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Caminho até a chefia na Nestlé costuma demorar três décadas

Corinne Gretler

10/11/2014 11h48

10 de novembro (Bloomberg) - A última vez em que a Nestlé escolheu uma pessoa de fora como diretor-executivo, a maior fabricante de alimentos do mundo estava tentando se recuperar da sua primeira --e única-- perda anual.

Foi em 1922 e, desde então, a empresa suíça preferiu passar anos treinando a gestão para o cargo mais alto.

Uma reorganização ocorrida em outubro posiciona agora duas pessoas de dentro para ocupar o cargo de diretor-executivo quando o líder atual, Paul Bulcke, for embora.

Desde que contratou Louis Dapples, um banqueiro, para reestruturar os negócios após a perda, o planejamento de longo prazo para sucessões tem sido uma base da estratégia da companhia. O padrão criou uma cultura de estabilidade que, segundo os investidores, permite que a Nestlé dê continuidade a decisões em épocas desafiadoras.

Um exemplo foi o apoio ao sistema de café Nespresso durante uma infância problemática, antes que ele se tornasse uma estrela da linha de porções individuais e um dos produtos mais vendidos.

"A gestão de bons talentos vale ouro", disse Urs Beck, gerente de fundos da EFG Asset Management em Zurique. "A Nestlé conserva energia por não misturar um excesso de sangue novo em uma operação que funciona perfeitamente".

Quando o presidente Peter Brabeck-Letmathe sair do cargo em 2017, a tradição ditaria que Bulcke o sucedesse, o que deixaria sua posição aberta para a dupla que ganhou notoriedade na reforma do mês passado: Chris Johnson, 53, responsável pela tarefa de organizar um programa de eficiência global, e Laurent Freixe, 52, incumbido das operações na América do Norte e do Sul.

Seis presidentes do conselho antes de Brabeck ocuparam antes a cadeira de diretor-executivo da empresa. Brabeck sairá do seu cargo quando chegar à idade de aposentadoria obrigatória da empresa. A preferência por talentos internos é inerente à companhia, que só procura candidatos de fora para 20% das vagas administrativas.

Crenças

A desvantagem de tal confiança é continuar apoiando algo durante um tempo excessivo, como sugeriu Bulcke no ano passado.

"Éramos uma empresa que realmente acreditava nos próprios produtos, mas às vezes a crença pode cegar", disse Bulcke aos investidores em uma entrevista coletiva no ano passado, e acrescentou que a Nestlé passaria cada vez mais a considerar a venda de empresas que tenham um rendimento inferior ao esperado.

Ele honrou suas palavras. A Nestlé foi dona da marca de nutrição esportiva PowerBar durante 14 anos e manteve os serviços de emagrecimento Jenny Craig por sete antes de vendê-los por não conseguir dar-lhes impulso.

Ambas as aquisições tinham sido cruciais para a estratégia de nutrição de Brabeck. A empresa conservou a unidade de refeições congeladas nos EUA, que inclui marcas como a Lean Cuisine, embora as vendas tenham caído nos últimos anos.

O histórico recorde de planejamento para que as sucessões sejam tranquilas destaca a Nestlé das concorrentes.

No ano passado, a Procter Gamble trouxe A.G. Lafley para um segundo período como diretor-executivo depois que seu predecessor não conseguiu um crescimento suficiente das vendas. Em 2008, a Unilever fez uma busca fora da empresa para contratar Paul Polman.

Trinta anos

Johnson e Freixe são os candidatos favoritos porque ambos estão seguindo o caminho de Bulcke, revezando-se no gerenciamento da maior região da empresa, segundo analistas. Cada um dos últimos três diretores-executivos trabalhou durante quase 30 anos na Nestlé antes de ser nomeado. Freixe e Johnson já cumpriram esse período.

Os investidores nem sempre gostaram das escolhas isoladas de diretor-executivo feitas pela Nestlé. As ações caíram 3,6% no dia em que Bulcke, que começou como estagiário em 1979, foi nomeado para a chefia. Os analistas esperavam que o sucessor fosse Polman, que tinha saído da P&G para entrar na Nestlé. A Unilever contratou Polman um ano depois, e as ações da Nestlé subiram 38% desde que Bulcke tomou posse oficialmente.

Embora Bulcke não tenha indicado que pretende sair num futuro próximo, há mais probabilidades de que ele seja sucedido por um veterano experiente que passou mais de metade da vida na Nestlé para ajudar a empresa a navegar pelo mercado.

"A gestão interna dá liberdade à Nestlé para que ela se concentre em suas próprias convicções, sem se preocupar com pressões no curto prazo", disse Jean-Philippe Bertschy, analista do Bank Vontobel.