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Com queda do petróleo e operação Lava Jato, Macaé (RJ) entra em decadência

Anna Edgerton e Christiana Sciaudone

03/02/2015 13h30Atualizada em 31/03/2015 17h31

(Bloomberg) -- Maria Viana checa as mensagens todos os dias para ver se mais algum estudante se cadastrou para suas aulas de inglês na cidade de Macaé, no Rio de Janeiro. Os pais ainda estão telefonando, mas é mais provável que seja para cancelar a participação dos filhos do que para inscrevê-los.

A antes próspera Macaé --chamada, no setor, de capital do petróleo do Brasil-- está sofrendo com a queda dos preços do petróleo e com a operação Lava Jato, que investiga denúncias de corrupção na Petrobras. Isso está levando a empresa petrolífera administrada pelo Estado e algumas das empresas que prestam serviços a ela a cortarem gastos.

Caminhar por essa cidade de 230 mil habitantes dá uma ideia da ascensão e da queda do Brasil. A economia de Macaé, onde quase metade das empresas depende do setor petrolífero, se multiplicou por sete em uma base nominal na década até 2012, quando o Brasil surfava a onda das commodities e dos mercados emergentes, segundo números do IBGE. Agora que ambas as coisas vão mal, o mesmo acontece com a boa sorte de Macaé.

"Todo mundo está em pânico", disse Viana. "Nós não sabemos o que vai acontecer. Quem vai ser demitido? Quais vão ser as próximas empresas a entrarem com pedido de recuperação judicial?".

O programa de imersão no inglês de Viana é tudo o que restou da International School of Macaé, aberta em 2005 e fechada sete meses atrás no meio do ano letivo porque as empresas começaram a demitir funcionários ou transferi-los para o exterior.

Queda do preço do petróleo afeta do México à Dinamarca

As dificuldades de Macaé são as mesmas que estão prejudicando cidades petroleiras ao redor do mundo, do México à Dinamarca, depois que o preço do petróleo caiu mais de 50% em julho.

No México, os esforços da produtora de petróleo estatal Pemex para economizar até US$ 3 bilhões neste ano em aquisições e taxas contratuais fez com que vários milhares de trabalhadores terceirizados perdessem seus empregos, segundo uma câmara empresarial local. A Royal Dutch Shell disse no dia 14 de janeiro que cancelou um projeto de US$ 6,5 bilhões no Catar e a Schlumberger disse no dia 16 de janeiro que estava demitindo cerca de 9.000 pessoas.

A cerca de 190 quilômetros a nordeste da cidade do Rio de Janeiro, Macaé serve de base para a exploração dos campos de petróleo offshore na bacia de Campos. A área responde por cerca de 80% da produção da Petrobras e gerou 97 mil empregos diretos e indiretos no ano passado, disse a Petrobras em uma resposta a perguntas por e-mail.

O número total de plataformas offshore em operação no Brasil caiu de 58 há um ano para 46 hoje, segundo dados compilados pela Bloomberg. A Transocean atualmente tem seis plataformas em operação no Brasil, contra nove em 2012, e a Brasdril, a unidade local da Diamond Offshore Drilling, passou de 13 para 6, segundo relatórios das frotas. Ambas as empresas preferiram não comentar após fornecerem informações disponíveis publicamente.

"Nós sempre temos esperança de que as empresas venham para ficar, mas elas dependem em grande parte dos contratos com a Petrobras", disse o secretário de Planejamento de Macaé, João Manuel Alvitos Garcia, em entrevista. "Quando esses contratos terminam e não são renovados, obviamente essas empresas buscam outros mercados".

Ele disse que os royalties do petróleo para a cidade poderiam chegar neste ano à metade dos R$ 576 milhões recebidos em 2014.

A Petrobras disse em um comunicado de resultados na semana passada que poderá vender US$ 3 bilhões em ativos neste ano. O preço dos contratos futuros refletirá a queda nos preços do petróleo, disse a empresa em resposta a questões por e-mail.

Sinais de alerta

O primeiro indicativo de uma desaceleração veio em meados de 2013, quando a Petrobras começou a mudar os recursos da exploração para a perfuração, que exige menos trabalhadores, segundo Vandré Guimarães, secretário de desenvolvimento econômico da cidade.

Com apenas 45 das 11 mil empresas que operam em Macaé representando 80% do imposto de renda coletado, a cidade está se preparando para um 2015 magro.

As matrículas na International School of Macaé tiveram um pico em 2013, com 45 estudantes dos EUA, Argentina, França e México, entre outros países. Agora, a maioria foi embora e se os tempos não melhorarem, Viana, a coordenadora da escola, disse que poderia ir embora também. O irmão dela recentemente perdeu o emprego no setor offshore e ela está preocupada que o marido, que trabalha em uma plataforma, possa ficar desempregado em breve.

"A cidade estava cuspindo dinheiro" durante os anos de prosperidade, disse ela. "Era a cidade de ouro".