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Apreensão de petroleiro britânico pelo Irã agrava crise no Estreito de Ormuz

20/07/2019 08h51

A crescente tensão entre Irã e Estados Unidos no Estreito de Ormuz, por onde é escoado quase um terço da produção global de petróleo, trouxe para o centro da crise mais um país: o Reino Unido.

Forças de segurança iranianas apreenderam nesta sexta-feira (20) um petroleiro de bandeira britânica na região do Golfo, ação classificada pelo ministro das Relações Exteriores britânico, Jeremy Hunt, como um caminho "perigoso", "ilegal" e "desestabilizador".

O Irã, que teve um petroleiro detido por britânicos no início deste mês sob acusação de desrespeitar sanções europeias ao envio de petróleo para a Síria, afirmou que houve "violação de regras marítimas internacionais" quando o petroleiro colidiu com um barco de pesca local na região.

Apreendido em seguida à colisão pela Guarda Revolucionária Iraniana, o Stena Impero foi cercado por quatro navios e um helicóptero antes de ser conduzido para águas iranianas.

Hunt defendeu que "a liberdade de navegação deve ser mantida" e alertou para "sérias consequências" se a situação não for resolvida rapidamente. "Não estamos avaliando opções militares. Estamos buscando uma maneira diplomática para resolver esta situação", disse Hunt, que fez menção no Twitter à detenção do petroleiro iraniano por forças britânicas no início do mês.

Outro petroleiro - de bandeira libanesa e propriedade britânica- , o MV Mesdar, também foi abordado por guardas armados, mas foi libertado ainda na sexta.

Os proprietários do Stena Impero disseram ter cumprido todos os regulamentos, além de estarem em águas internacionais quando foram abordados.

Segundo eles, não há feridos entre os 23 tripulantes, que são indianos, russos, letões e filipinos.

O governo britânico alertou embarcações do país a se manterem afastadas da região.

O que antecedeu esse acirramento?

Os últimos acontecimentos ocorrem em meio à deterioração das relações entre Irã, Estados Unidos e Reino Unido.

As tensões aumentaram drasticamente desde abril, quando Washington endureceu as sanções que havia imposto a Teerã após a retirada unilateral do acordo nuclear de 2015.

As receitas obtidas com a venda de petróleo são vitais para a economia do Irã, e desde a volta dos embargos, as exportações iranianas do recurso caíram de 2,5 milhões de barris por dia para 800 mil.

No mês seguinte, os americanos culparam os iranianos por ataques a navios-tanque nessa importante área de navegação do mundo. O Irã nega todas as acusações, e fala em violação de seu território e de regras marítimas internacionais.

Em junho, um drone americano foi derrubado na região por forças de segurança iranianas, e o caso quase levou a uma retaliação militar dos EUA. As duas partes divergem se a aeronave estava ou não em espaço aéreo do Irã. Nesta sexta-feira, foi a vez dos americanos abaterem um drone iraniano no Golfo.

O governo britânico e outras potências europeias tentam manter de pé por vias diplomáticas o acordo nuclear abandonado pelos EUA e gradativamente interrompido pelo Irã, que restringe as atividades nucleares iranianas em troca do relaxamento das sanções econômicas.

O embaixador do Irã nas Nações Unidas (ONU), Majid Takht-Ravanchi, afirmou que seu país continuará a exceder os limites permitidos para o enriquecimento de urânio, a menos que a Europa apresente alguma forma de compensar as perdas econômicas provocadas pelas sanções americanas.

Em julho, o Reino Unido acabou envolvido diretamente na crise EUA-Irã quando militares britânicos ajudaram a apreender o petroleiro iraniano Grace 1 em Gibraltar, território britânico na península Ibérica reivindicado pela Espanha.

A suspeita é que os barris de petróleo estavam sendo transportados para a Síria, o que seria uma violação das sanções europeias contra o regime de Bashar al Assad. O Irã fala em pirataria e acusações infundadas.

Por que a tensão no Estreito de Ormuz pode fazer disparar o preço do petróleo

O Golfo de Omã fica em uma das extremidades do estratégico Estreito de Ormuz, canal que conecta o Golfo Pérsico e o Oceano Índico.

Em seu ponto mais apertado, o canal mede cerca de 33 quilômetros de largura. Mas, na realidade, a largura das rotas de navegação, por onde passam as embarcações, é de apenas três quilômetros, em qualquer direção.

Mais de 30% da produção mundial de petróleo é escoada pelo estreito, e qualquer evento ali se reflete no preço da gasolina e na economia do mundo todo.

A importância do Estreito de Ormuz é óbvia, segundo Rockford Weitz, diretor de Estudos Marítimos da Universidade de Tufts, em Massachusetts, nos Estados Unidos. Ele desempenha um papel central no escoamento de um terço do petróleo consumido diariamente no mundo, e o eventual fechamento do canal poderia fazer os preços do barril de petróleo subirem entre US$ 150 e US$ 200, mas seu impacto não se restringiria a isso.

"Além dos fluxos de petróleo, também interromperia as importações marítimas nos países do Golfo, incluindo seus principais portos, como Dubai. Dado que mais de 90% do comércio mundial é feito por via marítima, acabaria resultando em escassez de oferta nos países do Golfo - e, portanto, no aumento dos preços de produtos importados", opina Weitz.

De acordo com Richard Baffa, especialista em Irã da RAND Corporation, think tank (centro de pesquisa e debate) ligado às Forças Armadas americanas, cerca de 17,5 milhões de barris de petróleo bruto passam por ali todos os dias.

"Se o Irã fechar o estreito, independentemente de por quanto tempo, terá um impacto enorme no mercado energético mundial, assim como nas economias dos estados do Golfo, que poderiam sofrer inclusive instabilidade política no longo prazo", avalia Baffa.

Para evitar um bloqueio dessa natureza, a Marinha americana reativou, em 1995, sua Quinta Frota para vigiar as águas do Golfo Pérsico.

Desde então, foram feitas sucessivas ameaças de fechar o estreito - em 2011, 2012 e 2016, quase sempre associadas à aprovação de sanções a Teerã por parte de Washington.


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