venezuelanas introduziram um novo plano monetário em que eliminaram 5 zeros das cédulas do bolívar, que haviam perdido tanto valor que o preço de produtos de consumo cotidiano alcançava milhares, às vezes superava o milhão.

Agora, o Banco Central intervém de novo, segundo divulgou em nota para a imprensa, para "tornar mais eficiente o sistema de pagamentos e facilitar as transações comerciais".

Asdrúbal Oliveros, da consultoria Ecoanalítica, diz acreditar que "o problema de fundo continua sendo a hiperinflação", uma opinião compartilhada pela maioria dos analistas.

Óscar Forero, economista que se define como chavista, diz que a nova medida "confirma que o banco Central prevê um crescimento maior da hiperinflação".

Já o presidente da consultora Datanálisis, Luis Vicente León, diz que as "novas cédulas de alta denominação procuram resolver o problema operacional causado pela perda de valor da moeda".

Na Venezuela, os bolívares perdem valor todos os dias, e os bancos só dão quantidades muito pequenas, totalmente insuficientes para os gastos de um dia na economia hiperinflacionária. Desse modo, até as coisas mais simples como um suco ou um pão precisam ser pagas com cartão ou, às vezes, por transferência bancária.

O bolívar tem tão pouco crédito que em muitos lugares não é nem aceito como forma de pagamento.

Em Táchira, zona fronteiriça com a Colômbia, por exemplo, predomina o peso colombiano, enquanto que nas zonas de fronteira com o Brasil, as transações são com o real.

Oliveros afirma que, com a nova medida, o Banco Central está tentando "economizar com o custo de fabricação das notas, por isso a diferença tão grande entre a nota mais alta até agora (500) e a nova, imediatamente mais alta (10 mil)".

Isso deveria ajudar o problema da escassez de notas, com que os venezuelanos sofrem há anos e é especialmente grave nas áreas do interior de país, onde muitos já foram obrigados a voltar ao escambo.

As novas notas darão resultado?

Oliveros diz que as novas notas darão "um respiro ao problema do dinheiro vivo nos próximos meses, provavelmente até o final do ano".

Ele e outros economistas detectaram nos últimos tempos uma mudança na política econômica do governo de Nicolás Maduro, questionado por muitos dentro e fora da Venezuela, entre outras razões, por sua gestão da economia, que foi reduzida a quase metade desde que ele sucedeu o presidente Hugo Chávez em 2013 - os dados foram confirmados pelo Banco Central há poucos dias, depois de anos sem publicar cifras macroeconômicas.

Maduro sustenta que os problemas do bolívar são resultado de manobras especulativas contra ele pelos Estados Unidos e a Colômbia.

Segundo ele, a Venezuela sofre um "bloqueio criminoso", impulsionado pelo "império americano", com que o Executivo colombiano colaboraria.

Nos últimos meses, seu governo tem feito mudanças que nunca foram vistas desde que a Venezuela adotou o socialismo da chamada "revolução bolivariana" e que se interpretam como passos até a ortodoxia que distintos observadores vêm pedindo há anos, como a aplicação de medidas de controle de preços, entre outros.

A pergunta que todos se fazem na Venezuela é quanto tempo demorará para a hiperinflação consumir o valor das notas, como aconteceu com suas antecessoras.

Para Forero, "enquanto não se aplicarem medidas para deter a inflação, o Banco Central terá de seguir imprimindo novas notas, cada vez de maior valor, para logo, como uma roda, voltar a outra reconversão monetária, talvez no primeiro semestre do ano que vem".

Se o prognóstico se cumprir, será a segunda reconversão em menos de dois anos.

Segundo León, a chave é que "o valor da moeda não tem nada a ver com sua denominação, nem com os zeros que tirarmos nem que colocamos". Tem a ver, diz ele, com a confiança que os agentes econômicos tenham nas autoridades monetárias e a política oficial. "Nesse momento, a confiança é zero... como o valor do bolívar."

Entenda a crise na Venezuela

TV Folha