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Inflação: como alta de preços está atingindo o Brasil e outros países

Quebra de safras, a pandemia e uma escassez de gás natural estão entre os motivos por trás da carestia - Shutterstock
Quebra de safras, a pandemia e uma escassez de gás natural estão entre os motivos por trás da carestia Imagem: Shutterstock

Da BBC News Brasil

21/01/2022 18h55

O custo de itens básicos, como alimentos e combustíveis, está em alta em todo o mundo.

Quebra de safras, a pandemia e uma escassez de gás natural estão entre os motivos por trás da carestia, mas alguns países e regiões estão sofrendo mais do que outras.

Confira como a alta de preços está afetando a África Subsaariana, a Turquia, o Sri Lanka e também o Brasil.

África Subsaariana

A África Subsaariana é a região do continente africano ao sul do deserto do Saara. A área compreende 46 países, muitos deles os mais pobres do mundo.

Na região, é comum o uso do GLP (gás liquefeito de petróleo, mais conhecido como gás de botijão) como principal combustível para cozinhar. No entanto, os preços do GLP estão em forte alta.

Em algumas regiões da Nigéria, o preço do gás de cozinha nas distribuidoras mais do que dobrou no último ano, segundo o órgão estatístico oficial do país.

Com isso, muitas pessoas estão recorrendo à lenha, ao carvão ou a combustíveis mais baratos e poluentes como o querosene. Isso não só é danoso ao meio ambiente, como é prejudicial à saúde de quem cozinha.

A alta nos preços do petróleo também aumentou o custo dos fertilizantes e o valor de transporte dos alimentos do campo às lojas e mercados.

A seca afetou colheitas em diversos países africanos, segundo o Observatório da Terra da Nasa (agência espacial americana). Isso também contribuiu para a inflação.

Em Angola, o preço dos alimentos subiu 36,4% no último ano, segundo o Instituto Nacional de Estatística do país.

A ONU estima que há 282 milhões de pessoas desnutridas na África atualmente.

No Malaui ? país que fica no sudeste da África, próximo a Moçambique ?, a alta do custo de vida levou recentemente a grandes protestos contrários ao governo.

Turquia

Em dezembro, milhares de pessoas protestaram em Istambul e na cidade de Diyarbakir, no sudeste do país, contra o aumento do custo de vida.

A inflação subiu 36% no ano passado, de acordo com o Instituto de Estatística da Turquia (TSI). Os preços dos alimentos subiram 44% ao longo do ano e 14% apenas no mês de dezembro.

Em Istambul, milhares de pessoas fazem fila para comprar pão em padarias estatais, onde os preços são subsidiados, porque não conseguem comprar pão nas padarias privadas.

Os preços do pão subiram em parte por causa do aumento de preço dos combustíveis e dos fertilizantes, mas também porque o governo turco aumentou o preço mínimo do trigo e da cevada para melhorar a renda dos agricultores.

E não é só a comida que está ficando mais cara. De acordo com o TSI, as tarifas de ônibus, trens e balsas aumentaram mais de 50% em 2021. As contas de luz e gás subiram 50% e 25%, respectivamente.

Os governos geralmente tentam controlar a alta de preços aumentando a taxa de juros. Isso dificulta o empréstimo de dinheiro e reduz a circulação de divisas.

No entanto, o presidente da Turquia, Recep Erdogan, se recusou a fazer isso, dizendo que as altas taxas de juros são "um mal que torna os ricos mais ricos e os pobres mais pobres".

No ano passado, o presidente ordenou que o banco central da Turquia reduzisse as taxas de juros. Isso fez com que a lira turca de desvalorizasse 45% em relação ao dólar e elevou o preço dos produtos importados.

A resposta do governo à inflação foi aumentar o salário mínimo em 50%.

O economista Ozlem Derici Sengul, sócio-fundador da Spinn Consulting em Istambul, alerta que a inflação na Turquia chegará a 50% até a primavera ? que no país vai de março a junho.

O banco de investimentos Goldman Sachs prevê que subirá entre 40% e 50%.

Brasil

No Brasil, a inflação está em alta de mais de 10% ao ano e os combustíveis subiram 50%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os preços dos alimentos subiram 14% no ano passado, com uma seca severa causando aumento de preços de alimentos básicos, como arroz e feijão, bem como da ração animal.

O Brasil tem o maior rebanho bovino do mundo. Mesmo assim, os preços da carne aumentaram tanto no ano passado que 67% da população declara ter reduzido o consumo do produto, segundo pesquisa do instituto Datafolha.

O custo da energia elétrica também aumentou devido à seca.

As usinas hidrelétricas, que geram a maior parte da energia do país, tiveram que parar de produzir por falta de água, sendo substituídas por termelétricas.

Isso fez com que as tarifas de eletricidade doméstica aumentassem fortemente no ano passado, segundo o IBGE.

O padrão de vida no Brasil está em seu pior momento desde 2012. A Fundação Getulio Vargas estima que 27,7 milhões de pessoas, da população total de 213 milhões, vivem abaixo da linha de pobreza, com uma renda de R$ 261 por mês.

Sri Lanka

Os alimentos no Sri Lanka subiram mais de 20% em relação a um ano atrás, de acordo com o índice oficial de inflação do país, porque o Estado insular tem enfrentado dificuldades para financiar a importação de itens essenciais.

A pandemia de covid-19 fez com que, durante dois anos, o Sri Lanka não conseguisse gerar as receitas que normalmente consegue com o turismo. Como resultado, suas reservas em moeda estrangeira caíram muito.

O governo teve que restringir as importações de alimentos porque os bancos comerciais estão ficando sem moeda estrangeira para pagar por eles.

Isso produziu escassez nos mercados e aumentos acentuados de preços para muitos produtos básicos, como arroz, farinha de trigo e leite em pó.

O gás de cozinha teve uma alta de preço de 85% no ano, segundo o índice oficial de inflação.

Para acalmar o crescente descontentamento da população, o governo lançou um pacote de ajuda de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,45 bilhões) ? incluindo reajuste salarial e de aposentadorias para funcionários do governo.

Também retirou impostos sobre alguns alimentos e remédios e anunciou uma política de transferência de renda para seus cidadãos mais pobres.


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